Chico Buarque: ele deixa de ser um gênio da música brasileira por ser, ideologicamente, um troglodita? |
Assinada pelos repórteres Emiliano Urbim e Eduardo Graça, a matéria discute, essencialmente, o seguinte: como lidar com a obra de artistas cuja postura condenamos? Podemos separar criador e criação? Devemos?
Essas questões sãos mais relevantes diante dessa onda - de dimensões tsunâmicas - em que casos de assédio sexual, muitos deles ocorridos há vários anos, estão sendo revelados agora e depõem contra a integridade moral de produtores, atores, escritores, apresentadores de TV e outras celebridades.
A matéria cita, de forma emblemática, Woody Allen.
Nos anos 1990, quando era casado com Mia Farrow, ele trocou a mulher pela jovem Soon-Yi Previn, filha adotiva da atriz. Anos depois, Dylan Farrow, filha adotiva de Mia e do próprio Allen, acusou o pai de ter abusado sexualmente dela quando tinha 7 anos. O diretor negou. No ano passado, Ronan Farrow, outro filho de Mia, publicou na revista “New Yorker” a reportagem que que confirmou as acusações da irmã, levando o caso Allen ao tribunal das redes sociais.
Outro caso, que a matéria não cita, mas que o Espaço Aberto destaca por envolver o posicionamento político de certas pessoas: Chico Buarque de Holanda.
Chico faz versos de arrepiar - corações, mentes e sentidos -, ora pelo lirismo, ora pela sutileza com que é capaz de sugerir que o país vive numa ditadura, das brabas, sem dizê-lo escancaradamente, como ocorreu com suas composições durante a ditadura militar, nos anos 1960-1970.
Mas esse Chico Buarque é o mesmo, por exemplo, que se apresenta como o primeiro a apor sua assinatura em abaixo-assinados em favor de regimes odiosos, sanguinários e assassinos, como o de Cuba, que matou centenas de milhares de pessoas e manteve sob a mesma selvagem censura toda a intelectualidade cubana. A mesma censura que Chico censurou por aqui, quando se opôs à ditadura militar direita, também odiosa, sanguinária e censória.
Apresentados esses dois casos, indaguemos: temos - ou devemos - desconhecer e passar a odiar as obras de Woody Allen e Chico Buarque, porque eles, em suas condutas pessoas, fizeram ou fazem, a nosso juízo, coisas detestáveis?
O repórter particularmente, já disse aqui, que vêm em Chico Buarque um imbecil político. A propósito, leia a postagem Chico: o artista admirável e sua imbecilidade ideológica, postada aqui em janeiro de 2016.
Mesmo assim, não tenho como deixar de considerar Chico Buarque um dos mais geniais compositores brasileiros em todos os tempos. E já estou até pensando em que encontrar um espaço na agenda pra assistir algum show da turnê dele, neste ano.
Mesmo assim, não tenho como deixar de considerar Chico Buarque um dos mais geniais compositores brasileiros em todos os tempos. E já estou até pensando em que encontrar um espaço na agenda pra assistir algum show da turnê dele, neste ano.
E Allen? Já vi todos os seus filmes. E quero ver outros tantos. O que não me impede que ter feito o que fez - e ainda que ele negue - seja odioso.
E Gary Oldman. Sua atuação em O Destino de uma Nação , é simplesmente fantástica, soberba. Mesmo que ele já tenha enfrentado acusações - não comprovadas - de assédio sexual.
Não é assim que tem de funcionar?
E Gary Oldman. Sua atuação em O Destino de uma Nação , é simplesmente fantástica, soberba. Mesmo que ele já tenha enfrentado acusações - não comprovadas - de assédio sexual.
Não é assim que tem de funcionar?
Ou nós, quando entramos numa livraria e escolhemos um livro, devemos primeiro pesquisar o nível de pureza d'alma do autor ou autora?
Quando queremos ir assistir a um filme, precisamos antes saber se atores, produtores e diretor já estão no panteão dos heróis imaculados ou se cometeram deslizes há um ano ou há 30 anos?
Putz!
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