A Folha de S.Paulo posicionou-se sobre a crise política.
Em editorial publicado neste domingo (03) em sua primeira página, o que só muito raramente acontece nos grande jornais, defendeu a renúncia da presidente.
"Dilma Rousseff deve renunciar já, para poupar o país do trauma do impeachment e superar tanto o impasse que o mantém atolado como a calamidade sem precedentes do atual governo", diz a Folha no editorial, que você pode ler na íntegra mais abaixo.
No dia 21 de março passado, em postagem intitulada É preciso buscar uma luz no fim do túnel. Mas cadê o túnel?, escreveu o Espaço Aberto:
Dilma Rousseff, a presidente da República, à beira do impeachment por crime de improbidade.
Lula, o ícone - intocável, incontrastável, incomparável e insubstituível - do partido governista, investigado pelo Ministério Público Federal por suposta ocultação de bens e sob ameaça permanente de ter expedido contra si não mais um mandado de condução coercitiva, mas um mandado de prisão.
Michel Temer, o vice-presidente que poderá assumir no caso de impeachment ou de renúncia da presidente, sob o risco de também ser investigado na Lava Jato, após ser citado por Delcídio do Amaral em sua delação premiada.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e terceiro na linha sucessória, denunciado no Supremo no escândalo da Lava Jato e sob o risco de perder o mandato por quebra de decoro.
Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, investigado pela Procuradoria Geral da República por crimes da Lava Jato.
Aécio Neves, senador (PSDB), presidente do maior partido de oposição do País e pré-candidato da presidente da República, sob a iminência de vir a ser investigado pela PGR por suposto recebimento de propinas de Furnas.
E depois do impeachment, se ocorrer, para onde vai o País?
E depois da renúncia, se ocorrer, para onde vai o País?
E depois da cassação da chapa Dilma-Temer, se consumada, para onde?
E se nada disso acontecer, o que acontecerá com o País?
É preciso buscar uma luz no fim do túnel.
Mas cadê o túnel?
É isso.
Com impeachment, o País paralisado como já está. Engessado, como já está. Engolfado em paixões que de consequências imprevisíveis, como tudo indica que será.
Sem impeachment, o País paralisado como já está. Engessado, como já está. Engolfado em paixões que de consequências imprevisíveis, como tudo indica que será.
Para onde se olha, não existe uma liderança, um partido, um segmento que catalise os anseios nacionais - de buscar um túnel e depois uma luz, lá no fim, para que o País possa aspirar à superação desta crise econômica que se agudiza cada vez mais, ao sabor de uma crise política idem.
Para onde se olha, vemos personagens lambuzados na roubalheira desse petrolão.
Para onde se olha, temor rotos falando de esfarrapados.
Novas eleições, até prova em contrário, parece representar o menor dos males.
Para isso, no entanto, seria necessário que tivéssemos lideranças à altura de suas responsabilidades para com a Nação, e não para consigo mesmas ou para com os partidos que representam.
Mas, digam vocês aí, que lideranças são essas?
Fiquem à vontade para nominá-las, por favor.
----------------------------------------------------------
Nem Dilma nem Temer
A presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu as condições de governar o país.
É com pesar que este jornal chega a essa conclusão. Nunca é desejável interromper, ainda que por meios legais, um mandato presidencial obtido em eleição democrática.
Depois de seu partido protagonizar os maiores escândalos de corrupção de que se tem notícia; depois de se reeleger à custa de clamoroso estelionato eleitoral; depois de seu governo provocar a pior recessão da história, Dilma colhe o que merece.
Formou-se imensa maioria favorável a seu impeachment. As maiores manifestações políticas de que se tem registro no Brasil tomaram as ruas a exigir a remoção da presidente. Sempre oportunistas, as forças dominantes no Congresso ocupam o vazio deixado pelo colapso do governo.
A administração foi posta a serviço de dois propósitos: barrar o impedimento, mediante desbragada compra de apoio parlamentar, e proteger o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com problemas na Justiça.
Mesmo que vença a batalha na Câmara, o que parece cada vez mais improvável, não se vislumbra como ela possa voltar a governar. Os fatores que levaram à falência de sua autoridade persistirão.
Enquanto Dilma Rousseff permanecer no cargo, a nação seguirá crispada, paralisada. É forçoso reconhecer que a presidente constitui hoje o obstáculo à recuperação do país.
Esta Folha continuará empenhando-se em publicar um resumo equilibrado dos fatos e um espectro plural de opiniões, mas passa a se incluir entre os que preferem a renúncia à deposição constitucional.
Embora existam motivos para o impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável. Não que faltem indícios de má conduta; falta, até agora, comprovação cabal. Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura orçamentária ainda permissiva.
Mesmo desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva; o impeachment tenderá a deixar um rastro de ressentimento. Já a renúncia traduziria, num gesto de desapego e realismo, a consciência da mandatária de que condições alheias à sua vontade a impedem de se desincumbir da missão.
A mesma consciência deveria ter Michel Temer (PMDB), que tampouco dispõe de suficiente apoio na sociedade. Dada a gravidade excepcional desta crise, seria uma bênção que o poder retornasse logo ao povo a fim de que ele investisse alguém da legitimidade requerida para promover reformas estruturais e tirar o país da estagnação.
O Tribunal Superior Eleitoral julgará as contas da chapa eleita em 2014 e poderá cassá-la. Seja por essa saída, seja pela renúncia dupla, a população seria convocada a participar de nova eleição presidencial, num prazo de 90 dias.
Imprescindível, antes, que a Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal Federal afaste de vez a nefasta figura de Eduardo Cunha –o próximo na linha de sucessão–, réu naquela corte e que jamais poderia dirigir o Brasil nesse intervalo.
Dilma Rousseff deve renunciar já, para poupar o país do trauma do impeachment e superar tanto o impasse que o mantém atolado como a calamidade sem precedentes do atual governo.
2 comentários:
Segundo o antagonista, a Folha quer Lula.
Nem dilma nem temer, só se forem retirados legalmente.
Inventar eleições gerais é golpe, porque implica modificações fortuitas na constituição.
Postar um comentário