Não sei, sinceramente, quem é o autor dessa
frase - em verdade uma sentença que
encerra a mais profunda sabedoria.
Porque é isso mesmo: o Brasil conseguiu
politizar uma doença que mata. E porque está politizada, a doença pode matar
muito mais ainda, porque abandonam-se preceitos médicos e científicos em
proveito da prevalência de paixões político-ideológicas que não levam a nada, a
não ser tornarem-se um combustível que alimenta fanatismos e discussões
estéreis.
Vejam o que aconteceu nesta quinta-feira (30).
A Procuradoria-Geral do Município, que integra a
estrutura de governo do prefeito tucano Zenaldo Coutinho, ajuizou ação
tresloucada que, ao fim e ao cabo, pedia pura e simplesmente que a Justiça
determinasse, em decisão liminar, a suspensão do funcionamento do Hospital
Abelardo Santos, transformado em pronto-socorro pelo governador Helder
Barbalho (MDB).
O que fez Zenaldo?
Logo depois que a ação começou a repercutir
publicamente, o prefeito fez circular um vídeo em que não apenas informava
haver determinado à PGM que retirasse a ação como ainda agradeceu o aumento do
número de leitos disponíveis para Belém, conforme anunciado pelo
governador Helder Barbalho, eis que o “Abelardo Santos”, tranformado em
pronto-socorro, ajudará a minorar a situação de colapso em que se encontra o
atendimento em unidades de saúde administradas pelo município.
O gesto do prefeito foi louvável por razões várias e inequívocas.
Porque não hesitou em reconhecer um erro. Porque
não demorou em revertê-lo. Porque admitiu que diferenças políticas com o
governador não devem sobrepor-se ao interesse maior de salvar vidas. Porque
demonstrou nobreza em reconhecer que, estando o sistema de saúde do município
em colapso, toda e qualquer ajuda do estado será bem-vinda.
Tudo bem? Tudo certo? Agiu bem o prefeito?
Não.
Por quê?
Porque entrou em campo aquela refinada politização,
que de tão refinada chega a ser inacreditavelmente incompreensível e
escandalosamente desarrazoada.
Pois os refinados politicamente ignoraram a
essência da conduta do prefeito e passaram a atacá-lo porque, ora vejam só, ao anunciar
publicamente sua decisão, Zenaldo, na percepção desses refinadíssimos
apaixonados políticos, teria exposto à execração a Procuradoria Geral do
Município, que assinava a ação.
E mais: os refinados políticos também acharam
que uma peça jurídica dessa magnitude teria de ser submetida ao crivo de
Zenaldo antes de ser proposta, daí entenderem que o principal erro foi dele, e
não da PGM.
Essas críticas se parecem com aquela em que um
jogador faz um gol, mas a torcida, em vez de comemorar, põe-se a vaiá-lo
porque, antes de mandar a bola para as redes, ele trombou com zagueiros,
patinou, caiu, levantou-se e, em horríveis e desastradas coreografias, acabou
fazendo o gol.
Ou então se parecem com aquele time que
conquista um título, mas a torcida inteirinha se põe a vaiá-lo porque, durante
todo o campeonato, o novo campeão perdeu e empatou várias vezes.
Vivemos esse clima.
A politização extremada, que idiotiza e embota a capacidade de avaliação,
acaba transformando um gesto objetivamente correto como se fosse um crime.
A
que ponto chegamos, gente!