Vamos falar sério, sem brinca!
Vamos falar sem hipocrisia.
Sem essa chatice, essa imbecilidade, essa
hipocrisia do politicamente correto, em
que o hipócrita defende rouxinóis para o distinto público assistir e se
enternecer, mas mata o gato, dá bicuda no cachorro e bate na mulher quando
chega em casa.
Respondamos, portanto, monossilabicamente, a
essa pergunta: você queria, num final de semana, um Carnaval na porta da sua
casa – literalmente na porta? Sim ou não?
Você, que gostaria de descansar num fim de
semana, aceitaria que milhares de foliões, alegríssimos, relaxadíssimos,
extasiadíssimos com os acordes da folia inocente (oohhhh!) e embriagadíssimos
(ou quase isso) passassem várias horas berrando na porta da sua casa,
indiferentes se ali estão, por exemplo, pessoas idosas que precisam de sossego?
Você gostaria que a porta da sua casa virasse um
mictório a céu aberto, com alegríssimos foliões expondo sua genitália sem
maiores pudores, enquanto se aliviam
onde for possível – no caso, repita-se, bem na porta da sua casa?
Respondam monossilabicamente: “sim” ou “não”.
Não expliquem, apenas respondam: “sim” ou “não”.
Por um momento apenas, não sejam politicamente
corretos.
Vamos, por um segundo apenas, despir-nos de
nossas hipocrisias, mesmo as defensivas, mesmo aquelas aceitáveis e perdoáveis
socialmente.
Vamos reponder.
Pois eu respondo logo, antes de vocês.
Não. Mil vezes não. Um bilhão de vezes não.
Eu não quero Carnaval na minha porta.
Eu não quero berros de foliões na minha porta.
Eu não queria e nem quero gente mijando – sim,
porque bêbados não urinam, não fazem
xixi, eles mijam – na porta da minha
casa.
Eu não queria e nem quero sons de trilhões de
debibéis tonitruando na porta da minha casa.
Se eu adoro Carnaval?
Sim. Adoro.
Se eu gosto de ver foliões alegríssimos,
extasiados com a nossa festa mais popular?
Gosto. Amo!
Se eu apoio o Carnaval?
Mas é claro que apoio – do fundo do meu coração.
Mas adoro, gosto e apoio isso tudo bem longe da
minha porta. Muito longe. A milhares de quilômetros da minha porta.
Isto posto, digo algumas coisas mais.
Digo que é um absurdo, um despropósito, uma
imbecilidade, um desrespeito insistirem com esse Carnaval aos fins de semana no
bairro da Cidade Velha, um bairro tipicamente residencial, em que as residências
estão a um metro – se tanto – da via pública, por onde passam foliões
alegríssimos.
Confira, em O LIBERAL de hoje, a declaração de
um morador da Cidade Velha, identificado como Cleiton Ataíde. Há seis anos, ele
reside na Rua Doutor Assis.
“Agora a gente tem que lembrar que estamos em um
bairro residencial. Não se pode confundir o bairro com missas e patrimônio
histórico, que são dois dos focos de preservação na folia uma arena de
Carnaval. Se o poder público quiser a manifestação, vai atuar para dar uma
ordem. Farão o Carnaval todos os finais de semana, como se fosse um local
propício para isso. Temos pessoas que precisam se locomover nestes dias”, disse
Ataíde.
Na mesma matéria, a comerciante Tainá Taigará
reclama que tem sido forçada a reduzir a quantidade de funcionários, neste mês,
porque nos principais dias de movimento, que são os finais de semana, não
poderá trabalhar.
Ela mencionou também vários casos de abusos
sexuais no meio da rua. “O índice de violência doméstica é altíssimo na nossa
porta. É um monte de homens que abusam das mulheres e das meninas. É necessário
que seja feito algo. Ordenamento é muito além de colocar uma camisa nas
pessoas”, diz a comerciante.
Vocês entenderam bem?
São moradores da Cidade Velha se pronunciando.
Você quer, na porta da sua casa, um Carnaval
assim?
Eu repito: não. Um trilhão de vezes “não”.
Ah, só mais uma coisa.
Fique livre pra responder “sim”. Mas que tal
você já se manifestar também disposto em levar esse Carnaval pra porta da sua casa?
Que tal você aí, que agora curtir a maior festa
popular do Brasil (ooohhhhh!) abrir a sala da sua casa para mijarem nela?
Que tal?
4 comentários:
NUMA PERNA SÓ
Nação saci-pererê:
Um dia falta pão, noutro
Mortadela.
A grana sempre curta, mas o
Povão vai levando a vida.
Em fevereiro tem carnaval,
Risos, muita alegria.
Na quinta-feira pós cinzas
A Nação coloca uma prótese:
Sisuda, começa a fazer alguma coisa.
Ó vida! Até o réveillon estará tão ruim...
Que coisa chata. Ninguém merece.
Muito chato. Ninguém merece
Picuinhas acerca da Pátria do Carnaval & Futebol
Carnaval e futebol, cerveja e cangibrina,
Às certas parcelas desse povo fascina.
Carnaval, quanto despudor desse povo traquina:
Brinca, pula e mija na rua e até em porta de gente-fina.
Os cidadãos ofendidos e com medo, sofrem e chiam na surdina.
Sabem que os mijões são foliões, uma turba agressiva e cretina.
Sobre políticos, politicagens, poder e propina
Nesses momentos a pátria desconhece, nem imagina?
Pátria de fisco onipresente, pagar imposto é um Dever e rotina,
Votar errado é um Direito e triste sina?
AHT
09/01/2018
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