Por CHARLES ALCÂNTARA, em seu blog, sob o título acima
Não costumo fazer uso de linguagem chula, mas não encontro palavra mais fiel para expressar o tratamento que os políticos brasileiros, a começar pelo governo federal, dispensam ao Pará: sacanagem!
Assistimos, bovinamente:
a) ao saque de nossas riquezas minerais e vegetais para sustentar o superávit da balança comercial brasileira e atender às “necessidades” do mercado internacional; e
b) ao desterro e flagelo de populações tradicionais (indígenas, ribeirinhas e quilombolas) provocados pelos megaprojetos hidrelétricos para atender ao ambicioso, devastador e concentrador modelo de desenvolvimento.
O Pará vive sob os limites impostos pelos negócios da Vale, que resultam em lucros bilionários para esta e prejuízos irreparáveis ao povo paraense, sem que até agora os nossos representantes políticos tenham se insurgido verdadeiramente a favor dos interesses do Pará e do seu povo.
No caso da Vale, frouxidão, incapacidade e até mesmo cumplicidade criminosa caracterizam o comportamento da maioria dos nossos políticos, o que se expressa na perpetuação da ridícula taxação sobre a exploração mineral. Enquanto no Brasil as mineradoras pagam de 0,2% a 3% do faturamento líquido pela exploração mineral, na Austrália e Índia, potências minerais, as mineradoras pagam, respectivamente, 7,5% e 10% do faturamento bruto.
Não bastassem os cerca de R$14 bilhões, líquidos, sangrados do erário estadual com a famigerada Lei Kandir, agora a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprova proposta de unificação de alíquotas do ICMS que, mais uma vez, ataca as já combalidas finanças do Estado do Pará, na medida em que, mantida a decisão da CAE, o Pará será o único estado da região norte a cobrar a alíquota de 7% do imposto em operações interestaduais, enquanto todos os demais estados da região, que sediam zonas francas ou áreas de livre comércio, manterão a cobrança da alíquota de 12%.
Que representação política ruim a do Pará!
Meu Deus!
Há, individualmente, políticos capazes e com espírito de liderança em nossa bancada federal (deputados federais e senadores), mas o conjunto é ruim e nos representa muito mal.
Na balança entre os interesses e conveniências privados dos “nossos” representantes políticos e o interesse público, pesam mais os primeiros e a balança pende contra o povo do Pará e a favor dos conchavos, das barganhas, do loteamento de cargos, do clientelismo e do fisiologismo.
O grau máximo de interesse coletivo que os políticos que representam o Pará conseguem alcançar é o interesse do “seu coletivo”, da sua corriola, do seu “curral” eleitoral.
Os da base aliada, sempre condescendentes com os desmandos do poder central para com o Pará.
Os da oposição, sempre dispostos a faturar politicamente com os erros e desmandos do poder estabelecido, mais por cálculo político-eleitoral do que propriamente por compromisso com a melhoria da vida do povo.
Nesse jogo, os tais representantes sempre ganham, mas nós, os representados, levamos o “ferro”, não o de Carajás porque os donos deste não são brasileiros, muito menos paraenses.
No conjunto, a safra de representantes políticos do Pará é muito ruim, desarticulada, despreparada, descompromissada com o interesse público e incapaz de se aliar em torno de questões vitais para o presente e para o futuro do Pará.
Enquanto isto, estados do norte e nordeste que, isoladamente, são mais frágeis econômica politicamente que o Pará, tem mais peso e voz no plano nacional.
Se é uma sacanagem o que o Brasil faz com o Pará, mais sacanagem ainda é a representação política que o Pará tem.
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