Pelo andar da carruagem da transição, não seria
melhor Jair Bolsonaro, ainda que investido na condição de presidente
legitimamente eleito, assumir o cargo e nomear-se, digamos assim, chefe da Casa
Civil, entregando o governo ao futuro superministro da Economia, Paulo Guedes?
Porque, sim, Bolsonaro, apesar de ser Bolsonaro,
tem traquejo político. À sua maneira, é claro, mas tem.
Já Paulo Guedes só tem traquejo de Paulo Guedes
mesmo.
Vejam a última dele.
Em encontro com governadores, nesta quarta-feira
(14), apresentou como uma das propostas para tirar os cofres estaduais das
cinzas dividir entre as unidades federados os esperados R$ 100 bilhões resultantes
de um leilão do pré-sal.
Agora, vejam só que estratégia bacana. Tipo
assim, uma estratétia genuinamente com a grife Paulo Guedes.
O processo licitatório ainda precisa ser
aprovado no Congresso. Para isso, portanto, será preciso negociar com todos os
congressitas. Mas supomos que o governo Paulo Guedes (desculpa aí, Bolsonaro) negocie
e aprove o projeto com o modelo de licitação. Beleza!
Aí, em troca, os governadores, em troca dos R$
100 bilhões que vão receber, comprometem-se a apoiar a reforma da Previdência,
cooptando suas respectivas bancadas.
Ou seja, o governo Paulo Guedes (desculpa aí,
Bolsonaro) não se preocuparia com essa articulação. Deixaria tudo a cargo dos
governadores, que então teriam de se virar nos 30.
Olhem trecho de matéria de O Globo desta
quinta-feira:
—Está
todo mundo apertado junto. Se arrecadar esses R$ 100 bilhões, eu vou pegar isso
aí, e a gente pode passar para estados e municípios, para todo mundo pelo
princípio do pacto federativo. Agora, o que não pode é atrapalhar a tramitação.
Se for mudar, enfiar uma emenda lá, aí já atrasa — afirmou Guedes aos
governadores.
Essa é uma sinalização da estratégia que Guedes pretende
colocar em prática na relação do governo Bolsonaro com o Congresso. A ideia é
negociar as pautas de interesse do governo no Legislativo prioritariamente com
os governadores e não com os parlamentares.
—
Querem ajuste (tributário) mais rápido? Participem da reforma previdenciária
conosco. Façam um sacrifício —disse Guedes.
Então, vamos resumir.
O Congresso prepara tudinho como o governo quer,
ou seja, aprova o projeto da licitação e o aprova.
São arrecadados R$ 100 bi.
O dinheiro é dividido – equanimemente, acredita-se
– entre os Estados.
Governadores ficam saltitantes.
Aí, chamam seus deputados e senadores para votar
a reforma da Previdência rapidamente:
- Venham cá. Agora é nóis na fita! – dirão governadores a seus deputados e senadores,
que assim não tratariam com o governo Paulo Guedes (desculpa aí, Bolsonaro),
mas com os governos estaduais.
Não é tão simples esse roteiro?
Não é ótimo eleger-se presidente e passar o
governo para o ministro da Economia?