terça-feira, 14 de julho de 2015

Terror sem fronteiras



O Estado Islâmico passou a ser um desafio constante. Ataques recentes e desenfreados de terroristas em três continentes deixam mais de 130 mortos e consolidam o grupo radical EI como o maior inimigo do Ocidente. Imagens recuperadas de gravações do circuito interno de câmeras de segurança em uma mesquita xiita al-Iman al-Sadeq, na capital do Kuwait, exibem a face mais monstruosa e terrível do extremismo: a crueldade nos ataques a vítimas inocentes.
A cena lembra filme de terror. Um homem apressado com a túnica branca típica do vestuário masculino nos países do Golfo, a dishdasha, entra pelo pórtico da mesquita. Ele parece não ser notado, para na entrada de uma ampla sala de oração, atrás de 2 mil fiéis xiitas que estão ajoelhados, rezando. Observa a cena por uns dez segundos, fala algumas palavras e com uma frieza glacial, aperta um botão. Imediatamente, o local vai pelos ares, deixando 25 mortos e mais de 200 feridos.
Essa cena foi testemunhada em três continentes, quase que ao mesmo tempo. Além do ataque ao Kuwait, homens armados atiraram contra banhistas na Praia de Sousse, um paraíso turístico na Tunísia, num atentado que deixou pelo menos37 mortos e 36 feridos. Na França, um homem ligado ao movimento islâmico radical salafista decapitou uma pessoa e feriu duas antes de tentar explodir uma usina de gás industrial em Saint-Quentin-Fallavier, sul de Lyon.
Todos esses ataques levam a impressão digital dos extremistas do EI, radicais que conquistaram territórios na Síria e no Iraque e hoje governa uma área equivalente à da Jordânia, habitada por 6 milhões de pessoas. O EI ganha apoio a cada dia. Seus tentáculos já alcançam o Norte da África, Ásia e Oceania. Para complicar há também um crescente número de militantes independentes, conhecidos como “lobos solitários”, dispostos a agir sozinhos em nome do terror islâmico. Em menos de dois anos de ação, o EI se tornou o grupo jihadista mais perigoso do mundo e o maior desafio para as potências ocidentais e as principais lideranças do Oriente Médio.
Um grande número de analistas políticos, bem como periódicos na Europa e nos Estados Unidos, como o diário britânico The Guardian e o semanário americano Time, sustentam que os atentados “não foram coordenados”, como, por exemplo, aqueles ocorridos em Londres, dez anos atrás. As publicações percebem a gravidade dos ataques, mas por ora parecem rejeitar a existência de uma “coordenação”, para não semear nas populações mundo afora o objetivo-mor do Daish – grupo que reivindicou o atentado em Sousse –, insuflar o medo.
Na França, em janeiro, após o massacre do Charlie Hebdo, que mataram dez jornalistas e mais sete pessoas perderam a vida em sucessivos ataques em Paris, François Hollande disse: “Emoção não é a única resposta”. Acrescentou ser necessário pensar em como prevenir os atentados. Outras autoridades mais céticas, ou realistas, dizem: “Esta guerra vai durar muitos anos”.
Na verdade, transparente é o seguinte: o EI transcendeu fronteiras. Se antes lutava no Iraque e na Síria, agora formulou um programa de atentados terroristas em solo estrangeiro. Criou, em suma, o terrorismo sem fronteira. E tudo leva a crer, que esse projeto terrorista parece superar ao da Al-Qaeda e de outros grupos. Atentados podem acontecer a qualquer momento. O objetivo é sempre o mesmo: surpreender e matar o maior número possível de “inimigos”, isto é, estrangeiros.
Faz parte do jogo, assustar, humilhar e o esperneio das autoridades que não sabem como parar esses assassinos. Agora, o EI chegou ao Sinai. Jihadistas islâmicos lançaram uma onda de ataques contra bases militares do Egito na Península do Sinai. O país confirmou a morte de 64 soldados nas ações, reivindicadas pelo EI. Os ataques aconteceram um dia depois de o presidente, Abdel Fatah al-Sisi, comprometer-se a intensificar a batalha contra os radicais do EI. Essa expansão é um risco para a África e para Israel.

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SERGIO BARRA é médico e professor

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