O Estado Islâmico passou a ser um desafio
constante. Ataques recentes e desenfreados de terroristas em três continentes
deixam mais de 130 mortos e consolidam o grupo radical EI como o maior inimigo
do Ocidente. Imagens recuperadas de gravações do circuito interno de câmeras de
segurança em uma mesquita xiita al-Iman al-Sadeq, na capital do Kuwait, exibem
a face mais monstruosa e terrível do extremismo: a crueldade nos ataques a
vítimas inocentes.
A cena lembra filme de terror. Um homem
apressado com a túnica branca típica do vestuário masculino nos países do
Golfo, a dishdasha, entra pelo pórtico da mesquita. Ele parece não ser notado,
para na entrada de uma ampla sala de oração, atrás de 2 mil fiéis xiitas que
estão ajoelhados, rezando. Observa a cena por uns dez segundos, fala algumas
palavras e com uma frieza glacial, aperta um botão. Imediatamente, o local vai
pelos ares, deixando 25 mortos e mais de 200 feridos.
Essa cena foi testemunhada em três continentes,
quase que ao mesmo tempo. Além do ataque ao Kuwait, homens armados atiraram
contra banhistas na Praia de Sousse, um paraíso turístico na Tunísia, num
atentado que deixou pelo menos37 mortos e 36 feridos. Na França, um homem
ligado ao movimento islâmico radical salafista decapitou uma pessoa e feriu
duas antes de tentar explodir uma usina de gás industrial em Saint-Quentin-Fallavier ,
sul de Lyon.
Todos esses ataques levam a impressão digital
dos extremistas do EI, radicais que conquistaram territórios na Síria e no
Iraque e hoje governa uma área equivalente à da Jordânia, habitada por 6
milhões de pessoas. O EI ganha apoio a cada dia. Seus tentáculos já alcançam o
Norte da África, Ásia e Oceania. Para complicar há também um crescente número
de militantes independentes, conhecidos como “lobos solitários”, dispostos a
agir sozinhos em nome do terror islâmico. Em menos de dois anos de ação, o EI
se tornou o grupo jihadista mais perigoso do mundo e o maior desafio para as
potências ocidentais e as principais lideranças do Oriente Médio.
Um grande número de analistas políticos, bem
como periódicos na Europa e nos Estados Unidos, como o diário britânico The
Guardian e o semanário americano Time, sustentam que os atentados “não foram
coordenados”, como, por exemplo, aqueles ocorridos em Londres, dez anos atrás.
As publicações percebem a gravidade dos ataques, mas por ora parecem rejeitar a
existência de uma “coordenação”, para não semear nas populações mundo afora o
objetivo-mor do Daish – grupo que reivindicou o atentado em Sousse –, insuflar
o medo.
Na França, em janeiro, após o massacre do
Charlie Hebdo, que mataram dez jornalistas e mais sete pessoas perderam a vida
em sucessivos ataques em Paris, François Hollande disse: “Emoção não é a
única resposta”. Acrescentou ser necessário pensar em como prevenir os
atentados. Outras autoridades mais céticas, ou realistas, dizem: “Esta guerra
vai durar muitos anos”.
Na verdade, transparente é o seguinte: o EI
transcendeu fronteiras. Se antes lutava no Iraque e na Síria, agora formulou um
programa de atentados terroristas em solo estrangeiro. Criou ,
em suma, o terrorismo sem fronteira. E tudo leva a crer, que esse projeto
terrorista parece superar ao da Al-Qaeda e de outros grupos. Atentados podem
acontecer a qualquer momento. O objetivo é sempre o mesmo: surpreender e matar
o maior número possível de “inimigos”, isto é, estrangeiros.
Faz parte do jogo, assustar, humilhar e o
esperneio das autoridades que não sabem como parar esses assassinos. Agora, o
EI chegou ao Sinai. Jihadistas islâmicos lançaram uma onda de ataques contra
bases militares do Egito na Península do Sinai. O país confirmou a morte de 64
soldados nas ações, reivindicadas pelo EI. Os ataques aconteceram um dia depois
de o presidente, Abdel Fatah al-Sisi, comprometer-se a intensificar a batalha
contra os radicais do EI. Essa expansão é um risco para a África e para Israel.
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SERGIO BARRA é médico e professor
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