terça-feira, 28 de outubro de 2014

O cofre da mansão de Santa Tereza


No final dos anos 1960, a juventude idealista de esquerda no Brasil, encantou-se com a revolução cubana e com o mito Che Guevara que morreu executado por agentes da CIA, em plena selva boliviana, em 1967. No Brasil, vivendo sob uma ditadura desde 1964, os comunistas, até então hegemônicos, racharam e deram vez a vários grupos. Antigas divergências foram deixadas de lado e fusões foram estabelecidas. Em uma dessas fusões, mais precisamente no nascimento da Vanguarda Armada Revolucionária, a VAR-Palmares, criada no meio do fogo cruzado, em 1º de julho de 1969, da união de duas entidades, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e o Comando de Liberação Nacional (Colina), que viam a luta armada como única via possível para a revolução.
À época, havia uma disputa entre guerrilheiros e militantes, até que um jovem secundarista, oriundo de uma tradicional família da aristocracia do Rio de Janeiro, mas ligado a movimento de esquerda entregou o ouro: a existência de um cofre abarrotado de dólares escondido no segundo andar de sua mansão em Santa Tereza, na zona sul do Rio, pronto para ser roubado. Mas tudo indicava que o dinheiro do cofre pertencia ao ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, que deixou a grana com a amante dele. O roubo entraria para a história da luta armada brasileira e provocaria uma disputa fratricida pelo controle do dinheiro, deixando várias vítimas pelo caminho.
No começo do relacionamento, Adhemar fez de tudo para esconder a amante de amigos e parentes, sobretudo de sua esposa, respeitada por suas ações filantrópicas, que muito ajudaram o marido a angariar votos pelo interior de São Paulo. A primeira providência do político foi inventar um pseudônimo para a amante, para tentar despistar jornalistas e curiosos. Não se sabe até hoje a razão da escolha por "Dr. Rui", nos bastidores dizia-se que Rui era o nome do dentista de Adhemar. Dr. Rui circulava pelos bastidores com desenvoltura, controlava orçamentos e até nomeava secretários. A grande dúvida da militância era se o cofre estava mesmo abarrotado de dólares? Se os documentos incriminavam Adhemar e o presidente Costa e Silva como sócios na contravenção do jogo do bicho? Existiam de fato ou era apenas parte do delírio de um estudante deslumbrado com a possibilidade de mudar o país?
E assim, aconteceu, o assalto foi bem-sucedido. O cofre do Dr. Rui foi roubado do palacete de Santa Tereza, que ficava em uma ladeira na Rua Bernardino Santos, nº 2 e levado às pressas ao aparelho do largo da Taquara, em Jacarepaguá, que foi aberto pelo cilindro, usando um maçarico. A operação durou 15 minutos e em seguida foi feito a contagem do dinheiro. Para surpresa geral, era realmente uma fortuna: 2 milhões e 598 mil dólares! A grana equivalia à época, 10,3 milhões de cruzeiros novos, que convertidos para os valores atuais, representariam cerca de 15 milhões de dólares. O tempo mostraria, porém, que mais difícil que roubar o butim era mantê-lo escondido, livre da ganância alheia. O rígido código da VAR-Palmares haviam sido lançados ao espaço. A partilha causou muitos transtornos à militância que não sabia lidar com a dinheirama da "Grande Ação" assim, batizada por um de seus líderes. A divisão do dinheiro causou muitas baixas e dividiu a fórceps guerrilheiros e militantes.
Militante infiltrado na polícia repressora e covarde de Sérgio Paranhos Fleury dava as dicas para que guerrilheiros e militantes fossem pegos e torturados. Muitos foram mortos e a tortura tinha requintes de crueldade. Muitos não aguentaram tanto sofrimento e cometiam suicídio. Nem todos os envolvidos no assalto à mansão de Santa Teresa foram acometidos pela maldição do cofre do Dr. Rui. Esse ensaio foi feito após a leitura do livro: "O cofre do Dr. Rui", editora Civilização Brasileira, do jornalista Tom Cardoso, que, com qualidade, capacidade e talento, nos deixa ansioso para chegar à última página.

Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Rendeu livro "O assalto ao cofre do Dr.Rui". Rui era o codinome dado a amante de Ademar de Barros. Rui era o nome de um médico amigo do ex - governador Paulista. O rapaz que falou da existência do cofre, foi o sobrinho da amante. O primeiro a saber e tramar o roubo, e participar de toda a operação foi o Carlos Minc, um dos fundadores do Partido Verde. Os primeiros mil dólares foram trocados por moeda nacional, no hotel Copacabana Palace, pela atual presidente da república.
Emanuel Villaça