ISMAEL MORAES – advogado
socioambiental
O capitão Gama da Polícia Militar de Barcarena
foi acusado de ter invadido a casa da dona “Socorro do Burajuba”, presidente da
Associação Cainquiama que reúne os moradores das várias localidades de
Barcarena. A entidade é autora da ação judicial na Justiça Federal contra a
multinacional Norsk Hydro, em razão da contaminação do solo e do subsolo que
torna imprestável a água para consumo humano, causando cânceres, diabetes,
doenças de pele e disenterias.
Após dona Socorro
registrar BO na Corregedoria da PM em Belém (onde alega que foi enganada, pois
omitiram o fato de que na ação foi roubado um livro de ata contendo outras
medidas a serem propostas contra a Norsk Hydro), o caso virou objeto de matéria
no blog Ver-o-Fato, do jornalista Carlos Mendes.
Pois nesta
quarta-feira (05), chegou-me um print, supostamente de uma foto de Facebook de
uma pessoa identificada como “Shirley Rosa”, em uma comunidade de que
participam também outra pessoa chamada “Yandalla Martins” e mais outras 75
pessoas. Nesse print, referida “Shirley Rosa” encaminha mensagem atribuída ao tenente-coronel
Camarão, em que ele afirma que “gostaria que os integrantes do grupo
difundissem a informação de que o Cap Gama foi à casa da senhora Socorro do
Burajuba cumprindo ordens minhas”. Daí para diante, sem fazer referência a
inquérito policial, processo criminal ou a alguma ordem judicial, conclui-se
que, unilateralmente, o suposto autor da mensagem, tenente-coronel Camarão,
absolveu um homicida e condenou duas outras pessoas, assim como deu “ordens”
para invadir domicilio e prender uma terceira, o diretor da Cainquiama, Bosco
Martins Junior, a quem já denomina de bandido. Ou seja, as atitudes concretas
do suposto autor das mensagens é o sonho de qualquer ditador.
Para completar, no dia
de hoje, recebi uma outra mensagem de outra pessoa também de Barcarena em que
foi disseminado via o aplicativo WhatsApp que a execução (morte) do líder
popular Bosco Martins Junior está com preço oferecido na corporação da Polícia
Militar local, sendo que, supostamente, haveria prêmios de centenas de milhares
de reais para o comando.
Não irei transcrever
aqui os nomes e os detalhes por não saber da origem da mensagem, mas se torna
preocupante haver idoneidade na sua procedência quando o conjunto factual
oferece verossimilhança: quando em uma mensagem de rede social um suposto
comandante da PM assume que determinou a prática de ordens escancaradamente
ilegais de invasão e prisão – pra quê, se a pessoa não poderia ficar detida
ilegalmente? Seria para colocar o saco e levar para o matagal?
A questão é que
reunirei hoje com os diretores da entidade para encaminhar pedido de prisão ao
Procurador-Geral de Justiça, à Procuradoria Federal dos Direitos Humanos em
Brasília, ao Ministro da Justiça, e, em meu nome, ao Presidente da OAB/PA assim
como ao Conselho Federal da OAB, em razão de que o senhor Bosco Martins Junior
e os demais membros da diretoria da Cainquiama reúnem-se e andam comigo,
colocando-me, como advogado no exercício profissional, em risco de vida.
E o risco de ser morto
pela pistolagem que contamina, como nunca, a Polícia Militar do Pará é
altíssimo.
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