Por Leandro Marshall, no Observatório da Imprensa
A Folha de S.Paulo nem se dá mais ao trabalho de disfarçar sua opção pela liberalização da profissão de jornalista no Brasil. Graças à “queda” na exigência do diploma decretada pelo STF, por oito votos a um, em sessão no dia 17 de junho de 2009, a empresa jornalística paulista, administrada pela família Frias, está aceitando, em seus quadros profissionais, trabalhadores oriundos de “qualquer área” de formação universitária, seja das ciências humanas, seja das ciências exatas. Não é preciso sequer ter concluído o ensino superior. A Folha aceita currículos de jovens estudantes universitários, inclusive do primeiro semestre.
O que importa para a Folha é moldar, burilar e formar, dentro de seus critérios e padrões de referência jornalística, os futuros profissionais da informação. A empresa jornalística acredita assim que ela própria pode desempenhar o papel das universidades, especialmente dos cursos de jornalismo, para “ensinar” as técnicas e os procedimentos donewsmaking para os novos agentes do processo de mediação social da notícia.
Sabe-se que há muitos países do mundo, principalmente na Europa, que não exigem diploma universitário para o exercício da profissão. E que existem muitas nações em que os cursos são meramente tecnicistas, como é o caso da Espanha, e países onde o aprendizado tem curta duração, como é o caso dos Estados Unidos, em que a formação não dura mais do que dois anos.
Basta“olho clínico”
A convocação da Folha de S.Paulo a qualquer cidadão brasileiro (estudante universitário ou formado em qualquer área) para que participe do seu programa de “treinamento” em jornalismo traz como principal “novidade” a intenção da empresa em se tornar ela própria uma instituição formada de mão de obra intelectual, voltada para o exercício do jornalismo.
A prova disso está no texto de suas chamadas publicitárias, em que ela (a empresa) se arvora o papel de ser uma empresa profissionalizante, na medida em que convida o jovem para que “venha aprender jornalismo no maior jornal do país”.
Ao que parece, a visão da Folha sobre o exercício da profissão jornalística alinha-se perfeitamente com o pensamento da esmagadora maioria dos ministros do Supremo naquela votação de 2009. Na época, Carlos Ayres Britto disse, por exemplo, que o jornalismo pode ser exercido tanto por que aqueles que “optam por se profissionalizar na carreira” ou simplesmente por aqueles que “apenas têm ‘intimidade com a palavra’ ou ‘olho clínico’ para a informação”.
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Leandro Marshall é jornalista, escritor e professor
Um comentário:
Prefiro não comentar. Só uma curiosidade? Esses jornais/universidades aceitarão jornalistas "formados" em outro jornal, ou serão alunos a vida toda?
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