Celso de Mello: manter a coerência é preciso, sobretudo quando se é juiz. Ele, juiz, a manteve. |
Nelson Rodrigues, o impagável Nelson, dizia que em nenhuma atividade humana a glória e o fracasso, o topo e o nadir andam tão próximos, tão perto um do outro como no futebol.
É que no futebol, ensinava Nelson, o goleiro que agora salva um gol e ganha os aplausos e urros de satisfação de milhares num estádio é o mesmo que, daqui dois minutos, poderá ser apedrejado, cuspido e escarrado pela torcida, se tomar um frango que resultar na derrota de seu time.
Vocês sabem o que acontecem?
Talvez essa situação ocorra não apenas no futebol, mas no Supremo Tribunal Federal.
Querem um exemplo?
Então tomem lá.
Vejam o caso do ministro Celso de Mello, o decano, o mais antigo integrante do Supremo.
Ele é uma das maiores sumidades, senão a maior sumidade do STF, muito embora fale demais, ainda que com brilhantismo.
Celso de Mello durante o julgamento do mensalão, no ano passado, foi objeto até de reportagens especiais, justíssimas, por sinal, eis que vituperou (toma-te!) a corrupção e coisas que tais.
Eis que chegamos agora ao julgamento sobre o virtual, o iminente acolhimento dos embargos infringentes.
Eis que caberá a Celso de Mello - a ninguém menos do que ele - dar o último voto.
Eis que a Celso de Mello caberá a incumbência - gravíssima, admitamos - de pronunciar o voto-desempate.
O que vemos, diante dessa contingência?
Vemos Celso de Mello na mesma situação do goleiro que, no futebol, vai do topo ao nadir, da glória ao cadafalso, do aplauso à cusparada e ao escarro.
Celso de Mello é o próprio goleiro do Supremo.
O próprio.
É que, agora, os mesmos coleguinhas e a mesma boa parte da opinião pública que elogiava Celso de Mello passou a considerá-lo, de antemão, o vilão, o autor do que seria um vilipêndio imperdoável contra a boa imagem do Supremo.
Por quê?
Porque Celso de Mello, o goleiro do Supremo, caiu na besteira de ser coerente.
Coerente, ele já deixou claro que votará pelo acolhimento dos embargos infringentes.
Coerente, já avisou sem meias palavras que vai repetir o posicionamento que expôs em agosto de 2012, quando se pronunciou em defesa da tese da validade dos embargos infringentes.
A propósito, vejam o vídeo abaixo.
Louve-se a dignidade do ministro, do juiz, do julgador Celso de Mello.
Ele está certo.
Ele precisa ser coerente, meus caros.
Deve preservar a coerência.
Você aí, diga sinceramente: você acha que mereceria algum crédito um juiz, um julgador que no lapso de apenas um ano mudasse de opinião apenas para agradar a uma parte da torcida, da galera, da arquibancada?
Celso de Mello, o goleiro do Supremo, merece o respeito por ser coerente.
Conteste-se o mérito de seu entendimento, de seus juízos.
Mas reconheça-se - e respeite-se - a sua coerência.
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