sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Nós, jornalistas, somos arrogantes. Ou não?

Luís Roberto Barroso: ele nos confronta a nós, jornalistas, com nossas arrogâncias. E ainda faz perguntas das mais
instigantes. Perguntas que jornalistas gostariam de fazer, mas não gostam que lhes façam (foto de Felipe Sampaio/STF)
Vamos falar sem rodeios.
Vamos, aqui, falar sem hesitações.
Vamos, de preferência, falar no português de Portugal. Ou do Brasil mesmo.
Falemos, pois, sem rodeios, sem hesitações. Em português. E no estilo direto, tipo assim: Ivo viu a uva.
Falemos simples e direto: nós, jornalistas, somos uns arrogantes.
Nós, jornalistas, nos achamos os donos da última palavra.
Nós, jornalistas, não raro queremos ser heróis, celebridades. Nem que seja por 15 minutos.
Nós, jornalistas, ficamos fulos - fulíssimos - da vida quando alguém diz que nossos pitacos e nada são a mesmíssima coisa.
Muito de nós, na condição de formadores de opinião - seja lá o que isso ao certo signifique -, não suportamos que alguém diga que as nossas opiniões que se lixem, quando não se sustentarem diante das leis e do bom senso.
Somos assim muitíssimos de nós, jornalistas.
Às vezes, politicamente corretos como muitos - ou alguns - de nós, dizemos que o império das leis, da legalidade e do Estado de Direito é que deve prevalecer, acima de nossas preferências políticas, de nossas distinções pessoais, de nossas crenças, simpatias e antipatias. Mas isso é só papo furado. E só para acharem que somos isentos.
Pois é.
Ontem, durante a sessão do Supremo que praticamente admitiu com válidos os embargos infringentes, o ministro Luís Barroso disse o seguinte:

"Como quase tudo que faço na vida, faço o que considero certo. Sou um juiz que me considero pautado pelo que é certo, correto. O que vai sair no jornal do dia seguinte não faz diferença para mim".

Disse mais, Sua Excelência:

"Fico muito feliz quando uma decisão do tribunal constitucional coincide com a opinião pública. Mas se o resultado não for (coincidente), aceito a responsabilidade do meu cargo. Não julgamos para a multidão, julgamos pessoas."

E acrescentou uma pergunta. Uma pergunta dirigida a qualquer pessoa, inclusive a você aí, que nos lê. Eis a pergunta:

“Precisamos considerar as pessoas. Então, gostaria de saber, se nós perguntássemos a pessoas, não à multidão: ‘se seu pai, seu irmão ou seu filho estivessem na reta final de um julgamento e na última hora estivessem mudando uma regra que lhe era favorável, para atender a multidão, você consideraria correto?’ A resposta seria ‘não’. Portanto, esta é a minha convicção e por isso eu voto assim. Eu não estou subordinado à multidão, estou subordinado à Constituição.”

Vejam o vídeo:


Pois é.
O ministro Luís Roberto Barroso fez essas indagações.
Pronto.
Em minutos, muitos coleguinhas estavam fulos - fulíssimos - da vida com o ministro.
Mal conseguiam disfarçar a irritação com Sua Excelência, porque ele disse - com linguagem meio transversa, mas disse - que notícia de jornal, que manchete de jornal e nada é a mesma coisa, daí a obrigação do julgador, de portar-se contramajoritariamente, interpretando a lei corretamente para fazer justiça.
Mas, sinceramente, você aí, que nos lê, se tivesse um processo nas mãos de um juiz influenciável - notória e fertilmente influenciável - pelas multidões, você aí ficaria tranquilo diante de um julgador desses?
Responda sinceramente.
Responda não pensando em José Dirceu, Genoino, João Paulo Cunha, nos tucanos do mensalão mineiro e tudo o mais.
Responda pensando em você mesmo.
Responda transportando-se para o lugar de um desses caras.
Tem outra pergunta: "Se seu pai, seu irmão ou seu filho estivessem na reta final de um julgamento e na última hora estivessem mudando uma regra que lhe era favorável, para atender a multidão, você consideraria correto?"
Responda não pensando em José Dirceu, Genoino, João Paulo Cunha, nos tucanos do mensalão mineiro e tudo o mais.
Responda pensando em você mesmo.
Responda transportando-se para o lugar de um desses caras.
Sim, é certo que a nós - e principalmente a nós, jornalistas - será muito difícil de responder sinceramente, né?
Porque nós, jornalistas, somos uns arrogantes.
Nós, jornalistas, nos achamos os donos da última palavra.
Nós, jornalistas, ficamos fulos - fulíssimos - da vida quando alguém diz que nossos pitacos e nada são a mesmíssima coisa.
É assim.
Não deveria ser, mas é.
Ah, sim, jornalista que é, o poster, vejam só, ia se esquecendo de responder às duas perguntas propostas.
Respondamos no português, monossilábica, direta e objetivamente.
"Não" para a primeira.
"Não" para a segunda.
Pronto.
E ponto.

3 comentários:

Anônimo disse...

Para o excelso Barroso eu, você e todos os outros, somos "multidão" ou seja, plebe, populacho, povaréu.
Esse juiz, novato na corte, teve o desplante de defender, em plena sessão, o Genoíno.
O juiz Marco Aurélio o colocou no devido lugar.

Essa notícia é do interesse dos fãs do Ministro Barroso disse...

Grande e Brilhante Ministro Barroso!

Escritório do ministro Barroso faturou R$ 2 milhões sem licitação

Para ler, vide:

http://www.portali9.com.br/noticias/denuncia/bomba-no-stf-ministro-novato-recebeu-r-2-milhao-do-governo-federal

e

http://www.in.gov.br/visualiza/index.jsp?jornal=3&pagina=143&data=12%2F08%2F2013

Anônimo disse...

E o pior que os dois milhões já foram pagos depois que virou ministro. COisa nojenta. Tenho esperanças que a hora do STF vai chagar. As ruas mostrarão.