terça-feira, 3 de setembro de 2013

O fascismo do PT contra os médicos

LUIZ FELIPE PONDÉ

O PT está usando uma tática de difamação contra os médicos brasileiros igual à usada pelos nazistas contra os judeus: colando neles a imagem de interesseiros e insensíveis ao sofrimento do povo e, com isso, fazendo com que as pessoas acreditem que a reação dos médicos brasileiros é fruto de reserva de mercado. Os médicos brasileiros viraram os "judeus do PT".
Uma pergunta que não quer calar é por que justamente agora o governo "descobriu" que existem áreas do Brasil que precisam de médicos? Seria porque o governo quer aproveitar a instabilidade das manifestações para criar um bode expiatório? Pura retórica fascista e comunista.
E por que os médicos brasileiros "não querem ir"?
A resposta é outra pergunta: por que o governo do PT não investiu numa medicina no interior do país com sustentação técnica e de pessoal necessária, à semelhança do investimento no poder jurídico (mais barato)?
O PT não está nem aí para quem morre de dor de barriga, só quer ganhar eleição. E, para isso, quer "contrapor" os bons cidadãos médicos comunistas (como a gente do PT) que não querem dinheiro (risadas?) aos médicos brasileiros playboys. Difamação descarada de uma classe inteira.
A população já é desinformada sobre a vida dos médicos, achando que são todos uns milionários, quando a maioria esmagadora trabalha sob forte pressão e desvalorização salarial. A ideia de que médicos ganham muito é uma mentira. A formação é cara, longa, competitiva, incerta, violenta, difícil, estressante, e a oferta de emprego decente está aquém do investimento na formação.
Ganha-se menos do que a profissão exige em termos de responsabilidade prática e do desgaste que a formação implica, para não falar do desgaste do cotidiano. Os médicos são obrigados a ter vários empregos e a trabalhar correndo para poder pagar suas contas e as das suas famílias.
Trabalha-se muito, sob o olhar duro da população. As pessoas pensam que os médicos são os culpados de a saúde ser um lixo.
Assim como os judeus foram o bode expiatório dos nazistas, os médicos brasileiros estão sendo oferecidos como causa do sofrimento da população. Um escândalo.
É um erro achar que "um médico só faz o verão", como se uma "andorinha só fizesse o verão". Um médico não pode curar dor de barriga quando faltam gaze, equipamento, pessoal capacitado da área médica, como enfermeiras, assistentes de enfermagem, assistentes sociais, ambulâncias, estradas, leitos, remédios.
Só o senso comum que nada entende do cotidiano médico pode pensar que a presença de um médico no meio do nada "salva vidas". Isso é coisa de cinema barato.
E tem mais. Além do fato de os médicos cubanos serem mal formados, aliás, como tudo que é cubano, com exceção dos charutos, esses coitados vão pagar o pato pelo vazio técnico e procedimental em que serão jogados. Sem falar no fato de que não vão ganhar salário e estarão fora dos direitos trabalhistas. Tudo isso porque nosso governo é comunista como o de Cuba. Negócios entre "camaradas". Trabalho escravo a céu aberto e na cara de todo mundo.
Quando um paciente morre numa cadeira porque o médico não tem o que fazer com ele (falta tudo a sua volta para realizar o atendimento prático), a família, a mídia e o poder jurídico não vão cobrar do Ministério da Saúde a morte daquele infeliz.
É o médico (Dr. Fulano, Dra. Sicrana) quem paga o pato. Muitas vezes a solidão do médico é enorme, e o governo nunca esteve nem aí para isso. Agora, "arregaça as mangas" e resolve "salvar o povo".
A difamação vai piorar quando a culpa for jogada nos órgãos profissionais da categoria, dizendo que os médicos brasileiros não querem ir para locais difíceis, mas tampouco aceitam que o governo "salvador da pátria" importe seus escravos cubanos para salvar o povo. Mais uma vez, vemos uma medida retórica tomar o lugar de um problema de infraestrutura nunca enfrentado.
Ninguém é contra médicos estrangeiros, mas por que esses cubanos não devem passar pelas provas de validação dos diplomas como quaisquer outros? Porque vivemos sob um governo autoritário e populista.
Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".

Artigo publicado na Folha de S.Paulo de 02.09.2013

9 comentários:

Anônimo disse...

Postei dias atrás em comentário nesse blog:

O governo quer dizer que agora somos preconceituosos. É uma forma de se defender atacando.

30/8/13 21:56

Parece que não estou sozinho na tese.
Acorda Brasil! Ainda é tempo, senão nossos caminhos toparão com os mesmos da Venezuela ou o que bem, muito, muitíssimo pior, com os da Bolívia!

Anônimo disse...

Quem escreve um livro intitulado "contra um mundo melhor" tem que ser também contra "mais médicos".

Anônimo disse...

Reitero a pergunta que não quer calar:
Se a importação de médicos, seja lá de onde for, é a panacéia miraculosa para solucionar a saúde da "saúde brasileira", por que não foi implantada no primeiro gobierno do grande "pai de todos" Lula? E nem no início do gobierno da "mãe do pac"?

Em tempo: alguém ainda se lembra da afirmação do Lula no final do seu gobierno, de que a "saúde pública neste país está quase perfeita"?!
Hein cumpanherus? Ou é mentira?!

Importação de médico: mais um produto das "Organizações Tabajara", orra meu!!!

Anônimo disse...

Criticar um autor apenas pelo título do livro...sei não; soa vazio.

Anônimo disse...

Só discordo de dizer que o governo é comunista; os banqueiros e bancos são os que ganharam e ganham mais dinheiro "como nunca se viu neste país".
No restante, o texto é a dura verdade.

Paulista, da Região Metropolitana de Campinas disse...

"MAIS MÉDICOS" (Governo PT)

Vejo um "OK" benéfico para nossa sociedade: essa de trazer médicos estrangeiros, principalmente médicos cubanos, provocará em significativa parcela da classe médica brasileira a colocar os pés no chão, calçar as sandálias da humildade e deixar a soberba de lado, a deixar essa mania de pensar que constituem uma "elite merecedora de admiração e respeito por parte dos inferiores cidadãos brasileiros".
É evidente que temos uma parcela boa de médicos, digna de elogios e respeito, que vem lutando para garantir Saúde para milhões de brasileiros. Mas aos médicos "pancudinhos e tudo pelo dinheiro", está na hora de levar um baita sacoalhão e puxões de orelha até sangrarem!

Anônimo disse...

Um médico que dá plantão corretamente incomoda muita gente, mil médicos que dão plantão corretamente incomodam muito mais...

Anônimo disse...

Esse governo privatizou aeroportos e ainda se diz estatizador?
Palhaçada.

Anônimo disse...

Só falta dizer agora que o governo infiltrou falsos médicos para irem aos aeroportos vaiarem os médicos cubanos...Até parece que só existem médicos incompetentes em Cuba... O autor não deve saber o que é isso, pois certamente possui um belo atendimento de saúde privado.