segunda-feira, 29 de julho de 2013
Clamor das ruas: chega de improvisos
A medicina brasileira está perplexa e, digamos assim, ficou com a pulga atrás da orelha diante de mecanismos eleitoreiros imediatistas que o governo Dilma Rousseff quer impor: o Programa Mais Médicos e os vetos ao projeto de lei que regulamenta a medicina, conhecido como Ato Médico. Um dos objetivos desse programa é contratar profissionais estrangeiros para trabalhar no interior do país e nas periferias das grandes cidades.
A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) entrou na Justiça Federal pedindo a suspensão do Programa Mais Médicos. Os profissionais que optarem pelo contrato temporário, somente seriam liberados se fossem submetidos ao Revalida, para atestar se são capazes de exercer a medicina em nosso país e que comprovem a fluência em português por parte dos candidatos do exterior. O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em ação conjunta defendeu a exigência da revalidação do diploma estrangeiro. Para OAB, “estrangeiro” deve provar competência.
Mais Médicos para quê? Se o Governo Federal não cumpre o mínimo, que é oferecer condições de dignidade para exercer a medicina. Hospitais e prontos-socorros com equipamentos sucateados por esse Brasil afora, sem infraestrutura para o exercício da profissão. E mais, já se tornou rotina à falta de material e medicamentos. Ignorar situações como essas é atestar o desinteresse em implementar ações estruturantes para ficar preso ao transitório.
Todos concordam que já chegou a hora de começar a enumerar os problemas que acontecem no nosso “dia a dia” para que a população fique ciente e comece a gritar com os políticos o que queremos ou não? Contudo, aquilo que o governo federal não queria mostrar, está escancarado: a saúde do Brasil está muito doente. Nossa saúde está em xeque. Mais Médicos para quê? Não temos hospitais nas cidades do interior, e esses poucos centros de atendimento não têm estrutura para ninguém trabalhar. De fato, o governo da presidente investe muito pouco em saúde. Com tão baixo investimento, parece pouco provável que qualquer política pública na área tenha efeito significativo, sobretudo quando se leva em conta o atraso social do país.
Sou de uma época em que se cultuavam nossos mestres e se perguntava: o que eles fizeram para ser tão bons? Hoje em dia, estamos vendo pessoas desinformadas criticando uma classe inteira que dedica uma vida aos pacientes. Infelizmente, no Brasil, para ser um médico conceituado, não se pode trabalhar com o SUS, porque ele não oferece dignidade técnica de trabalho. A classe médica, de um modo geral, é formada por pessoas dignas e competentes, solidárias e muito humanas. Claro que, como em toda profissão, tem suas maças já bem passadas. Acho ridículo culpar os médicos quando o problema de saúde no país vai de mal a pior, por vários fatores, entre eles a falta de vontade política e de gerenciamento.
A saúde não pode ser medida pela doença. As duas são reflexo do índice de qualidade de vida. Sem melhorar as condições de vida, de trabalho, de distribuição de renda, de moradia, não melhoraremos o nível da saúde dos brasileiros.
Nosso país vive um momento de grande efervescência em termos de movimentos sociais. Mas que de certa forma mostram ainda uma grande fragilidade em relação aos encaminhamentos. E uma das questões que mostram grande falha é a situação da saúde pública. Há reclamações nas mais diferentes localidades, onde o número de profissionais é insuficiente e a estrutura hospitalar é inadequada. O assunto saúde exige preparo, providências efetivas e um controle permanente. O momento é dos mais adequados para que as soluções sejam encontradas. Mas para tanto, quem entende do assunto tem de ter o discernimento necessário para apresentar seus argumentos. Chega de improvisos.
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SERGIO BARRA é médico e professor.
sergiobarra9@gmail.com
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