Jogo Sujo, o mundo secreto da Fifa deveria constar dentre os livros de cabeceira de qualquer jornalista, inclusive os que não suportam futebol e, por não suportarem, não fazem a menor questão de distinguir uma bola de um pé de alface.
É que Jogo Sujo não trata de futebol. Trata de bandidos, de gângsteres, de corrupção, ganância, fraudes, manipulação de resultados, de enriquecimentos ilícitos, de bilhões e bilhões de dólares trafegando no submundo das tramoias, das maquinações e traquinagens mais nauseantes.
E por que Jogo Sujo deveria estar sempre ao alcance da mão de qualquer estudante de jornalismo ou de qualquer jornalista? Porque é jornalismo puro - nas técnicas de investigação, na capacidade de superar obstáculos opostos por quadrilhas dispostas a não ter seus podres revelados, no destemor, na precisão dos dados colhidos e, por último mas não menos importante, no desvendamento de questões que interessam a toda a sociedade.
Mantenho Jogo Sujo bem abrigado nas minhas estantes (veja ao lado) desde que o li, há trocentos anos. E acabo de folheá-lo agora (deplorando a poeira que denuncia o curso dos tempos), logo depois de tomar conhecimento da morte de seu autor, o jornalista escocês Andrew Jennings, aos 78 anos, vítima de uma "doença repentina".
Jennings foi o repórter por excelência. Sua atuação na BBC confirmou isso. Ganhou notoriedade mundial em décadas de trabalho quando passou a denunciar casos de corrupção em alguns dos principais órgãos do esporte mundial, como a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI).
Sua maior premiação, como também o maior atestado de que sempre subordinou seu ofício de jornalista ao interesse público, foi o fato de que suas matérias investigativas, como também seus livros, continham conteúdo de tal forma contundente, como também verdadeiro e incontestável, que ele passou a ser barrado nas entrevistas coletivas que a Fifa concedia.
Por várias vezes, em matérias jornalísticas que assinou, em entrevistas que concedeu e nos seus livros que escreveu, Jennings costumava dizer que os negócios da Fifa fariam corar a Máfia italiana.
Leiam Andrew Jennings - sobretudo jornalistas e estudantes de jornalismo - para comprovarem a veracidade do que ele diz.
Menos mal que a inexorabilidade da morte de personagens como Andrew Jennings não impede que fiquem, como legado, trabalhos de notória excelência, que haverão de servir como bússsolas, como holofotes e referências para gerações vindouras.
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