Em seus dias de glória,
luxo, elegância, quer em seus hábitos, quer em seus escritos, Oscar Fingal
O’Flahertie Wills Wilde ou, simplesmente, Oscar Wilde, esse irlandês (na foto) que viveu
em Londres e morreu no exílio em Paris em 1900. Foi um dos maiores escritores
da língua inglesa. Assumiu de início a atitude de um dândi. Não estava
preocupado com os pruridos de terceiros, falava e escrevia o que lhe vinha à
cabeça e bebia tudo a que tinha direito. Costumava apresentar-se em público com
seus longos cachos, casaco de veludo, calções, camisa larga de colarinho baixo,
gravata de cores extravagantes. Na mão ou na lapela, sempre um lírio ou um
girassol.
Há um Oscar Wilde em cada
inglês. A palavra estilo tem tudo a ver com os ingleses. Não há nação no mundo
onde o cultivo da aparência se encaixe tão harmoniosamente com o refinamento do
espírito – e a consequência disso é o privilegiado direito que os ingleses se
dão de rir de si mesmos. É o tipo de humor que só eles – com raras exceções –
sabem cultivar, uma mistura de ironia com sarcasmo e malícia. Assim como
geraram um William Shakespeare, a quem o crítico Harold Bloom atribui nada
menos do que “a invenção do humano”. Agora, em abril, está se promovendo uma
série de eventos pelos 500 anos da morte de seu mais ilustre nativo. Mas nem
tudo ali é chá das cinco e troca da guarda da rainha. As tensões éticas e as
dores da modernidade retocam o retrato de um povo especial que, não fosse tão
crítico, cético e até mesmo cínico, poderia acreditar que vive no paraíso. E
não estaria muito longe da verdade.
O figurino do inglês: o
paletó de tweed (cortes finos), o terno risca de giz, o sapato brogue
(resistente), o inseparável guarda-chuva, a capa Burberry e, se você dá
expediente no setor bancário da City de Londres, o inconfundível Bowler hat
(chapéu coco), configuram aquele estilo sartorial que tem na Rua Saville Row o
seu santuário clássico. Ali as pessoas perdem espaço para os magnatas emergentes
de fortuna fácil e estratosférica (os russos à frente). A Inglaterra cultua a
formalidade, ou seja, da “liturgia do vestuário” deriva a paixão pelo uniforme,
seja ele aquele, civil, das escolas secundárias, seja ele as variações inúmeras
das fatiotas militares.
A monarquia é o mais
lucrativo de todos os shows encenados na Inglaterra. Sua cenografia para
turista ver inclui visitas a castelos, desfiles de carruagem, casamentos
principescos, batizado de bebês de sangue azul e, claro, os sucessivos jubileus
destinados a festejar a longevidade de uma rainha que, aos 90 anos, flerta com
a eternidade. Eventos como esses avivam a chama do carisma que envolve a
dinastia de Windsor, e os ritos creditados a uma tradição que nem sempre é tão
tradicional assim assegura longa vida a uma instituição que tinha tudo para ser
uma relíquia.
Poucas nações têm o hábito
de devotar tanto valor à saudável vida do interior, e mesmo quando se vive na
cidade, cultivar com tamanho fervor a arte da jardinagem. O poder público
incentiva e só em Londres há mais de 600 garden squares – praças ajardinadas.
Calcula-se que 29 milhões de britânicos (designação que inclui ingleses,
galeses, escoceses e irlandeses do Norte), ou seja, mais da metade da população
da ilha, são praticantes da jardinagem.
Os anos 1960 integraram, com
inédita vibração, a música trepidante da juventude – com os Beatles e os Stones
disputando a primazia – com a moda libertadora de uma Mary Quant (a da
minissaia) e das lojinhas psicodélicas da Avenida King’s Road, no leito de uma
revolução dos costumes que desculpabilizou o sexo. O pluriculturalismo da
Comunidade Britânica é fato, o fluxo migratório de indianos, paquistaneses,
caribenhos e africanos impregnou nas cidades inglesas uma atmosfera
multiétnica.
Os pubs retratam com muita
fidelidade os ingleses. Sabe-se que eles são chegados a um copo, hoje com jeito
mais civilizado, é verdade, e o pub – de public house – ainda funciona como a
segunda casa da maioria da população da ilha. Há restrições no uso de bebidas,
as portas cerram às 23h00. Discutir esse assunto entre ingleses e como mexer
num vespeiro.
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SERGIO BARRA é médico e
professor
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