segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O que se pode esperar?


Após as emoções que envolveram a trágica morte do candidato à Presidência da República, Eduardo Campos, uma parte da população brasileira acompanhou chocada a cobertura do acidente que vitimou o ex-governador de Pernambuco e pôs um precoce ponto final à sua promissora carreira política. A morte de Campos não significa a morte de sua ideologia, que está presente no pensamento de muitos brasileiros. Pouco antes do acidente, ele afirmou que “o Estado deve servir à sociedade, e não o contrário”. Os brasileiros estão cansados de pagar tantos impostos para manter um Estado cheio de corruptos e perdulários. Assim como ele deixou o seu testemunho, o povo não vai desistir. O País será bem diferente quando as escolas brasileiras reunirem estudantes de todas as classes sociais. A implementação dessa ideia lhe seria uma grande homenagem.
Será que a morte recente do ex-governador Campos influenciará nos votos a sua sucessora? É muito difícil vislumbrar. Ainda está muito cedo. Marina tem se tornado uma candidata da contradição. Ela sempre teve posições intolerantes, ideias radicais e falta de clareza nas propostas. Sua volta à corrida presidencial já divide aliados e desperta mais dúvidas que certezas. Tem pouca ou quase nenhuma maleabilidade para negociações partidárias. Quando da formação da chapa original, Marina divergia do próprio Campos em temas básicos da economia à política e mesmo nas questões ambientais e de cunho social. No novo papel, move-se como que imbuída de uma missão divina e parece, por isso mesmo, pouco disposta a ouvir opiniões ou fazer concessões. Está com a mesma postura de quatro anos atrás. Precisa ser mais agregadora e ter mais transparência ao falar de mudanças.
Na verdade, o próximo governo e a próxima oposição concordarão que há mudanças necessárias. Que tal garantir que elas ocorram? O governo da presidente Dilma Rousseff age como se fosse possível omitir ao eleitor seu plano econômico para um eventual segundo governo. Como se fosse correto pedir ao cidadão um cheque em branco. A omissão não seria desculpável nem se a situação econômica do país fosse animadora. Na situação preocupante em que nos encontramos, é imperativo que os candidatos apresentem agendas claras com suas propostas de mudanças.
A taxa básica dos juros está alta, deve ultrapassar os 11% ao ano. Isso freia drasticamente a produção. Nosso PIB em 2014 não deve ultrapassar os 3%. Pelas projeções de julho do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2014 o Brasil crescerá menos que os países ricos e que os países emergentes. Mesmo com a freada na produção, a inflação persiste e chegará fim do ano próximo de 7%. Uma questão persiste: o governo não vê nada a melhorar e a corrigir na economia brasileira. A presidente e candidata mostraria grandeza se liderasse um movimento por reformas. O país precisa de mudanças que tornem investir e produzir mais fácil, mais barato e mais seguro.
Ademais, ainda temos que aturar, durante o horário político, os candidatos querendo se superar. Alguns políticos se tornaram engraçados, fazem caras e bocas para todos os gostos e acham que levamos a sério tantas pantominas. Em dado momento, investem-se de fachadas carrancudas, de apóstolos da ética e da decência, na simulação risível de um Paulo Maluf, não cabe levar a sério, nem estranhar, nem rebater - apenas gargalhar. Às vezes é uma piada as atitudes de alguns políticos e também de alguns companheiros de partido. O mais divertido é que, além de redimir a humanidade dos pecados alheios, estufam o peito na pretensão desmedida de iluminar corações e mentes de milhões e milhões de eleitores. É como se essa encenação, em geral chatíssima, trouxesse o toque de uma revelação sobrenatural. Na maioria das vezes, a título de preservar uma isenção que nunca teve, uma imparcialidade para lá de farisaica, com caneladas grosseiras e, pior, com insultos generalizados. O que se pode esperar?

Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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