Bolsonaro em silêncio: parece até que ele tem vergonha de si mesmo. Sóquinão! |
segunda-feira, 31 de outubro de 2022
O intrigante silêncio de Bolsonaro: quando está "normal", ele sempre age de forma anormal
Dos 58,2 milhões que votaram em Bolsonaro, bem-vindos os que não são e nunca foram bolsonaristas
Um apoiador de Bolsonaro: se ele for, digamos, um "conservador militante", ótimo. Se ele for um bolsonarista fanático, aí teremos que chamar Alexandre de Moraes. |
O Brasil se livrou de Bolsonaro, mas não do bolsonarismo
Lula e Alckimin, na festa da vitória: os gladiadores do bolsonarismo estão à espera |
A vitória de Lula sobre Bolsonaro, por uma diferença de 2 milhões de votos, nas eleições que se encerraram neste domingo (30), tem um significado tão singelo quanto profundo - e crucial.
O significado é: o Brasil se livrou, por enquanto, de Bolsonaro, mas não se livrou do bolsonarismo.
O Brasil se livrou de Bolsonaro porque ele é o que é, ele é o que sempre foi: um indivíduo que, abstraída a sua condição de homem público, é pessoalmente debochado, repugnante, repulsivo, misógino, homofóbico, debochado, intelectualmente próximo ao rés do chão e desprovido de básicos sentimentos de humanidade.
Mas o Brasil terá de conviver com um bolsonarismo que, convém admitir e reconhecer, está legitimado pelo processo democrático, o mesmíssimo processo democrático que bane da vida pública (pelo menos por enquanto, volto a repetir) um elemento como Jair Bolsonaro, mas garante ao conservadorismo de centro-direita o pleno direito de defender suas pautas.
Após tentarem "enterrá-lo vivo", como ele próprio lembrou em seu discurso de vitória, Lula ganhou as eleições mais disputadas das história da democracia brasileira. Mas há outro desafio bem maior à sua espera.
O desafio maior à espera de Lula é governar um País quase matematicamente dividido ao meio, se considerarmos os votos válidos colhidos após as eleições - 60,3 milhões de votos para o petista e 58,2 milhões para o oponente.
O discurso de vitória que o ex-presidente leu, prometendo buscar e governar indistintamente para todos, precisa ser transposto para a prática, precisará se manifestar de corpo inteiro na arena política.
E a arena política, meus caros, está pronta, prontíssima para que pontifiquem os gladiadores do bolsonarismo, prontos para enfrentar os dragões que forem tidos como uma ameaça a suas pautas, com sangue nos dentes e dispostos a inviabilizar, a qualquer custo, o governo de Lula.
Qual a tradução que se entrevê neste cenário? Entrevê-se o seguinte: o "nós" e "eles" não vai ser superado de uma hora para outra. Não vai, não. Ninguém se iluda de que vai acabar no dia 1º de janeiro, quando Lula tomar posse, porque não vai.
Por isso é que Lula, o "encantador de serpentes", conforme pontuou o sumido Ciro Gomes, precisará montar uma base política confiável para ter o mínimo de governabilidade. E para isso, não terá outra alternativa que não a de pescar apoios em várias frentes, incusive, ora bolas, no Centrão.
O nosso alento, como também a nossa esperança, é que a democracia brasileira resistiu às eleições mais duras, mais disputadas, polarizadas e selvagens de sua história recente. Se resistiu, demonstra dispor de musculatura suficiente para resistir ao "nós" e "eles" que vai continuar, cada vez mais extremado e excludente.
Tomara que essa resistência seja real!
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
Alexandre Machado, o bolsonarista exonerado pelo TSE, já exerceu o jornalismo. E deu causa a uma manchete histórica.
Eureka!
Eis que os delírios bolsonaristas, ao mesmo tempo em que nos provocam apreensões, revoltas e náuseas, também nos proporcionam a benfazeja oportunidade de conhecer melhor a cristalina e pura vida pregressa dos próprios bolsonaristas.
É o caso desse Alexandre Machaco, o bolsonarista - de carteirinha, com direito à disseminação de fake news - que o TSE exonerou sumariamente por indícios de que praticava assédio moral por motivação política.
Machado, descobre-se agora, não é apenas um servidor público de carreira, admitido, segundo se diz, através de concurso no TRE do Distrito Federal e cedido ao TSE, onde exercia função de confiança da qual foi exonerado.
Ele também já exerceu o jornalismo.
Como jornalista, Machado foi autor de reportagem publicada no ano 2000, portanto há mais de duas décadas, pelo Correio Braziliense, que à época tinha como diretor de Redação o jornalista Ricardo Noblat, um dos mais respeitados jornalistas do País, hoje integrante do portal Metrópoles.
A reportagem estava repleta de erros. Os erros foram tantos e tão graves que o jornal se viu forçado a publicar manchete que se tornou famosa: “O Correio errou”. Assim mesmo, em letras garrafais, como você pode ver na imagem.
A matéria que Machado escreveu tinha como título “O grande negócio de Jorge”, referência a Eduardo Jorge, secretário-geral da Presidência no então governo Fernando Henrique Cardoso.
A reportagem assinada por Machado afirmava que a empresa DBO Direct tinha contrato de R$ 120 milhões com o Banco do Brasil para testar um sistema de transmissão de dados. Dizia também que, por trás da DBO, havia uma outra empresa: a DTC, que tinha como sócio Eduardo Jorge.
Machado foi desmentido pela DTC e pelo banco, que apontaram que a empresa não possuía vínculo com a DBO, que por sua vez se chamava, na verdade, BDO e não ficava em Curitiba como afirmava a matéria, mas sim em São Paulo. Além disso, a empresa não tinha contrato com o Banco do Brasil.
Entenderam? Tudo errado. Pura fake news, que antecipava, há 22 anos, o cenário atual, em que bolsonaristas, Machado inclusive, mentem todo dia, o dia inteiro.
Então, se quiserem acreditar no "depoimento voluntário" que Machado prestou à PF, logo após ter sido exonerado, isso é com vocês.
No depoimento, como sabem, o depoente disse que desde 2018 teria alertado o TSE sobre supressões na veiculação de peças de propaganda eleitoral. Isso tudo para sustentar as "denúncias" bolsonaristas sobre suposta conspiração de emissoras de rádio para prejudicar a campanha de Bolsonaro.
Nesse contexto, e conhece melhor o indigitado Alexandre Machado, conclui-se que ele merece figurar no hall da fama dos bolsonaristas mentirosos (perdoem-nos a redundância.)
Se quiserem saber de mais detalhes da história, leiam matéria disponível no portal Jornalistas Livres.
Bolsonaristas se libertam de camisas de força e divulgam PowerPoint revelador de verdades chocantes
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
Bolsonaro já traçou o roteiro de um golpe. A denúncia sobre rádios do Nordeste é o prólogo.
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
O bandido e seu amigo "Çábio", uma ligação que deixa o bolsonarismo em êxtase. É isso mesmo?
O bandido Bob Jefferson e seu amigo, o nosso Çábio: quer dizer então que o bolsonarismo está satisfeito porque só se fala na associação entre eles. É isso mesmo que eu compreendi? |
Eu sempre aprendo - ou procuro aprender - com os bons.
Mas os bons, devo confessar, não estão conseguindo fazer com que eu compreenda uma análise, digamos assim, que circula à farta, desde ontem, nas redes sociais.
A análise - ou as impressões, ou as opiniões, sejam o que quer que forem - tem a ver com o ato terrorista de Roberto Jefferson, o amigo íntimo, o amigo-irmão, o amigo-seguidor de Jair Bolsonaro.
Dizem os entendidos que Bob fez o que fez apenas para desviar o foco de um debate que acabou atolando e metendo na lama as fuças do bolsonarismo nos últimos dias: a afirmação de Paulo Guedes de que o governo Bolsonaro estuda desindexar da inflação os aumentos mensais do salário-mínimo.
É?
Vamos formular, então, uma hipótese implausível.
Imaginemos que todos, absolutamente todo mundo, no Brasil e ao redor da Terra plana, já tivesse esquecido a mais nova e apavorante guedice.
Mas, espiem só: no lugar desse debate, hipoteticamente esquecido, surgiu um outro, o do ato terrorista, que associa violência, desrespeito às leis, apego ao armamentismo e atitudes golpistas a Jair Bolsonaro e ao bolsonarismo.
Quer dizer então que os bolsonaristas, nocauteados com a questão do salário mínimo desindexado da inflação, estão agora felicíssimos porque todo mundo esqueceu a questão econômica e só está discutindo, em dimensões tsunâmicas, simplesmente o fato de um amigo e apoiador de Bolsonaro ter lançado granadas e disparado tiros em direção a agentes da Polícia Federal, isso tudo depois de ter ofendido, de forma torpe e nojenta, uma ministra do Supremo.
É isso mesmo?
Me ajudem os bons a entender isso.
Porque, sério mesmo, não estou entendendo nada dos que os bons estão dizendo.
domingo, 23 de outubro de 2022
Bolsonaro diz, em vídeo, que Bolsonaro mandou prender Roberto Jefferson. Entenderam?
- Prisão do criminoso Roberto Jefferson. pic.twitter.com/kWYq4GqRNp
— Jair M. Bolsonaro 2️⃣2️⃣ (@jairbolsonaro) October 23, 2022
Sinceramente, eu nunca passo imune a uma fala de Bolsonaro.
Normalmente, ela me comove - pela precisão, exatidão, verdade, limpidez e pela clareza dos argumentos.
Assistam a esse vídeo que boiou há pouco mais de meia hora no perfil do nosso Çábio no Twitter.
Ele diz, ouçam vocês mesmos: "Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso".
Agora sabemos a verdade: foi Bolsonaro, e não o ministro Alexandre de Moraes, quem mandou prender o bolsonarista sociopata que agora Bolsonaro chama, da boca pra fora, de bandido.
Viram?
Quando a gente diz que Bolsonaro, até quando mente, ele só diz a verdade, muitos acham que não passa de perseguição de comunista!
Pois é!
Jornalista é agredido por bolsonaristas: "Ave Roberto Jefferson, morituri te salutant!"
A Polícia Federal acaba de prender o sociopata Roberto Jefferson.
O jornalismo que transmitia, ao vivo, a tentativa da PF de prendê-lo, informou que as imediações da casa dele estavam tomadas por fanáticos do bolsonarismo, que impediram a aproximação de repórteres de vários veículos de Imprensa.
Há pouco, um repórter cinematográfico de emissora afiliada da TV Globo foi agredido por apoiadores de Jefferson e Bolsonaro, em Comendador Levy Gasparian, interior do Rio, onde o meliante reside. O repórter Rogério de Paulo, de 59 anos, levou um soco, caiu no chão, bateu a cabeça e teria tido um início de convulsão. A câmera que ele usava quebrou.
Roberto Jefferson e os bolsonaristas fanáticos devem estar em êxtase, diante de um cenário como este.
Era isso, ou melhor, é isso mesmo que Jefferson pretendia quando engendrou toda esta fuzarca: criar o caos, aumentar a violência e criar um clima de tudo ou nada na reta final de campanha.
Tudo com método. Muito método.
Lembram-se da saudação dos gladiadores romanos ao imperador?
Ave Caesar, morituri te salutant! (Salve César, os que vão morrer te saúdam).
Ave Roberto Jefferson, morituri te salutant! - Salve Roberto Jefferson, os que vão morrer - menos os bolsonaristas, é claro - te saúdam.
Jornalistas deixam de lado os detalhes. E o jornalismo acaba nos desinformando.
Tomei conhecimento de toda essa torpeza protagonizada por Roberto Jefferson no início da tarde deste domingo (23), quando me encontrava num restaurante.
Desde então, e até o exato momento em que publico esta postagem, já ouvi várias denominações para a ordem do ministro Alexandre de Moraes, revogando a prisão domiciliar do sociopata e transferindo-o novamente para um presídio.
Já chamaram a ordem de ofício.
Também já chamaram de despacho.
De mandado.
De sentença.
De documento.
É uma dessas a denominação correta?
Ou todas as alternativas anteriores estão corretas?
O nome documento assinado por Moraes é apenas aquilo que se lê no topo do próprio: uma decisão (veja na imagem).
Apenas isso.
Nem despacho, nem sentença, nem mandado (ainda que a decisão, como diz o ministro, tenha a força de mandado, para acelerar os procedimentos), nem documento.
Somente decisão.
Na dúvida sobre essa questão, colegas jornalistas que se encontram nessa cobertura ao vivo deveriam apenas acionar o estúdio, e o estúdio, por sua vez, acionará trocentos mil especialistas do Direito que são ouvidos sobre os mais variados assuntos da área e, portanto, poderiam indicar qual a natureza da ordem de Moraes.
Esse detalhe não é tão banal, como muitos jornalistas poderão achar.
Porque telegrama (ainda tem?) é telegrama, carta (tem?) é carta, e-mail é e-mail, zap é zap, stories é stories, alface é alface, Jair é Jair e Lula é Lula.
Alguém chamaria zap de e-mail? Ou alface de batata? Ou Jair de um excremento?
Claro que não, né?
Portanto, despacho é despacho, sentença é sentença, mandado é mandado e decisão é decisão.
Transmitir com precisão detalhes como esse é necessário para que os telespectadores sejam corretamente informados.
Do contrário, continuaremos - como tantos continuam - achando normal jornalistas chamarem o Boulevard Castilhos França de Avenida Boulevard Castilhos França, ou de Avenida Doca de Souza Franco para a Avenida Visconde de Souza Franco.
Registre-se.
Com que autoridade um ministro da Bolsonaro "negocia" a rendição do sociopata Roberto Jefferson?
Anderson Torres, o "negociador": ele pode "negociar" uma ordem emanda de outro Poder? |
Com que autoridade mesmo o ministro da Justiça, Anderson Torres, está "negociando" a rendição do sociopata Roberto Jefferson?
A Polícia Federal integra, sabemos, a estrutura do Poder Executivo.
Está, portanto, subordinada administrativamente ao Ministério da Justiça.
Mas, quando a Polícia Federal cumpre ordens judiciais, como é o caso da expedida pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes, para tirar Jefferson da casa dele e levá-lo de volta a um presídio, nessas ocasiões, portanto, a PF cumpre a função de polícia judiciária. Nessa condição, a PF deixa de subordinar-se ao Executivo para responder apenas à instância da qual emanou a ordem a ser cumprida, no caso o STF.
Repita-se, portanto, a pergunta: com que autoridade Anderson Torres está "negociando" a rendição do sociopata Roberto Jefferson?
Respondam-me os entendidos.
Roberto Jefferson cumpre, à perfeição, o papel de enviado do bolsonarimo para apressar o tudo ou nada
Roberto Jefferson, o enviado do bolsonarismo para disseminar o caos: nem doido, nem decrépito. Apenas Roberto Jefferson cumprindo seu papel. |
sábado, 22 de outubro de 2022
Delegada (aposentada) critica delegado-geral que se exibe fazendo o "L". Mas ela mesma chama Lula de "ladrão".
Walter Rezende (indicado pela seta vermelha) faz o "L". Delegada que chama Lula de "ladrão" e "condenado" diz que o delegado-geral não tem isenção. |
Vocês querem aprender como é lido, sentido e praticado o conceito de isenção no âmbito da Polícia Civil do Pará?
Se querem, acompanhem o fogo no parquinho em que se transformou um debate entre policiais, mais precisamente delegados (da ativa e aposentados), acerca de opções eleitorais neste segundo turno da campanha presidencial.
Em postagem que fez em sua coluna, no início da manhã deste sábado, o jornalista Olavo Dutra divulga um áudio em que a delegada aposentada Iraci Terezinha, 74 anos, faz duras, para não dizer duríssimas críticas ao delegado-geral, Walter Rezende, por se exibir publicamente defendendo a candidatura de Lula.
A delegada, que tem uma respeitável trajetória na Polícia Civil do Pará, tendo sido diretora da Academia de Polícia - e instrutora do próprio Walter Rezende - e presidente da Associação dos Delegados, tem inteira razão quando se mostra irresignada com o fato de agentes públicos externarem publicamente posições que os identificam muito mais com as de cabos eleitorais.
Mas, pelo que diz no áudio, não se pode inferir em que nível estaria o senso crítico da delegada se Rezende, em vez de fazer o "L", se exibisse por aí fazendo o 22 ou então aquele gesto - porco e repulsivo - da arminha, que identifica os seguidores de Bolsonaro.
Por que essa especulação é apropriada?
Porque a delegada Terezinha, ao criticar o delegado-geral, não deixar quaisquer dúvidas sobre as suas (dela) próprias preferências políticas.
Sua virulência seria a mesma se Rezende aparecesse fazendo o 22 ou o gesto da arminha?
Sabe-se lá.
O certo é que diz a delegada, a certa altura do áudio: "O delegado-geral de Polícia é a autoridade máxima da Polícia Civil. E o que motiva a nossa profissão é a isenção. Como a população paraense olha seu delegado-geral fazendo 'Lula livre', fazendo gesto para um ladrão, que foi condenado em todas as instâncias brasileiras? E ele, como delegado-geral e profissional do Direito, tem a obrigação de ser, pelo menos pubicamente, isento. Você, Rezende, me decepcionou. [...] Você foi meu aluno, um ótimo aluno. Eu fiquei feliz com a sua indicação. E agora você vem fazer gestinho de Lula ladrão? Eu estou profundamente decepcionada".
Como se vê, as ponderações de Iraci Terezinha são de irretocável apreço pela ética.
E agora?
Agora, é o delegado-geral que tem de se explicar.
À sua mestra e à sociedade paraense que lhe cobra isenção.
O TSE merece nota 10 pelo combate à desinformação. Mas pode editar resolução com aparência de lei?
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está agindo com rigor para evitar, ou pelo menos para atenuar, a podridão em que se transformou esta campanha eleitoral.
Dez, nota dez, para o TSE.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a título de conter a escala de podridões em que se transformou esta campanha eleitoral, está arrogando-se superpoderes que, em tese - repito, em tese - a Constituição não lhe outorga.
Zero, nota 10, para o TSE.
Os enunciados acima, traduzido-os para o português do Brasil (porque o de Portugal, vocês sabem, é muito complicado), significa o seguinte: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Uma coisa é o TSE agir contra fake news e outros excessos. Outra coisa é fazê-lo atropelando a Constituição.
Há muito tempo, mas há muito mesmo, que a Justiça Eleitoral se vê na linha de tiro todas as vezes em que edita regramentos que se confundem com leis (cuja edição, sabemos, é prerrogativa do Legislativo) e assumem rigores maiores do que os previstos no Código Eleitoral.
É o que ocorre agora com esta resolução, editada na última quinta-feira (20), que atribui ao TSE poderes que ele, convenhamos, parece não ter.
A resolução busca dar mais agilidade ao combate à desinformação no período eleitoral e permite, entre outras coisas, que o Tribunal determine que URLs de fake news sejam retiradas do ar em até duas horas (às vésperas da votação, a retirada será em até uma hora).
No caso de fake news replicada, o presidente do tribunal poderá, de ofício, estender a decisão de remoção da mentira para todos os conteúdos.
O Tribunal também poderá suspender canais que publiquem fake news de forma reiterada. E fica, desde já, proibida a propaganda eleitoral paga na internet 48 horas antes do pleito e 24 horas depois.
Com todo o respeito, mas isso não é uma resolução. Esses regramentos, pelor rigor, pelos prazos e procedimentos, assumem o perfil de uma lei, que só poderia ser votada e aprovada pelo Congresso.
Nesse caso, é de se esperar que Supremo, provocado pela Procuradoria-Geral da República, manifeste-se urgentemente para determinar os limites do poderes da Justiça Eleitoral nessa questão específica.
Porque, repita-se, o TSE merece aplausos e apoios gerais pelo empenho em evitar que a campanha resvale ainda mais para o fundo do poço - se é que o poço ainda tem fundo.
Mas o TSE precisa fazer isso sem arrogar-se superpoderes que não tem.
quarta-feira, 19 de outubro de 2022
A Jovem Pan pratica um jornalismo de esgoto. Mas é preciso que repudiemos a censura. Inclusive à Jovem Pan.
A Jovem Pan, ou aqui do que resta da Jovem Pan, virou um esgoto, um escoadouro dos mais repugantes dejetos do jornalismo de direita que se pratica no Brasil.
Seu jornalismo, como já dito aqui, ampara-se numa credibilidade que virou pó.
Virou, como já dito aqui, uma comédia de horrores.
Entre os dejetos expelidos pelo jornalismo de direita praticado pela Jovem Pan - ou aquilo do que restou dela - estão vários qualificativos que seus jornalistas e comentaristas atribuem a Lula - como descondenado, chefe de organização criminosa, descondenado e ex-presidiário, entre outros.
Mas eu vejo a Jovem Pan.
Eu assisto, diariamente e atentamente, a uns dois ou três programas da Jovem Pan.
Vários de meus amigos e familiares não admitem que eu veja a Jovem Pan.
Mas vejo porque, como jornalista, preciso saber - e quero saber - o que o jornalismo de direita está dizendo, inclusive, sobre a democracia que eu mesmo acredito seja o pior regime, à exceção de todos os outros, como já dizia Churchill.
Acho que, apesar de tudo isso, o direito à liberdade de expressão do jornalismo de esgoto que pratica a Jovem Pan precisa ser assegurado.
É nesse sentido que a Jovem Pan, bolsonarista e direitista, divulgou comunicado interno determinando o seguinte a seus jornalistas e comentaristas:
“Caros, com base em decisão do TSE proferida nesta segunda-feira, estamos orientados pelo jurídico a não utilizar as seguintes expressões nos programas da casa: Ex-presidiário; Descondenado; Ladrão; Corrupto; Chefe de organização criminosa. Além disso, não devemos fazer qualquer associação entre o candidato Lula ao crime organizado. E mais: as críticas aos ministros e ao judiciário não são recomendadas pelo nosso jurídico neste momento. O descumprimento dessas determinações pode levar não só a direito de resposta como também a multa de R$ 25 mil e a remoção dos conteúdos de nossas plataformas. A direção de jornalismo reforça que aqueles que não se sentirem confortáveis com essa determinação com base em decisão da Justiça, devem nos informar para que possam ser substituídos nos programas”.
Vocês querem saber o que é coerência política? Então mirem-se em Arthur Virgílio e banhem-se nas suas lágrimas.
Arthur Virgílio, tucano dos mais notórios, anuncia apoio a Bolsonaro. O mesmo que o fez derramar lágrimas de revolta e indignação, no início da pandemia do coronavírus. |
No podcast Flow desta terça-feira (18), em que Lula foi entrevistado, o apresentador, Igor Coelho, disse em dado momento que acredita na política, mas não nos políticos.
Como ele, muita gente, jovens inclusive, dizem a mesma coisa.
Se todos esses descrentes conhecerem Arthur Virgílio, aí mesmo é que terão elementos fartos para continuar descrendo nos políticos.
Os mais antigos, ou mesmo os mais novos que acompanham política mais assiduamente, conhecem a trajetória política de Virgílio.
Ele é amazonense. Na juventude, chegou a militar no PCB. Mais tarde, projetou-se nacionalmente como um dos quadros mais notáveis do PSDB. Assim foi enquanto o partido esteve no poder, nos oitos anos do governo FHC, e posteriormente, sobretudo durante os oito anos do governo Lula, quando Virgílio, obviamente, era oposição.
Até que chegou a Covid-19, em 2020. A essa altura, o ex-senador era prefeito de Manaus. Em maio, portanto após dois meses após a eclosão da pandemia, Virgílio chorou e fez metade do Brasil chorar com ele, ao apelar por sensibilidade ao presidente da República.
Na época, o Espaço Aberto chegou a fazer a postagem sob o título de O choro de um prefeito desesperado tem como contraponto a torpeza e crueldade de um presidente. O comentário inclui o trecho da entrevista à CNN em que Virgílio chora. Vejam lá.
"É preciso ser uma pessoa muito cínica, uma pessoa muito insensata, para não sentir isso [revolta e indignação] no fundo do seu coração", disse então Virgílio, a voz embargada pelas lágrimas, diante das demonstrações clamorosas de debochoe, desrepeito e insensibilidade de Bolsonaro, que já chamara a pandemia de "gripezinha" e incentivava as pessoas a não ficarem em casa.
Pois é.
O Virgílio sensível, compungido, aterrorizado, comovido e revoltado com aquele a quem, com razão, condenava por ser cínico e insensível, saiu de cena.
No lugar desse Virgílio, entrou um outro, apoiador de Jair Messias Bolsonaro, que continua cínico, debochado, insensível, negacionista e mentiroso compulsivo.
Na última segunda-feira (17), Virgílio, em carne e osso, foi ao Palácio do Planalto e declarou apoio à candidatura de Bolsonaro. Fez mais: defendeu a privatização da Petrobras e disse ter mais semelhanças com Bolsonaro do que com Lula no campo econômico.
Vocês querem compreender a coerência política?
Então mirem-se no exemplo de Arthur Virgílio. E banhem-se nas suas lágrimas.
terça-feira, 18 de outubro de 2022
"Pintou um clima": ao pedir desculpas às venezuelanas, Bolsonaro parece não convencer nem Michelle, nossa Imperatriz da Sororidade
Bolsonaro, no vídeo em que pede "desculpas" às venezuelanas. Reparem na cara de Michelle, a Imperatriz da Sororidade. Essa cara é de quem está acreditando no Impoluto? |
Vergonhosamente, as Forças Armadas rendem-se aos escusos interesses políticos de Bolsonaro
Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa: rendição aos interesses políticos de Bolsonaro |
É vergonhoso, espantoso e vexaminoso - entre outros osos - que as Forças Armadas estejam, cada vez mais, escandalosamente subjugadas politicamente ao governo da hora, no caso, o desgoverno de Jair Bolsonaro.
Durante todo o período que antecedeu o período eleitoral, e sob a estridência e irresponsabilidade criminosa do discurso bolsonarista, de que as urnas eletrônicas eram vulneráveis a fraudes, o Ministério da Defesa, integrante da Comissão de Transparência das Eleições instituída pelo próprio TSE, dispôs de absoluta liberdade para opinar sobre qualquer aspecto técnico relacionado à segurança dos equipamentos.
Concluído o pleito em primeiro turno, a Justiça Eleitoral ficou aguardando o relatório da auditoria que o próprio Ministério da Defesa ficou de fazer sobre a segurança das urnas eletrônicas no dia 2 de outubro passado.
E até agora, nada de relatório!
É um segredo de polichinelo que a Defesa levou a minuta do relatório a Bolsonaro, mas recebeu do presidente a ordem para que nada divulgasse.
Por que não?
Porque, das duas uma: ou o Ministério da Defesa não detectou qualquer anormalidade, o que desmoralizaria o discurso golpista e conspiracionista de Bolsonaro, ou detectou 1 bilhão de anormalidades, mas mesmo assim o presidente preferiu que nada transpirasse para não atrapalhar as suas próprias ambições de se reeleger.
O resultado é que, nesta terça-feira (18), o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, fixou o prazo de 48 horas para que a Defesa apresente cópia de documentos sobre eventual auditoria das urnas eletrônicas e informe a fonte de recursos usados para o procedimento.
Mas o site Poder360 já adiantou que o Ministério da Defesa, invocando resolução do próprio TSE, responderá que não cabe às entidades fiscalizadoras a realização de auditoria das urnas eletrônicas. E deve declarar ainda que os militares não fizeram auditoria das urnas, mas somente fiscalizaram o sistema eletrônico de votação.
Viram?
O Ministério da Defesa está vergonhosamente subjugado aos escusos interesses políticos de Bolsonaro. E, por extensão, as Forças Armadas também.
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Novo formato foi a grande - e agradável - surpresa no debate da Band
Lula e Bolsonaro no debate: novo formato parece ter sido o melhor até agora. |
O melhor no debate da noite deste domingo (16), na Band, foi o seu formato, até agora utilizado pela primeira vez em confrontos de candidatos na televisão brasileira.
Para ser mais exato, o formato de ontem já havia sido adotado no debate de alguns dias antes, entre os dois candidatos ao governo de São Paulo, o petista Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, do Republicanos.
Foi muito bom ver Lula e Bolsonaro livres, absoluta e literalmente livres, administrando o próprio tempo, questionando um ao outro sobre o tema que bem entendessem, tudo isso enquanto podiam locomover-se à vontade pelo cenário.
Para surpresa de muitos, do Espaço Aberto inclusive, o novo formato, muito embora permitindo a aproximação física entre os dois debatedores, em vários momentos pareceu quebrar a hostilidade que pairava no ar entre eles.
Foi assim nas ocasiões em que o petista e o candidato à reeleição pareceram bem mais informais, como se estivessem num ambiente descontraído, discutindo sobre questões graves para os destinos do País.
O modelo inovador da Band é o melhor?
Precisamos aguardar mais, para termos essa resposta.
Mas parece, certamente, ser o melhor até agora.
Para torcedores, o debate teve goleadas. Para os analistas, deu empate.
domingo, 16 de outubro de 2022
Coloque sua reputação um pouquinho de lado, ensina um bolsonarista. Resultado: está aí a hashtag #BolsonaroPedofilo
A campanha mais podre da história eleva o conceito de bolsonaristas e seus apreendizes
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
Bolsonaro - o amor, a compaixão a ternura, a humildade, o perdão. E o deboche sem limites!
Bolsonaro, debochadamente, simula um paciente de Covid com falta de ar. Isso foi, tipo assim, apenas uma brincadeirinha, né? Então, vai lá e perdoa o cara, coitado. Ele é o amor! |
Esta eleição virou mesmo um vale-tudo.
quinta-feira, 13 de outubro de 2022
"Nós nos sentimos traídos", diz eleitor de Jatene sobre o apoio do ex-governador ao bufão dos trópicos
Eleitores do Espaço Aberto, entre ex-filiados ao PSDB (ou ao ex-PSDB, um partido que já foi), meros simpatizantes do tucanato ou mesmo antipetistas (sim, até antipetistas) reagiram entre a surpresa, a revolta e a estupefação ao anúncio do ex-governador tucano Simão Jatene, de que vai apoiar Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial, marcado para o dia 30 deste mês.
Após a publicação, no início da noite da última terça-feira (11), do comentário intitulado Jatene anuncia apoio a Bolsonaro. Nunca Jatene foi tão pouco Jatene, dezenas de leitores, por WhatsApp, e-mail ou telefonemas, entraram em contato com o blog, compartilhando opiniões críticas à postura do ex-governador e procurando entender os porquês da opção dele.
Entre esses leitores, vários testemunharam sentir na pele o mesmo que Jatene sentiu: os efeitos violentos da postura radical de alas do PT e do lulismo, que lhes causaram gravames pessoais, seja no âmbito profissional, seja em suas esferas privadas de vida. Mas nem por isso jamais sequer cogitaram em apoiar o atual presidente.
"Não foi só ele" - "Não foi apenas o Jatene quem se viu 'perseguido', 'injustiçado', atacado ou alvo das virulências do PT. Além dele, vários de nós, que por imposições profissionais ou não estivemos alinhados ao PSDB, sofremos igualmente isso. Mas hoje, contrariamente ao Jatene, estamos certos de que precisamos cerrar fileiras junto ao campo democrático, junto a todos aqueles que pretendem preservar a democracia. E para fazer isso, precisamos nos opor a Bolsonaro. Não há outra alternativa", afirmou ao blog um leitor que preferiu não se identificar.
"O que leva uma pessoa como Jatene, que, além de inteligente, tem uma história de apreço à democracia e já ocupou cargos públicos de relevo, a posicionar-se ao lado de uma figura repugnante, de perfil assustadoramente fascista como Bolsonaro? Os sentimentos pessoais, as mágoas maldisfarçadas de Jatene, sua revolta (justa, admitamos) contra a devassa que sofreu e ainda sofre da família Barbalho, tudo isso seria suficiente para justificar a opção dele? Com todo o respeito às preferências do ex-governador, mas nos sentimos traídos nesta hora", desabafa outro leitor, que votou em Jatene nas três vezes em que ele foi eleito governador.
A propósito do anúncio de Jatene, um leitor do Espaço Aberto envia um artigo dos mais oportunos que Oliver Stuenkel assinou no jornal El País em outubro de 2018, ou seja, há exatos quatro anos, pouco antes do segundo turno eleitoral que selaria a vitória de Bolsonaro.
Os bufões e os genocídios - Alemão e pesquisador de relações internacionais e mestre em Políticas Públicas, Stuenkel traça, no artigo Por que votamos em Hitler, um painel da Alemanha no período que precedeu a Segunda Guerra Mundial e favoreceu e ascensão do nazismo.
Mas não apenas isso: ele revela as chocantes semelhanças entre os expoentes do nazismo e Bolsonaro, entre a banalização com que segmentos expressivos da sociedade alemã tratavam Hitler e a banalização com que segmentos expressivos da sociedade brasileira tratam Bolsonaro, tido por muitos como apenas um excêntrico, como aquele tiozão que chega ao churrasco de sandálias nos pés, contando piadas sem graça (homofóbicas e misóginas, inclusive) e achando que está se achando.
Pois o bufão, como anota Stuenkel, exterminou seis milhões de judeus e levou o mundo a um conflito armado que matou de 50 milhões. E Bolsonaro, o nosso bufão? Um de seus feitos foi ter contribuído, concretamente e planejadamente, para a morte de milhares de brasileiros vítimas da Covid-19. E ainda se permitiu debochar dos que agonizavam. Mas isso, vocês sabem, é só porque o cara é um brincalhão, é povão, não é? Pois é.
Leiam, abaixo, a íntegra do artigo de Oliver Stuenkel. Se preferirem, podem ler também clicando aqui.
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Por que votamos em Hitler
Ao longo da década de 1920, Adolf Hitler era pouco mais do que um ex-militar bizarro de baixo escalão, que poucas pessoas levavam a sério. Ele era conhecido principalmente por seus discursos contra minorias, políticos de esquerda, pacifistas, feministas, gays, elites progressistas, imigrantes, a mídia e a Liga das Nações, precursora das Nações Unidas. Em 1932, porém, 37% dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, a nova força política dominante no país. Em janeiro de 1933, ele tornou-se chefe de governo. Por que tantos alemães instruídos votaram em um patético bufão que levou o país ao abismo?
Em primeiro lugar, os alemães tinham perdido a fé no sistema político da época. A jovem democracia não trouxera os benefícios que muitos esperavam. Muitos sentiam raiva das elites tradicionais, cujas políticas tinham causado a pior crise econômica na história do país. Buscava-se um novo rosto. Um anti-político promoveria mudanças de verdade. Muitos dos eleitores de Hitler ficaram incomodados com seu radicalismo, mas os partidos estabelecidos não pareciam oferecer boas alternativas.
Em segundo lugar, Hitler sabia como usar a mídia para seus propósitos. Contrastando o discurso burocrático da maioria dos outros políticos, Hitler usava um linguajar simples, espalhava fake news, e os jornais adoravam sugerir que muito do que ele dizia era absurdo. Hitler era politicamente incorreto de propósito, o que o tornava mais autêntico aos olhos dos eleitores. Cada discurso era um espetáculo. Diferentemente dos outros políticos, ele foi recebido com aplausos de pé onde quer que fosse, empolgando as multidões. Como escreveu em seu livro "Minha Luta":
Toda propaganda deve ser apresentada em uma forma popular (...), não estar acima das cabeças dos menos intelectuais daqueles a quem é dirigida. (...) A arte da propaganda consiste precisamente em poder despertar a imaginação do público através de um apelo aos seus sentimentos.
Em terceiro lugar, muitos alemães sentiram que seu país sofria com uma crise moral, e Hitler prometeu uma restauração. Pessoas religiosas, sobretudo, ficaram horrorizadas com a arte moderna e os costumes culturais progressistas que surgiram por volta de 1920, época em que as mulheres se tornavam cada vez mais independentes, e a comunidade LGBT em Berlim começava a ganhar visibilidade. Os conservadores sonhavam com restabelecer a antiga ordem. Os conselheiros de Hitler eram todos homens heterossexuais brancos. As mulheres, ele argumentou, deveriam se limitar a administrar a casa e ter filhos. Homens inseguros podiam, de vez em quando, quebrar vitrines de lojas, cujos donos eram judeus, para reafirmarem sua masculinidade.
Em quarto lugar, apesar de Hitler fazer declarações ultrajantes – como a de que judeus e gays deveriam ser mortos -, muitos pensavam que ele só queria chocar as pessoas. Muitos alemães que tinham amigos gays ou judeus votaram em Hitler, confiantes de que ele nunca implementaria suas promessas. Simplista, inexperiente e muitas vezes tão esdrúxulo, que até mesmo seus concorrentes riam dele, Hitler poderia ser controlado por conselheiros mais experientes, ou ele logo deixaria a política. Afinal, ele precisava de partidos tradicionais para governar.
Em quinto, Hitler ofereceu soluções simplistas que, à primeira vista, faziam sentido para todos. O problema do crime, argumentava, poderia ser resolvido aplicando a pena de morte com mais frequência e aumentando as sentenças de prisão. Problemas econômicos, segundo ele, eram causados por atores externos e conspiradores comunistas. Os judeus - que representavam menos de 1% da população total - eram o bode expiatório favorito. Os alemães "verdadeiros" não deviam se culpar por nada. Tudo foi embalado em slogans fáceis de lembrar: "Alemanha acima de tudo", "Renascimento da Alemanha", "Um povo, uma nação, um líder."
Em sexto lugar, as elites logo aderiram a Hitler porque ele prometeu -- e implementou -- um atraente regime clientelista, cleptocrata, que beneficiava grupos de interesses especiais. Os industriais ganharam contratos suculentos, que os fizeram ignorar as tendências fascistas de Hitler.
Em sétimo, mesmo antes da eleição de 1932, falar contra Hitler tornou-se cada vez mais perigoso. Jovens agressivos, que apoiavam Hitler, ameaçavam os oponentes, limitando-se inicialmente ao abuso verbal, mas logo passando para a violência física. Muitos alemães que não apoiavam o regime preferiam ficar calados para evitar problemas com os nazistas.
Doze anos depois, com seis milhões de judeus exterminados e mais de 50 milhões de pessoas mortas na Segunda Guerra Mundial, muitos alemães que votaram em Hitler disseram a si mesmos que não tinham ideia de que ele traria tanta miséria ao mundo. “Se soubesse que ele mataria pessoas ou invadiria outros países, eu nunca teria votado nele ”, contou-me um amigo da minha família. “Mas como você pode dizer isso, considerando que Hitler falou publicamente de enforcar criminosos judeus durante a campanha?”, perguntei. “Eu achava que ele era pouco mais que um palhaço, um trapaceiro”, minha avó, cujo irmão morreu na guerra, responderia.
De fato, uma análise mais objetiva mostra que, justamente quando era mais necessário defender a democracia, os alemães caíram na tentação fácil de um demagogo patético que fornecia uma falsa sensação de segurança e muito poucas propostas concretas de como lidar com os problemas da Alemanha em 1932. Diferentemente do que se ouve hoje em dia, Hitler não era um gênio. Não passava de um charlatão oportunista que identificou e explorou uma profunda insegurança na sociedade alemã.
Hitler não chegou ao poder porque todos os alemães eram nazistas ou anti-semitas, mas porque muitas pessoas razoáveis fizeram vista grossa. O mal se estabeleceu na vida cotidiana porque as pessoas eram incapazes ou sem vontade de reconhecê-lo ou denunciá-lo, disseminando-se entre os alemães porque o povo estava disposto a minimizá-lo. Antes de muitos perceberem o que a maquinaria fascista do partido governista estava fazendo, ele já não podia mais ser contido. Era tarde demais.
terça-feira, 11 de outubro de 2022
Jatene anuncia apoio a Bolsonaro. Nunca Jatene foi tão pouco Jatene.
O ex-governador Simão Jatene anunciou na tarde desta segunda-feira (10), num vídeo postado em seu perfil no Facebook (assistam acima), que apoia Jair Bolsonaro no segundo turno presidencial, marcado para o dia 30 de outubro. Até este momento em que o Espaço Aberto publica este comentário, a manifestação já conta com 57 mil visualizações, 1,2 mil comentários e 6,7 mil curtidas. E crescendo.
Essa audiência toda não é à-toa. Jatene, até agora, foi o único, dentre os governadores do Pará, a chegar três vezes ao governo do estado. Antes disso, já consolidara uma respeitável reputação no magistério universitário e no serviço público, onde exerceu, por exemplo, o cargo de secretário de Planejamento no primeiro mandato do governador Jader Barbalho, então do PMDB. Na vida partidária, Jatene notabilizou-se como um dos quadros históricos do PSDB, tanto no Pará como em nível nacional.
Por toda essa trajetória, um posicionamento de Jatene, neste momento crucial da vida política nacional, não poderia passar imune a julgamentos. Assiste ao ex-governador, evidentemente, todo o direito de optar por quem que seja - ou até mesmo de não optar por ninguém. Porque assim é na vida democrática. Mas seus posicionamentos, é claro, estarão sempre sujeitos ao crivo da opinião pública, porque, repita-se, ele não é um qualquer.
Opção surpreendente - Diga-se aqui, portanto, sobre a opção do ex-governador: ela é surpreendente. Ainda que Jatene a tenha fundamentado num vídeo de quase cinco minutos, a essência dos argumentos que apresenta, quando contraposta ao apreço que, inegavelmente, o ex-governador sempre demonstrou pelos ideais democráticos, revela indisfarçavelmente uma espécie de acerto de contas do ex-tucano com o PT, partido que sempre se opôs a seus governos de forma implacável, virulenta e excludente (é preciso reconhecermos isso).
Junte-se a isso tudo - ao histórico de oposição violenta do PT aos governos tucanos, inclusive aos três de Jatene - a cooptação (mas podem chamar, se quiserem, de sequestro) do PT e do próprio PSDB pelo governo Helder Barbalho, e teremos um Jatene ferido pessoalmente, no fundo d'alma, pela oposição sem tréguas dos Barbalho durante os dois últimos governos do então tucano. Uma oposição, registre-se, que se estendeu após Jatene deixar o governo, a um ponto em que o ex-governador já chegou a dar indicações de que estaria prestes a ser alvo de medidas coercitivas da Polícia Civil, sob o comando de Helder.
Mas não seriam todas essas razões - de ordem local, digamos assim - bastantes o suficiente para Jatene negar-se a apoiar Lula e preferir Bolsonaro?
Não. A juízo do blog, não.
Porque há figuras exponenciais - e igualmente históricas - que ainda são do PSDB ou estiveram filiadas ao partido até pouco tempo e também sofreram fortíssima oposição do PT e foram castigadas por conjunturas locais, mas anunciaram publicamente que apoiam Lula. Não se descarta que tais personagens tenham feito essa opção revirando as próprias entranhas. Mas fizeram.
Os exemplos de FHC e Serra - Nesse caso estão duas das maiores expressões nacionais do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em oito anos teve um PT enfurecido em seus calcanhares, e o ex-governador de São Paulo (por duas vezes) José Serra. Aliás, além de ter sido alvo permanente de petistas, Serra também foi o mais visado no chamado Escândalo dos Aloprados, que trouxe à tona um dossiê com denúncias jamais comprovadas contra o tucano.
Pois mesmo assim, Fernando Henrique e Serra, apenas para citar esses dois, anunciaram apoio a Lula. Por quê? Porque ambos não estão pensando muito em Lula, mas em defender a democracia brasileira.
Há três momentos específicos na fala de Jatene que merecem comentários.
1. O atual presidente, com acertos e erros, é verdade, tem governado sob condições adversas e sob um sufocante ataque da grande imprensa, que sem qualquer pudor manipula e distorce informações, agredindo a democracia que desavergonhadamente diz defender.
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
"Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé / Manda o Bolsonaro embora". E Janja, sem fazer o "L" no Círio.
Janja da Silva na Varanda da Fafá: contida e cautelosa, para não parecer que estava fazendo proselitismo eleitoral para Lula durante o Círio (imagem do UOL). |