Por ANA DINIZ, jornalista, em seu blog Na rede
Entre o eleitor e o candidato existe uma tela onipresente. E, se o meio é também uma mensagem, é preciso saber qual a mensagem dessa tela.
Ela é plural: grande, no cinema; média, na televisão; pequena, nos computadores e assemelhados; micro, nos comunicadores portáteis.
Ela não conduz à realidade, mas ao reality-show: isso que ela mostra, não nos atinge. Geralmente, nos distrai por um momento – e vamos para o próximo. É um meio superficial, gôndola de supermercado, sai um produto, entra outro. Aqui e ali se recolhe uma informação útil. E, como o nosso cérebro não é infinito, memorizamos essa informação e apagamos o resto.
No cinema, a tela é unidirecional. Ela passa um recado, mas só aquele, e vai direto para a impressão emocional. Filmes com temas políticos são sempre de propaganda (como “A rainha” e “O discurso do rei”, feitos para compensar o efeito Lady Di sobre a família real inglesa) e apelam diretamente para o subliminar. Graças a Deus, são difíceis de fazer e quase sempre chatos de ver.
Na televisão, a tela onipresente é também fracionária: ela se divide em segundos. Assim, há que falar em segundos. Se o tema é complexo, terá que ser simplificado. O resultado é uma vala comum de chavões, porque não há como explicar em segundos nenhuma política pública. A distorção do meio é cruel, reduz a insulto o que deveria ser crítica. Enéas se apresentou ao país em 30 segundos com um bordão de teatro que lhe rendeu votos mas nenhuma densidade política. É politicamente inexpressivo.
Nos computadores e nas telas dos portáteis ligados à internet, onde a leitura é obrigatória, há mais espaço para conteúdos e também menos pressa: você sempre pode guardar para ler depois. Mas aqui é o brilho da tela que cria outro tipo de distorção. Um quadro de Van Gogh na tela do computador emociona muito mais do que o quadro real: este não tem brilho nem transparência. A mistura desordenada com os anúncios (que saltam em cima do que você está lendo) nivela por baixo qualquer assunto, o transforma num produto a ser consumido. Além disso, o texto deve ser também sintético: ler com luz na cara cansa. O leitor desiste logo.
Finalmente, a telinha do portátil que recebe e transmite mensagens e clipes. Aí só dá para algumas palavras, para a discussão curta e grosseira. Ou seja, xingamentos, que também são parte de toda campanha eleitoral que se preze. Mas que só permitem um juízo de valor: avaliar a capacidade do candidato na pronta resposta e o grau de civilidade que tem.
O meio que transmite a mensagem cria distorções enormes, pois: o eleitor tem somente uma imagem do candidato; não tem a possibilidade de contribuir com seu esforço para a vitória de A ou B; não consegue saber a diferença entre uns e outros, exceto quando a proposta é radical. O resultado é o que estamos vendo: uma campanha vazia, produto direto da sua concentração nas mídias audiovisuais.
As mídias audiovisurais deveriam ser apenas uma parte da campanha; mas, com as restrições draconianas impostas por um falso moralismo – afinal de contas, ninguém vota contra seus próprios interesses imediatos e posso contar muitos causos que comprovam isso – o debate político virou, mesmo, um show ensaiado. Conseguiram acabar com a festa das ruas. O candidato emergente – aquele que fazia uma coleta entre amigos para pagar meia dúzia de camisas ou imprimir seus santinhos, financiar o som da festa do santo, contratar a van para levar seus eleitores à urna – dançou. Tem que barganhar com os caciques um tempinho para se apresentar na tevê – e esperar que seu carisma, se o tiver, faça o resto.
Que pena!
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