Por NÉLIO PALHETA, jornalista
Nesta altura do campeonato eleitoral – e nunca
como antes se deu em outra eleição - as pesquisas tornaram-se instrumentos de
mistificação de candidatos e nebulização de discursos. Tudo que se diz numa
campanha eleitoral passa pelas pesquisas e, assim, as propostas acabam sendo
pulverizadas, literalmente. Com base nas pesquisas, já constatamos quanto
candidatos falsos já engolimos por terem sido mistificados, na expressão exata
do vocábulo. Ou quantos candidatos verdadeiros desmentiram as pesquisas e a
imprensa.
As pesquisas viraram o não-topos político, lugar
para a “educação” (ou “civilização”) do eleitor que deveria ser, para se
tornarem filtros de vontades e idealizações alheias. Isto é, as
pesquisas deixaram de ser um lugar onde podemos entrar para avaliar, refletir,
julgar e, a partir de seus dados, decidir. Viraram o local, disputado e
esperado a cada telejornal, onde se revela a não-consciência político-ideológica.
Transformaram-se - repita-se – em mecanismos de endeusamento, mistificação e
dominação; espaço onde se pregam peças no cidadão.
“Cinco
Dias em Londres”, o excelente livro de John Lukacs sobre os movimentos
diplomáticos e miliares de Winston Churchill nos seus derradeiros momentos
antes do Dia D, revela que o primeiro ministro inglês usou os levantamentos do
Gallup para avaliar as decisões que levaram ao fim da II Guerra. A guerra que
se assiste no país, hoje, não tem nas pesquisas um só dígito de dignidade, por
serem inconfiáveis. Se a opinião pública
britânica foi suporte fundamental em 1945 – consultada no calor do medo do
nazismo, contido pelo valor das forças aliadas, principalmente da Real Força
Aérea Britânica - aqui, não influenciamos em nada por sermos massa de uma
manobra estatística reprovável.
Quem lembra do caso da Globo versus
Brizola? Foi episódio divisor de águas,
mas a imprensa anda reverberando, mais recentemente, aquilo que os políticos
mandam os institutos fazer. Será que estão certos? Os institutos, assim como a
imprensa, deveriam ser instituições independentes. Mas, qual imprensa é
independente?
Os levantamentos eleitorais parecem depreciar a
capacidade de decisão do cidadão. Somadas à propaganda também duvidosa, as
pesquisas acabam ora tolhendo ora conduzindo a decisão do cidadão. Podendo ser
livre para pensar, o eleitor é capturado na “adequação” (ou manipulação?) de
questionários e dados (que viram fatos), dependendo do caráter do político
interessado na pesquisa.
Os institutos são empresas que vendem seus
serviços. Nada errado! Mas podem ser contratados por políticos muitas vezes
interessados não exatamente na apuração científica, mas no levantamento
conforme suas necessidades. E o que não falta nesse jogo é político inescrupuloso
usando as pesquisas como meio de conduzir o eleitorado, como se este fosse uma
manada sendo tocada para o curral eletrônico da urna. Sendo ciência exata, não são exatamente as
pesquisas que induzem comportamentos individuais e coletivos, mas seu uso
conforme o calor da contenda e da tática de tornar tudo nebuloso para confundir
o nobre eleitor – a maioria tão pobre (de recursos e muitas vezes de caráter
também), entre os quais, muitos acabam vendendo o voto para comprar o almoço do
dia do pleito. E sempre há candidato com muito capital e pouca moral.
No cenário criado, a medição das intenções e
possiblidades de votos não só perturba a ordem da prática político-eleitoral
como termina criando no indivíduo incauto o esdrúxulo
sentimento de gado sendo tocado. A manada fora da qual ele se sentirá parte
sendo minoria perdedora. E ninguém quer
perder o voto!
...
O eleitorado manipulado até se criar uma nova (des)ordem (ou imoralidade)
social.
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