Por John B. Judis, reproduzido no Observatório da Imprensa
Tentei me manter afastado da controvérsia criada pela publicação, pelo colunista Nicholas Kristof, do New York Times, de uma carta aberta de Dylan Farrow denunciando que Woody Allen teria abusado dela quando tinha sete anos de idade. Lia algumas das matérias mais antigas, assim como a resposta de Allen na edição de hoje do New York Times, mas não estudei o caso em profundidade. A narrativa do abuso por Dylan Farrow foi intensamente preocupante e, é claro, há casos desse tipo de denúncia que mostraram ser verídicos. Existem também instâncias, no entanto, em que as lembranças da infância se mostraram passíveis de engano. (Por experiência própria, eu reprimi algo que me aconteceu quando tinha sete anos.) Portanto, sou agnóstico em relação à questão de quem fez o quê, mas não sou agnóstico em relação à decência do New York Times ao publicar a coluna de Kristof e a carta aberta de Dylan Farrow.
Sei que os colunistas gozam de ampla liberdade para dizer o que bem entendem, mas não creio que se deva fazer uma concessão quando alguém é acusado de cometer crimes imperdoáveis. Acho que num caso desses devem ser feitos todos os esforços para ser objetivo, e isso inclui quem escreve a matéria. Eu consideraria Nicholas Kristof, que aparentemente é um bom amigo de Mia Farrow, a mãe de Dylan, a última das pessoas capazes de oferecer uma opinião clara e justa da questão. Não se trata de uma opinião sobre seu jornalismo. Eu diria o mesmo sobre qualquer pessoa que fosse escrever sobre um assunto que envolve um amigo.
Despreocupação temerária
Em minha opinião, há uma única circunstância que justificaria que ele escrevesse a matéria. Seria se ele oferecesse alguma nova prova sobre o caso que não tivesse origem diretamente com os Farrow e que alterasse o equilíbrio da verdade para um lado ou para o outro. Poderia ser uma nova testemunha que contradissesse algum dos principais envolvidos. Mas Kristof não tinha novas provas. Dylan Farrow já contara antes sua história à polícia e a repórteres – e, recentemente, a alguém da Vanity Fair. Ela é parte daquilo que, desde o início, consiste em acusações e contra-acusações. E mesmo que Kristof tivesse novas provas, eu teria tentado conseguir alguém sem qualquer participação pessoal para escrever sobre o assunto.
Do jeito que ficou, ele publicou no New York Times – um veículo com uma reputação de precisão que abrange seus colunistas – a versão de Dylan Farrow do que aconteceu entre ela e Woody Allen. Diz ele que pediu a Allen que comentasse, mas mesmo que Woody Allen tenha se recusado – o que é compreensível, em minha opinião, já que Kristof é amigo de Mia Farrow –, ele deveria, pelo menos, ter incluído um relato coerente daquilo que seria o argumento do outro lado. Não acho que se trate de uma dessas questões em que um lado acredita que a Terra seja chata e o outro, redonda, e sim, um caso em que vários tipos de autoridade chegaram a conclusões diametralmente opostas – e isso também vale para homens e mulheres que acompanharam o caso de perto. Portanto, era um tema em que Nicholas Kristof e o New York Times deveriam ter assumido um comportamento extremamente cauteloso. Em vez disso, oNew York Times permitiu que Kristof agisse com uma despreocupação temerária. O New York Times deve um pedido de desculpa aos seus leitores.
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