Por ANA DINIZ, jornalista, em seu blog Na
rede
Na História do Brasil há vários momentos como
esse que estamos vendo nascer agora: uma liderança se projeta e encarna a
utopia; a utopia de cada um de repente toma corpo e palanque. Aí a urna vira
cartola de mágico: é como se todas as mazelas ficassem curadas de uma só vez.
Aprendizes de mágico sabem como fazer um coelho
sair da cartola e a população sabe, perfeitamente bem, que não passa de um
truque. No entanto deixa-se envolver pela magia do momento e, a cada vez, se
maravilha. Mas os mágicos não farão o número se não dispuserem de um coelho
real, de carne e osso, bem treinado e escondido no fundo falso da cartola.
Com as urnas não há coelho escondido: elas se
esgotam com o último registro. Mas a magia da utopia enleva e crer é melhor que
descrer. Até o dia seguinte, sob as luzes da realidade que permitirão
distinguir-se o falso do verdadeiro.
Esses momentos cívicos são bonitos. A população
fecha os olhos e salta no escuro, confiante nas luzes do arco-íris no fundo da
cachoeira. Pena que sejam apenas reflexos prismáticos: o pote de ouro não
estará lá.
Mas haverá, talvez, diamantes no fundo do rio?
Ou apenas pedras? No complexo social, não há drones para saber o que se passa.
Há que conferir pessoalmente.
A pré-eleição não é animadora. Esgotada a
geração das diretas, o conjunto que a substitui está a quilômetros abaixo dela,
em qualidade e coragem. Não há estadistas, há negociantes. Renan Calheiros e
Ricardo Lewandowski acabam de montar uma armadilha para o próximo presidente,
seja qual for: 34% de reajuste para o Judiciário, o início de uma corredeira
que pode atirar o país num poço bem longe da cachoeira e de seu arco-íris. Para
deter essa corredeira, há que pagar o preço de uma crise institucional. O
primeiro passo do novo presidente será uma barganha com os dois outros Poderes.
A plataforma dos três candidatos com maior
intenção de votos é conservadora, banqueira e populista. Está longe, muito
longe, de responder à voz rouca das ruas do Sudeste/Sul, e sequer ouve as
tímidas vozes do Norte. A montanha russa da política brasileira pode fazer um
looping nesta eleição – mas, a menos que o carrinho saia dos trilhos e se
despedace, vai continuar o percurso descendente desta fase.
Ou seja: o salto não é tão no escuro assim. Com
sorte, dá para alcançar uma laje segura que sirva de degrau.
PS: De repente apareceu nesse texto um monte de
palavras assinaladas, não sei porque nem por quem. Por favor, desconsiderem. Eu
não autorizei anúncios e nem esses cacos.
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