Estou há cerca de 24 horas meio, como diríamos, nocauteado por um evento desalentador, fatídico, doloroso, tenebroso. E trágico.
Porque a vida, quando é tragada de forma imprevista, inesperada, imprevisível e, de certa forma, precoce, então isso representa, sim, o desalento, o fatídico, o tenebroso, a dor. E o trágico.
Estou, aliás, estamos muitos de nós - seus familiares, colegas e amigos - dominados por aquela reação comum à que temos diante de partidas inesperadas: não consigo acreditar!
Ainda não consigo - não conseguimos - acreditar que uma amiga como ela se foi.
Tinha apenas 57 anos.
Não cito seu nome em homenagem à discrição que sempre cultivou.
Foi uma servidora pública federal exemplar.
De uma integridade ética irretocável.
Dedicada, em nível de excelência incontestável, às atribuições que lhe eram confiadas, daí porque enalteceu a credibilidade do órgão em que ingressou, por concurso público, em 1992, e onde exerceu várias atribuições de chefia.
Tinha um enorme coração.
Um coração que, mesmo enorme, não dava lugar a algo bem maior do que ele: a solidariedade para com todos.
Sua generosidade e o respeito à diversidade a levavam a trabalhar com afinco na organização de atividades que em nada tinham a ver com a fé que professava. E o fazia menos por deveres funcionais, e mais pela vontade de compartilhar, de servir e de fazer os outros se sentirem bem.
Manifestações de colegas nos grupos de zap atestam todas essas qualidades dessa alma luminosa. Porque também foram, em algum momento, destinatários de demonstrações de carinho, afeição, amizade e solidariedade.
Minha amiga contraiu Covid há cerca de três semanas e logo depois precisou ser intubada numa UTI.
No final de semana, ainda chegou a apresentar boa melhora, animando-nos a todos. Nesta segunda-feira (10), porém, não resistiu a um AVC decorrente das complicações da doença e sem ter desfrutado da ventura de ser vacinada nem mesmo com a primeira dose.
E fez-se esse vazio imenso.
Fez-se essa saudade que tem pouco mais de 24 horas, mas já é eterna.
Fez-se esse misto de dor, pela perda, e ao mesmo tempo de revolta, por termos mais de 420 mil vidas ceifadas, em meio a circunstâncias que dão lugar, não raro, ao deboche, ao desprezo e ao menosprezo à letalidade que essa doença atroz representa para todo mundo.
Fez-se essa sensação de que estamos à deriva em meio a procelas que, se não poderiam ser evitadas, poderiam pelo menos ser enfrentadas com mais segurança, mais senso de humanidade e de espírito público por parte de governantes.
Fez-se a sensação, porém, de que a luz de vida, representada por essa amiga do coração, jamais se apagará de nossa vidas.
Ao contrário, será um farol a iluminar nossos caminhos para fazermos o bem e vivermos bem.
Como ela fez e viveu.
Ela será sempre como aquele clarão imenso, que ainda reverbera mesmo quando o Sol vai se pondo.
Requiescat in pace!