Todos sabem o que o destemido deputado petista André Vargas fez no verão passado. As férias de janeiro vão lhe custar muito caro. Para curtir o recesso parlamentar em João Pessoa com a família, o deputado falastrão voou no jatinho do doleiro Alberto Youssef (na foto), acusado pela Polícia Federal de comandar um esquema de lavagem de dinheiro estimado em R$ 10 bilhões. Além de trocar mensagens de celular com Youssef para agendar o voo, diz a PF, Vargas discutiu com o doleiro uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Laboratório Labogem, usado pelo investigado para remeter R$ 37 milhões para o exterior. A coisa veio a público, e as primeiras explicações não convenceram a ninguém.
Parece que Brasília existe para sofrer humilhações e desencantamentos com a classe política. Assim, como o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM), cassado por envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o agora ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados Vargas, que sempre gostou de posar de paladino da moralidade, está metido num vendaval de delitos. Foi ele que, em plena sessão solene de abertura do ano legislativo no Congresso, ousou desafiar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, erguendo os punhos cerrados, em repetição a gestos feitos pelos mensaleiros que foram se domiciliar na Penitenciária da Papuda. A cena foi mostrada pela TV e a foto do deboche ganhou as redes sociais e os principais jornais do país. Agora, por ironia da política, quem pode selar o destino político de Vargas é justamente o Supremo, instituição à qual o petista ousou desafiar e fazer troça.
As cercanias do Planalto têm servido para instalações de lavanderias e coisas promíscuas do gênero. Na lavanderia de Vargas, lavam-se todas as espécies de dinheiro sujo e não se limitam às operações de fraudes nas prestações de contas de campanha. Teria muitas ramificações. Em outra ponta da investigação, a PF segue os rastros de empresas em nome de familiares de Vargas. Nas escutas telefônicas divulgadas até agora, o deputado aparece em conversas com o doleiro Youssef cobrando pagamento de comissões a determinados consultores, um deles chamado “Milton”. Trata-se de seu irmão Milton Vargas Ilário e a PF suspeita que outros familiares do petista também tenham sido usados como laranjas.
Contudo, nessa vertente do amplo esquema montado pelo doleiro, a lavagem de dinheiro se daria a partir do uso de empresas de fachada abertas por familiares do parlamentar. Entre as empresas investigadas pela PF, que teriam sido usadas na lavanderia Vargas, encontra-se a LSI Solução em Serviços Empresariais. Foi constituída em agosto de 2011 pelo irmão Leon Denis Vargas Ilário e a mulher Simone Imamura Vargas Ilário, que, depois, trocou de sócio. Em apenas um ano a LSI mudou três vezes de ramo, ampliou seu leque de atuação de pesquisa e consultoria, cobrança, publicidade, organização de eventos, gestão empresarial e até tecnologia da informação. Em seguida o parlamentar e o doleiro comemoram as gestões de parceria entre os laboratórios Labogem, LFM e EMS para abocanhar contrato de até R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde. Isso, sem contar com a agropecuária Adram S/A selecionada com linha especial de crédito do BNDES, no bairro do Jardim Paulista.
Só os néscios não sabem que o deputado petista atuava num esquema de lavagem de dinheiro, para justificar recursos de origem duvidosa que irrigaram suas campanhas eleitorais. Uma reunião extraordinária do PT será marcada para esta semana e recomenda que Vargas seja submetido ao Conselho de Ética. Se o processo for aberto o deputado poderá ser expulso do partido. Rui Falcão, presidente do PT, defende a renúncia de Vargas.
É preciso dizer a verdade enquanto se pode. Ao passar pelos arredores do Congresso, você que é correto, fique atento e cuidado com lavanderia promiscua, você pode ser surpreendido com um oferecimento: lavanderia Vargas, bom-dia!
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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