quinta-feira, 28 de maio de 2020

Diferimento não é desconto. Como um respirador não é um pé de alface.


Diferimento não é desconto. Como um respirador mecânico de um hospital também não é um pé de alface.

Como diria aquele filósofo – que eu não sei quem é, confesso -, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

A Alepa aprovou o Projeto de Lei 74/2020, que estabelece a redução de 30% no valor das mensalidades referentes à prestação de serviços educacionais na rede privada, enquanto durarem as ações de combate ao coronavírus no estado.

O governador Helder Barbalho sancionou o projeto, transformando-o em lei.

Merecem parabéns tanto a Alepa como o governo do Pará?

Acho que sim.

Há milhares de pessoas que tiveram suas dificuldades agravadas nestes tempos de pandemia. Uns mais, outros menos. Mas todos tiveram.

Tudo o que tem sido feito para minorar essas dificuldades, e desde que não fira as leis e a Constituição, precisa e deve ser apoiado.

Este é um detalhe, portanto: Alepa e governo do Pará andam bem ao oferecer essa alternativa legal para minorar as dificuldades que enfrentam milhares de pais cujos filhos estudam em escolas particulares.

O outro detalhe é o seguinte: nem Alepa, nem governo do estado podem falar em desconto de mensalidades.

E por que não podem?

Porque a nova lei não oferece desconto algum.

E sabem disso tanto a Alepa, como o governo do estado e as próprias escolas, como se pode constatar no vídeo acima, que mostra a manifestação da presidente do Sindicato das Escolas particulares do Estado do Pará (Sinepe/PA), Beatriz Padovani.

Desconto é assim.

Você compra um respirador por R$ 126 mil a unidade. O vendedor lhe oferece um desconto de 50%, você paga R$ 63 mil pra ele e acabou. Ponto final. Nunca mais paga nada.

O diferimento seria assim.

O respirador custa R$ 126 mil, você paga R$ 63 mil e os outros R$ 63 mil você vai pagar mais à frente, em módicos e suaves parcelamentos. Você pode até pagar daqui a 40 anos, mas terá que pagar.

Ou seja, diferimento é um adiamento do que você tem que pagar. Mas vai pagar, repito.

Fica claro, assim, que desconto é uma coisa. Diferimento é outra.

Quando se reforça o termo desconto, dissemina-se a falsa, errônea ideia de que, durante o período da pandemia, quem paga R$ 1 mil de mensalidade, pagará, digamos, R$ 700 por dois ou três meses e tudo ficará por isso mesmo.

Não ficará por isso mesmo, não.

Saibam todos disso.

E não ficará porque os R$ 300 terão que ser pagos mais à frente, parceladamente.

Se tiverem dúvida, assistam quantas vezes quiserem ao vídeo.

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