quarta-feira, 20 de abril de 2016

Luiz Braga prepara nova mostra individual em São Paulo


 Luiz Braga inaugura nova exposição individual em São Paulo.
"Sideral", título da mostra, abre no dia 28 deste mês e se estende até 11 de junho na Galeria Leme, na avenida Valdemar Ferreira nº 130, no Butantã (veja aqui a localização).
O cineasta Guilherme Coelho, diretor do longa Órfãos do Eldorado, baseado no livro homônimo de Milton Hatoum e amigo pessoal de Luiz Braga, escreveu um texto de apresentação em que narra seu primeiro contato com a obra do fotógrafo e o fascínio instantâneo que lhe causou.
Leiam abaixo:

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SIDERAL em nós

Deve ter sido em Belém, à beira do Guamá, numa exposição do Arte Pará, onde eu vi pela primeira vez uma foto do Luiz. Olha que sorte: em Belém, no segundo andar da Casa das Onze Janelas, de frente pro rio que é mar. Mas não é o Guamá, é a baía do Guajará. Ali embaixo tinha o Boteco das Onze Janelas, um dos maiores prazeres que vivi. Uma noite fresca, um peixinho, um amor por uma cidade.
Uma cidade a qual voltei, anos depois e pelas mãos do escritor que me deu um filme. Aí conheci o Luiz em carne e osso. Um fim de tarde, lusco-fusco amazônico, havia chovido. Uma luz teimosa. Crepúsculo. Um luz que eu tanto quis roubar pro nosso ‘Órfãos do Eldorado’. Conheci o Luiz em seu atelier, e vimos fotos no computador. E discutimos essa luz do Norte. E o Norte nunca mais saiu de mim.
O Luiz é um imaginário que sempre existiu dentro de nós, e que não sabíamos que estava lá. Tal qual os grandes relatos que nos fundam, os grandes narradores que nos inventam - Nelson Rodrigues e seus canalhas e ingênuos; Clarice e nossas cucas, ensimesmadas e ruminantes - Luiz nos mostra o nosso olhar. E olhamos com encanto, com grandeza, leviana e profundamente.
Em face as suas fotos, eu me vejo exuberante e melancólico. Cheio de vazios. Eu sinto o calor e me sinto sozinho. E tantas vezes me vejo dentro de seu enquadramento, do seu espaço sideral.
Sideral são suas paisagens. Lunares. Em infravermelho. Uma estética que me ajudou a sonhar o verde da Amazônia. O desafio do verde. O desafio do ver.
Uma rede vazia aqui nessa exposição. Mas uma outra rede, esta de 1990, talvez no Guamá (agora, o bairro). Uma rede com uma menina que nos olha. Uma menina virando moça. Uma foto que hoje, segundo ele, seria ‘impossível’: proibida, imprópria. No nosso filme, essa foto, essa menina, virou a Dira Paes.
E pro mesmo filme nos inspiramos num outro retrato: uma outra moça, destrambelhada sobre uma mesa de bar. Também no bairro do Guamá? Pra mim, pra nós do filme, aquela era “Dinaura, em pose de Arminto”. E assim construímos uma linguagem a partir dos personagens de Milton Hatoum. Gente atravessada pelo olhar de Luiz Braga.

Lembro dessa noitinha quando fomos em seu atelier e Luiz nos mostrou a foto de Iara, a senhora das águas, a deusa dos rios. Acho que num igarapé perto de Bragança. O sideral sacro de uma imagem verde, no coração da mata, no coração de todos nós. Assim é a luz do Luiz.

Um comentário:

Luiz Braga disse...

Essa exposição é o resultado de uma conspiração de luzes. Muito obrigado pela postagem e se puder me dar o prazer de uma visita ficarei muito feliz. Abraço, Luiz