terça-feira, 11 de outubro de 2022

Jatene anuncia apoio a Bolsonaro. Nunca Jatene foi tão pouco Jatene.

O ex-governador Simão Jatene anunciou na tarde desta segunda-feira (10), num vídeo postado em seu perfil no Facebook (assistam acima), que apoia Jair Bolsonaro no segundo turno presidencial, marcado para o dia 30 de outubro. Até este momento em que o Espaço Aberto publica este comentário, a manifestação já conta com 57 mil visualizações, 1,2 mil comentários e 6,7 mil curtidas. E crescendo.

Essa audiência toda não é à-toa. Jatene, até agora, foi o único, dentre os governadores do Pará, a chegar três vezes ao governo do estado. Antes disso, já consolidara uma respeitável reputação no magistério universitário e no serviço público, onde exerceu, por exemplo, o cargo de secretário de Planejamento no primeiro mandato do governador Jader Barbalho, então do PMDB. Na vida partidária, Jatene notabilizou-se como um dos quadros históricos do PSDB, tanto no Pará como em nível nacional.

Por toda essa trajetória, um posicionamento de Jatene, neste momento crucial da vida política nacional, não poderia passar imune a julgamentos. Assiste ao ex-governador, evidentemente, todo o direito de optar por quem que seja - ou até mesmo de não optar por ninguém. Porque assim é na vida democrática. Mas seus posicionamentos, é claro, estarão sempre sujeitos ao crivo da opinião pública, porque, repita-se, ele não é um qualquer.

Opção surpreendente - Diga-se aqui, portanto, sobre a opção do ex-governador: ela é surpreendente. Ainda que Jatene a tenha fundamentado num vídeo de quase cinco minutos, a essência dos argumentos que apresenta, quando contraposta ao apreço que, inegavelmente, o ex-governador sempre demonstrou pelos ideais democráticos, revela indisfarçavelmente uma espécie de acerto de contas do ex-tucano com o PT, partido que sempre se opôs a seus governos de forma implacável, virulenta e excludente (é preciso reconhecermos isso).

Junte-se a isso tudo - ao histórico de oposição violenta do PT aos governos tucanos, inclusive aos três de Jatene - a cooptação (mas podem chamar, se quiserem, de sequestro) do PT e do próprio PSDB pelo governo Helder Barbalho, e teremos um Jatene ferido pessoalmente, no fundo d'alma, pela oposição sem tréguas dos Barbalho durante os dois últimos governos do então tucano. Uma oposição, registre-se, que se estendeu após Jatene deixar o governo, a um ponto em que o ex-governador já chegou a dar indicações de que estaria prestes a ser alvo de medidas coercitivas da Polícia Civil, sob o comando de Helder.

Mas não seriam todas essas razões - de ordem local, digamos assim - bastantes o suficiente para Jatene negar-se a apoiar Lula e preferir Bolsonaro?

Não. A juízo do blog, não.

Porque há figuras exponenciais - e igualmente históricas - que ainda são do PSDB ou estiveram filiadas ao partido até pouco tempo e também sofreram fortíssima oposição do PT e foram castigadas por conjunturas locais, mas anunciaram publicamente que apoiam Lula. Não se descarta que tais personagens tenham feito essa opção revirando as próprias entranhas. Mas fizeram.

Os exemplos de FHC e Serra - Nesse caso estão duas das maiores expressões nacionais do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em oito anos teve um PT enfurecido em seus calcanhares, e o ex-governador de São Paulo (por duas vezes) José Serra. Aliás, além de ter sido alvo permanente de petistas, Serra também foi o mais visado no chamado Escândalo dos Aloprados, que trouxe à tona um dossiê com denúncias jamais comprovadas contra o tucano.

Pois mesmo assim, Fernando Henrique e Serra, apenas para citar esses dois, anunciaram apoio a Lula. Por quê? Porque ambos não estão pensando muito em Lula, mas em defender a democracia brasileira.

Há três momentos específicos na fala de Jatene que merecem comentários.

1. O atual presidente, com acertos e erros, é verdade, tem governado sob condições adversas e sob um sufocante ataque da grande imprensa, que sem qualquer pudor manipula e distorce informações, agredindo a democracia que desavergonhadamente diz defender.

Doutor Jatene, é mesmo a grande Imprensa que, sem qualquer pudor, manipula e distorce informações? E o que o senhor dirá do presidente mais mentiroso - o mais compulsivamente mentiroso - da história do País, que já disseminou mentiras (criminosas, escandalosas e de inspiração inegavelmente fascista) para desacreditar inclusive o sistema democrático, quando dizia e diz que as urnas eletrônicas não são seguras? Essas mentiras são uma mentirinha qualquer, no entender de Jatene? São, tipo assim, meras insinuações, meras exasperações verbais às quais ninguém deve ter dar crédito? O governador Simão Jatene seria capaz, alguma vez, de fazer uma brincadeirinha como essa?

2. É necessário minimizar o que nos divide e valorizar o que nos une e aproxima, acreditando que, sob o olhar de uma sociedade mais madura e politizada, o atual presidente, reeleito e sob condições mais favoráveis, inclusive pela nova composição do Legislativo, possa levar o País a avançar, renovando a esperança dos brasileiros. O Brasil precisa, o Pará agradece.

Doutor Jatene, mas não será, neste momento, a preservação da democracia, a sua integridade e consolidação o que deve, verdadeiramente, nos unir e aproximar? O ex-governador acredita mesmo que Bolsonaro, que já fez apologia à tortura (isso terá sido mero exagero verbal?), tem apreço à democracia? E sobre a nova composição do Legislativo, fator de esperança dos brasileiros, conforme registra o ex-governador, pode-se acreditar nisso com novas bancadas que têm, por exemplo, um Ricardo Salles e um Pazuello, dois espécimes que dignos de envergonhar a espécie humana?

3. Reconheço que o atual presidente não tem tido o devido cuidado em suas manifestações verbais, especialmente quando revela sua indignação, diante de provocações muitas vezes descabidas. De outro lado, só a desinformação, a ingenuidade ou a má-fé não reconhecem que tais manifestações, que ressalto e reputo desnecessárias e equivocadas, têm sido maldosamente utilizadas e rotuladas como ataques à democracia, restritivas de direitos e até agressivas à vida, até hoje não tiveram qualquer fato concreto que configurassem tais acusações.

Doutor Jatene, é fato, absolutamente veraz e indesmentível, que Bolsonaro retardou a compra de vacinas e pretendeu, maldisfarçadamente e criminosamente, que brasileiros contraíssem a Covid para adquirirem a tal imunidade de rebanho.
Doutor Jatene, é fato, absolutamente veraz e indesmentível, que agindo assim Bolsonaro cometeu um atentado - horrendo, horroroso, tenebroso - contra a vida. Contra a vida humana, registre-se, e não contra a vida do coronavírus Covid-19.
Doutor Jatene, é fato, absolutamente veraz e indesmentível, que Bolsonaro debochou, inúmeras vezes, de pacientes de Covid que morriam e agonizavam, como na vez em que simulou um paciente sofrendo com falta de ar.
Doutor Jatene, nós é que dizemos: somente a desinformação, a ingenuidade ou a má-fé podem levar a que ignoremos o fato (igualmente inegável e irretorquível) de que a postura fascista de Bolsonaro não se cinge à sua verborragia contra instituições democráticas, como o Poder Judiciário. Ele efetivamente já agiu concretamente para desacreditar as urnas eletrônicas e já disse que só aceitará uma eventual derrota se as eleições forem limpas. Isso não é apenas a expressão de opiniões, doutor Jatene, mas a demonstração concreta, configurada e real das pretensões de um elemento que não tem o menor compromisso com o País, mas com uma seita que o segue.
Para dizer que votará em Bolsonaro, Jatene não precisou dizer: "Eu votarei em Bolsonaro".
Para se convencer de que Bolsonaro é um fascista e um antidemocrata, Jatene precisa esperar que, um dia qualquer, o presidente funde o Partido Fascista e atravesse a Praça dos Três Poderes, com armas em punho, para invadir o Supremo, executar alguns de seus ministros e depois fechá-lo? Só assim Jatene acreditará no verdadeiro perfil fascista de Bolsonaro?

Não temos, ninguém tem, a pretensão de convencer Jatene a rever seu posicionamento. Porque cada um vota em quem quiser.
Mas temos, como dito, o direito de discordar de uma figura pública das dimensões dele.
Discordamos, pois.
Mas bom voto, governador.
E saudações democráticas!
Mas que Bolsonaro não nos veja saudando-nos democraticamente. Porque a democracia lhe repugna (a ele, Bolsonaro, fique claro).

3 comentários:

Clara Costa disse...

É decepção que se diz, ou tem outra mais profunda? Diante dos "argumentos" do ex-governador, rasgo aqui neste Espaço Aberto os anos de trabalho (e dedicação, sim) por ocasião dos três mandatos do ex-governador Jatene.

Anônimo disse...

Parabéns, excelentes ponderações sobre a opinião do Douto ex-Governador Jatene. "Por outro lado, só a desinformação, não reconhece" que o embrião de jumento "agride as liberdades fundamentais". Portanto, "amigos e amigas" é necessário valorizar nosso voto e o respeito a democracia, tirando essa peste do poder.

Anônimo disse...

O Luladrão é quem fala em regular a mídia, coisa que quase aconteceu no Pará recentemente, com a clara conivência de políticos de esquerda, diga-se de passagem, (mas não são eles os defensores da liberdade?) mas é o embrião de jumento que agride as liberdades fundamentais, realmente, o pior cego é aquele que não quer ver, ou pior ainda, finge que não ver.