Luiz Braga
inaugura nova exposição individual em São Paulo.
"Sideral",
título da mostra, abre no dia 28 deste mês e se estende até 11 de junho na Galeria
Leme, na avenida Valdemar Ferreira nº 130, no Butantã (veja
aqui a localização).
O cineasta
Guilherme Coelho, diretor do longa Órfãos do Eldorado, baseado no
livro homônimo de Milton Hatoum e amigo pessoal de Luiz Braga, escreveu um
texto de apresentação em que narra seu primeiro contato com a obra do fotógrafo
e o fascínio instantâneo que lhe causou.
Leiam abaixo:
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SIDERAL em nós
Deve ter sido em
Belém, à beira do Guamá, numa exposição do Arte Pará, onde eu vi pela primeira
vez uma foto do Luiz. Olha que sorte: em Belém, no segundo andar da Casa das
Onze Janelas, de frente pro rio que é mar. Mas não é o Guamá, é a baía do
Guajará. Ali embaixo tinha o Boteco das Onze Janelas, um dos maiores prazeres
que vivi. Uma noite fresca, um peixinho, um amor por uma cidade.
Uma cidade a qual
voltei, anos depois e pelas mãos do escritor que me deu um filme. Aí conheci o
Luiz em carne e osso. Um fim de tarde, lusco-fusco amazônico, havia chovido.
Uma luz teimosa. Crepúsculo. Um luz que eu tanto quis roubar pro nosso ‘Órfãos
do Eldorado’. Conheci o Luiz em seu atelier, e vimos fotos no
computador. E discutimos essa luz do Norte. E o Norte nunca mais saiu de mim.
O Luiz é um
imaginário que sempre existiu dentro de nós, e que não sabíamos que estava lá.
Tal qual os grandes relatos que nos fundam, os grandes narradores que nos
inventam - Nelson Rodrigues e seus canalhas e ingênuos; Clarice e nossas cucas,
ensimesmadas e ruminantes - Luiz nos mostra o nosso olhar. E olhamos com
encanto, com grandeza, leviana e profundamente.
Em face as suas
fotos, eu me vejo exuberante e melancólico. Cheio de vazios. Eu sinto o calor e
me sinto sozinho. E tantas vezes me vejo dentro de seu enquadramento, do seu
espaço sideral.
Sideral são suas
paisagens. Lunares. Em infravermelho. Uma estética que me ajudou a sonhar o
verde da Amazônia. O desafio do verde. O desafio do ver.
Uma rede vazia
aqui nessa exposição. Mas uma outra rede, esta de 1990, talvez no Guamá (agora,
o bairro). Uma rede com uma menina que nos olha. Uma menina virando moça. Uma
foto que hoje, segundo ele, seria ‘impossível’: proibida, imprópria. No nosso
filme, essa foto, essa menina, virou a Dira Paes.
E pro mesmo filme
nos inspiramos num outro retrato: uma outra moça, destrambelhada sobre uma mesa
de bar. Também no bairro do Guamá? Pra mim, pra nós do filme, aquela era
“Dinaura, em pose de Arminto”. E assim construímos uma linguagem a partir dos
personagens de Milton Hatoum. Gente atravessada pelo olhar de Luiz Braga.
Lembro dessa
noitinha quando fomos em seu atelier e Luiz nos mostrou a foto
de Iara, a senhora das águas, a deusa dos rios. Acho que num igarapé perto de
Bragança. O sideral sacro de uma imagem verde, no coração da mata, no coração
de todos nós. Assim é a luz do Luiz.
Essa exposição é o resultado de uma conspiração de luzes. Muito obrigado pela postagem e se puder me dar o prazer de uma visita ficarei muito feliz. Abraço, Luiz
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