segunda-feira, 24 de março de 2014
Teatro de provocações
Há que se viver um dia de cada vez, tentar diminuir a ansiedade e encontrar o equilíbrio que todo ser humano necessita. É até compreensível que estejamos todos pressionados, com pouco tempo e muito a fazer. Perde-se no lugar comum a informação preciosa - ou ela fica em segundo plano ou é eliminada. Perde-se o hábito de ouvir o que é correto. Difunde-se e, não é história, uma cultura de só se levar vantagem. Vivemos a era em que as pessoas simplesmente querem mais e percebem que têm força para impor suas exigências. Isso gera uma erosão de poder. Alguém poderia retrucar dizendo que não vivemos o fim, mas a proliferação do poder.
Hoje, há simplesmente mais gente em condições de competir. Seja na política, na economia, na guerra pelos cargos e informações privilegiadas. A vida anda mais complicada para quem detém o poder e relativamente mais fácil para quem quer entrar no jogo. Gente mais bem informada, ávida pela integração ao mundo do consumo, impaciente com a inépcia e a corrupção dos governos. Os ativistas digitais estão de olho na informação, saíram às ruas. O resultado é paradoxal: para os donos do poder, as coisas ficaram mais difíceis. O poder se tornou, por definição, mais instável.
Para quem contesta o poder, no caso a oposição, as coisas não ficaram necessariamente mais fáceis. Nesse acerto de contas com o governo, a turma do chamado Blocão (na imagem acima) e seu teatro político está deixando a presidente Dilma Rousseff à beira de um ataque de nervos. A Câmara impõe uma derrota histórica à presidente. Ela reage tentando isolar PMDB e seu líder, Eduardo Cunha (RJ). Nessa pressão, mais uma arma poderosa do líder do PMDB na Câmara para emparedar o governo e deixar a presidente irritada.
Essa nova arma secreta que o partido aliado da presidente tem para usar contra o governo contém uma só página. Trata-se de um documento, assinado pelos presidentes de 14 diretórios estaduais do partido que exige antecipação de junho para abril da convenção marcada para corroborar a aliança com o PT e a indicação de Michel Temer como vice na chapa da presidente Dilma. O PMDB é expert nesses assuntos. Os rebelados exigem unir à discussão sobre a reeleição da presidente à crise no Congresso e, assim, aumentar o seu insaciável poder de barganha. Tudo arquitetado pelo estrategista Eduardo Cunha, por quem a presidente afirma que ele quer derrubar o governo, portanto, não quer dialogo mais nenhum e que no Palácio do Planalto ele não entra mais.
A presidente tem dificuldade em entender como funciona o Congresso, sem jogo de cintura tão necessário nesses momentos de dificuldades e nunca se interessou por política. Como é autoritária, ninguém consegue chegar perto dela para explicar seu maior erro tático em seus três anos de conturbada relação com o Parlamento. Um erro grave fez o Blocão apontar sua artilharia na direção do Planalto. Dilma, seus ministros e seu governo foram metralhados sem dó e sem piedade pelos deputados. A presidente acredita que se trata de uma conspiração de um lobo solitário da política. Sabe-se que o problema não está só em Cunha, mas em vários deputados do PT e do PMDB, passando por partidos nanicos e demais partidos de aluguel.
Nesse teatro de provocações, coreografado por Cunha, a oposição deve calcular e verificar sobre o quanto a crise pode atrapalhar Dilma. Não precisa nem pesquisar que, nas coxias, Eduardo Campos e Aécio Neves atuam em perfeita sintonia com o Blocão, na intenção de enfraquecer o governo em Brasília e afanar palanques regionais da presidente. Enquanto isso, para deixar o palco mais animado, existe a possibilidade de FHC, que recuperou sua imagem, vir a ser o vice de Aécio. A pressão é forte. Eles acham que FHC ajudará Aécio a vencer em São Paulo, e isso seria decisivo para um segundo turno das eleições. A amigos, FHC disse que em último caso, concorrerá. E mais, precisamos ainda ver o desempenho do Brasil na Copa do Mundo.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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