Por Antonio S. Silva, no Observatório da Imprensa
O jornalismo por longos anos respondeu a seu papel de transformar acontecimentos em notícias, dando ordem ao caos, considerando a quantidade ilimitada de fatos noticiáveis. Sua missão seria funcionar como um farol a estabelecer pontos de visão seguros para os navegantes em alto mar e com pouca informação. Assim, aquilo que não passasse pela mídia, jamais havia acontecido – então, impossível encontrar o porto.
O mundo mudou com as novas tecnologias e as luzes ainda mais confundem os viajantes; de modo que pessoas em lugares distantes se comunicam freneticamente, muitas vezes disseminando pontos de vista contrários a uma ordem social limitada por poucos narradores midiáticos. Chegamos finalmente à era das tecnologias, com pessoas em rede, o que acirra a disputa pelas histórias e pela realidade (ideologia), sobretudo política.
Notoriamente, os nervos nas redações estão acirrados, com a incerteza do fluxo da audiência para diversas mídias instantâneas, as quais recebem cada vez mais atenção dos empresários em busca de visibilidade de seus produtos – as perdas de receitas comprometem as pequenas e grandes empresas de comunicação, reguladas pelo tempo. Porém, o mais complicado neste mundo de visões múltiplas está na organização da ordem social.
Discussão efervescente
Afinal, como conviver com um mundo hostil, com informações diversas, a volta do caos, que faz ressuscitar ideias esquecidas, muitas delas ameaçadoras de outrora? O farol da mídia tradicional, deste modo, segue sua missão e importância: evitar a confusão social, contrastar no horizonte, no conservadorismo da ordem institucional.
No momento político, as manifestações pelo direito de definir pontos a serem observados dos fatos, e apresentar os acontecimentos, colocam em lados opostos grandes redações e parte importante da blogosfera, que usa as redes sociais para o fluxo das mensagens. Sobressai um acirrado debate que envolve diferentes cenários, desde o global, passando pelo regional, nacional até o local. De uma forma ou de outra se vinculam, conforme as expectativas de mudanças nos diversos cenários políticos.
A propósito, quem tem razão: a Rússia, ao defender seus interesses econômicos, ou a Europa, ao desejar a liberdade democrática de países cuja filosofia se volta para os interesses neoliberais, como é o caso da Ucrânia no limite para a guerra? Como consequência, na América Latina qual caminho seguir, o fortalecimento da região em torno da abertura econômica internamente para um bloco, formado pelas principais economias da região, ou seguir os países desenvolvidos, sobretudo considerando as experiências econômicas dos Estados Unidos – na discussão da dependência? No Brasil, melhor se aproximar da China “comunista”, acreditar na política do governo eleito da Venezuela ou defender a abertura econômica, com gradativa redução do peso do Estado do bem-estar social, visto como paquidérmico pelos economistas liberais, que exigem aumento de impostos e travam o comércio de produtos?
Para cada destas questões seria notório observar discussão efervescente no jornalismo dito tradicional, que estabelece sua lógica nas narrativas, com base na realidade que fortalece o poder econômico para o desenvolvimento e igualdade social, apesar da concentração de renda.
Aos vencedores, as narrativas
Os textos formulados por jornalistas que estão nas ruas brasileiras ou mesmo em outros países, cada vez mais envolve a decisão das redações locais e ao mesmo tempo globalizadas, que se informam rapidamente por diferentes agências nacionais e internacionais. Pode-se acreditar, neste sentido, que os enunciados para as narrativas estão formulados quase previamente, assim, como as narrativas do mundo virtual. A batalha pela história e realidade se mostra evidente. Quem pode mais?
No rádio, na TV, jornais e revistas, as fontes fazem parte de uma narrativa hegemônica, mas por estar em disputa, provisórias, porém dominante na capacidade de apresentar a versão dos fatos, sobretudo confiáveis pela tradição e empreendedorismo de séculos. Ainda em formação, o jornalismo online se apresenta com suas versões, ao mesmo tempo conservadoras, radicais e questionadoras de uma ordem de política neoliberal e com abertura global. Porém, cada qual escolhe seus porta-vozes, personagens, sabendo previamente o cenário dos discursos que fazem parte do jogo.
Finalmente, as mediações são muitas para muitos emissores de informação. Assim, pode-se imaginar, na multiplicidade se vê surgir, a possível almejada democracia e liberdade para comunicar-se a partir da diferença, das disputas e diálogos no jornalismo e fora dele. A história narrada com diversos juízos, mãos e efetivamente com influência e interferência das (e nas) redes.
Politicamente há dominantes e dominados, mas num processo de mudança mais rápido do que antes, dos tempos de poucos narradores midiáticos, versões da história e visão de mundo. Enfim, na discutível pós-modernidade, para os vencedores, as narrativas.
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ANTONIO S. SILVA é jornalista e doutorando da UnB
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