Como faço há trocentos anos, acompanhei na manhã deste sábado (08) - ensolarada e calorenta, típica de uma Belém no mês de outubro - a Romaria Fluvial.
Uma experiência sempre comovente. Idescritivelmente emocionante.
Eu me encontrava no navio Rondônia.
Até que, já por volta das 11h, todos nos deparamos ao nosso lado, bem perto, com a corveta H37 - Garnier Sampaio, que conduzia a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré.
Até então, reinava no barco o espírito de paz, concórdia e amor transbordante, que, aliás, estão em sintonia com o Círio.
Pois a emoção de ver a Santinha assim tão de perto foi repetinamente quebrada por brados, urros, aplausos e impropérios. Tudo ao mesmo tempo.
É que, na mesma corveta H37, acenando para os passageiros do Rondônia, estava Jair Bolsonaro.
Ao mesmo tempo em que muitos de seus simpatizantes o aplaudiam, outros tomaram-se de fúria. Uma moça, ao meu lado, esbraveja xingamentos em altos debibéis, condenando os que, segundo ela, se aproveitavam do Círio para fazer proselitismo político.
Resultado: todos os que tinham pedido perdão dos seus pecados até 1 minuto antes voltaram a pecar de novo - e muito -, dominados pelo ódio.
Resumo da ópera: Bolsonaro, esteja onde estiver, é o caos.
Esteja onde estiver, Bolsonaro é a confusão, o ódio, a empulhação, o embuste, a ignorância, a insensatez, a ousadia criminosa.
É isso que esse cidadão desperta.
O elemento foi parar a bordo da corveta H37, onde se encontrava, evidentemente, toda a alta hierarquia da Igreja Católica no Pará, poucas horas depois de a Arquidiocese de Belém ter divulgado a nota acima, afirmando explicitamente não ter convidado nenhuma autoridade, inclusive em nível federal, para ingressar na Corveta Garnier Sampaio, mas ressalvando que a responsabilidade pelo controle do acesso de qualquer pessoa à embarcação é da Marinha.
Daí se conclui facilmente que Bolsonaro, espertamente, mandou a Marinha admiti-lo como convidado na própria corveta que conduz a Imagem Peregrina e, com isso, exibiu-se fazendo seu proselitismo político-eleitoral, em franca afronta à própria Igreja Católica e aos católicos do Pará.
Bolsonaro, mesmo como presidente e como candidato, estaria proibido de acompanhar o Círio? Claro que não. Mas que o fizesse em ambiente ou através de meios que, de nenhuma forma, o vinculassem à Igreja Católica.
Por exemplo: não haveria o menor problema em Bolsonaro alugar, à expensa de sua campanha, uma canoa, um jet ski, uma lancha para 550 pessoas, uma jangada, seja lá o que fosse. Bolsonaro, se quisesse, poderia até fazer um Círio só pra ele e para os bolsonaristas que o seguem. Mas nada o autorizaria constranger - espertamente, audaciosamente, irresponsavelmente - a Igreja Católica, embarcando na mesma embarcação em que estava a alta hierarquia da própria Arquidiocese, que já rejeitara, antecipadamente, qualquer tentativa de usar a maior festa dos católicos paraenses para fazer proselitismo poítico-eleitoral.
Agora, o mais deplorável, inacreditável e risível, para não dizer ridículo, é bolsonarista alegando ser contraditório os mesmos que condenam Bolsonaro a se portar assim durante o Círio não adotarem o mesmo juízo em relação a Janja da Silva, mulher de Lula, que estará em Belém - se é que já não está - para participar da romaria.
Parem com isso. Essa é uma comparação completamente estapafúrdia, idiota e imbecil (não sei se fui claro o suficiente).
Por quê?
Pelo simples fato de que, a menos que o mar vire sertão e um bolsonarista fanático seja capaz de articular lé com cré, a mulher de Lula não estará em corveta da Marinha, não vai dentro da corda, não estará no interior de veículo da diretoria da Festa - nada, enfim. Ao que se sabe, ela participará como cidadã - ou no meio da procissão ou assistindo de algum apartamento que fica no percurso da romaria ou na Varanda da Fáfá, sabe-se lá.
Agora, convém esperarmos para ver como será a conduta de Janja na procissão.
Isso é fazer proselitismo político? Claro que não. Porque nem Janja, nem ninguém, pode ser interditado de participar do Círio, da mesma forma como Bolsonaro não estaria proibido de fazê-lo na condição de cidadão.
Mas vocês sabe como é: para sustentar o mito que cerca a figura nefasta e debochada de Bolsonaro, o bolsonarismo é capaz de dizer até que o mar, em verdade, é um sertão.
Por isso, o bolsonarismo não se assusta com o caos, a confusão, o ódio, a bagunça e a irresponsabilidade.
Porque Bolsonaro é o caos, a confusão, o ódio, a bagunça e a irresponsabilidade.
4 comentários:
Este ser das trevas, chamado Bolsonaro é TOTALMENTE um imbecil sem freios e sem limite de decência ou respeito, não é católico e NUNCA se interessou pelo Cirio antes deste pavor em ser derrotado pelo LULA, um excremento INDECENTE e sem moral pra continuar à frente do Brasil...QUE NOSSA SENHORA NOS CONCEDA ESSA GRAÇA DE AFASTAR ESTE MAL DE TODOS NÓS...AMÉM
Quem manifestou ódio???Quem proferiu impropérios??? Certamente não foram os bolsonaristas
de Anônimo para Anônimo (10:16), O ódio é manifestado tão somente pela presença do jumento em local sagrado aos católicos, que desejam apenas manifestação de fé!
Ué??, afinal quantos círios essa tal de janja já tinha participado aqui no Pará?, se isso também não for proselitismo político, então logo, Lula não é ladrão.
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