sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Uma nova Salinas é possível?
Os frequentadores de Salinas, fãs incondicionais de suas belezas naturais e os eleitores que elegeram o novo prefeito, já começam a ficar apreensivos com os rumos da nova gestão do município.
É certo que o prefeito eleito, dr. Wagner, recebeu a cidade meio "sucateada" pelos desmandos da gestão "Di mal a pior", que durante 12 anos adotou métodos clientelistas de gerir a coisa pública, adepto que sempre foi da cultura do atraso, além de entender que a prefeitura era uma extensão das propriedades de sua família.
Mas não vale, por causa disso, assumir o discurso da "herança maldita", tão a gosto de alguns "companheiros" gestores públicos, quando se apercebem do grande fosso existente entre promessas de campanha e a realidade dos cofres públicos, quase sempre saqueados pela gestão anterior.
Afinal, ao eleger um novo gestor, seja para prefeito ou governador, a população sofrida sinaliza justamente o desejo de mudanças. Mudanças não só dos métodos velhacos de se fazer política, mas, também, do modelo de gestão da cidade. Nesse aspecto, o povo brasileiro tem sido até muito generoso, pois a cada nova eleição acredita que um novo mundo é possível, apesar dos desmandos de uma classe política que se desmoraliza a cada dia um pouco mais, com apetite voraz de verdadeiros gafanhotos do dinheiro público. É nesse cenário de terra arrasada que os novos prefeitos encontraram o "cofre" das prefeituras de, pelo menos, 80% dos mais de 5 mil municípios brasileiros.
Em artigo anterior - O devedor de promessas -, ao analisar os resultados das eleições municipais/2008, abordamos o surgimento de uma nova classe emergente na política paraense, a categoria dos "doutores", com o seguinte comentário: "No interior do Estado, algumas poderosas oligarquias sofreram duro revés, como os Hage (em Altamira), os Bandeira (em Breves), os Gomes (em Salinas), entre outras. Novas oligarquias surgiram, como a dos Martins, em Capanema. Outras ressurgiram das cinzas, como a dos Palheta, na Vigia. A novidade, no interior, foi a derrota de algumas dinastias pelos "doutores", uma nova classe emergente na política paraense. Tivemos doutores médicos eleitos em Salinópolis( dr. Wagner), em Tucumã (dr. Celso) e em Bom Jesus do Tocantins (dr. Sidney). As urnas, mesmo com resultados ‘contaminados’ pela influência nefasta do poder econômico, ainda deixam lições exemplares.”
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“Salinas cresceu desordenadamente. As invasões e as doenças proliferam diante da falta de saneamento básico. O transporte coletivo é irregular, precário e sujo. A violência também se alastra.”
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A vitória dos "doutores", sem nenhuma experiência política anterior, parece indicar uma tentativa de mudança e também um recado dado pelos eleitores, em forma de crédito de confiança aos médicos, por considerarem que eles são mais sérios e competentes que a maioria dos desacreditados políticos profissionais.
Até pela esperança que sua vitória despertou, na população e nos amigos de Salinas,
entendemos que o dr. Wagner merece um voto de confiança. Ele encontrou a prefeitura praticamente falida, sem dinheiro sequer para uma operação básica de limpeza da cidade. Salinas cresceu desordenadamente. As invasões e as doenças proliferam diante da falta de saneamento básico. O transporte coletivo é irregular, precário e sujo. A violência também se alastra, espalhando a insegurança e o medo entre veranistas sobressaltados.
Muitos já foram assaltados dentro de suas casas, invadidas por hordas de assaltantes armados, que saqueiam tudo, de cara limpa, tal a sensação de impunidade que impera no nosso mais charmoso balneário.
As chuvas copiosas que caíram sobre Salinas nos feriados do Carnaval, com os bueiros entupidos alagando as principais ruas, esburacadas e escuras, os carapanãs sedentos de sangue novo, deram uma péssima impressão aos veranistas de Belém e de outras plagas. Fugindo das folias momescas, os turistas buscavam um recanto de tranqüilidade e de paz.
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“Por que não buscar o patrocínio de grandes empresas, como a Vale, o Banco do Brasil, o Banco da Amazônia, o Grupo Yamada, o grupo Visão, entre outros, para bancarem um projeto de ‘revitalização’ da praia do Atalaia?”
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Vamos tentar reconstruir Salinas, dr.Wagner. Não com medidas provisórias estabelecendo taxas de pedágio para acesso de automóveis à praia do Atalaia. Isso é bobagem. Até porque um prefeito não pode legislar com aquele instrumento, privativo do presidente da República. O que a praia do Atalaia precisa, senhor prefeito, é de que algum agente público coloque ordem naquela imensa "casa de Noca" em que foi transformada por abusados barraqueiros, que privatizaram aquele espaço público, cobrando taxa de consumação mínima R$ 20,00. Isso é um absurdo inimaginável em qualquer território do mundo dito civilizado.
O que Salinas também precisa, dr. Wagner, é de um transporte coletivo regular e decente, com ônibus mais modernos, no estilo jardineira, os mais adequados para uma cidade com vocação e potencial turístico inegáveis.
Que tal, senhor prefeito, buscar ajuda financeira junto à governadora Ana Júlia, via Paratur, que poderia destinar algum recurso de seu orçamento para Salinas, com a economia de algumas viagens de seus técnicos para "vender" o Pará na Alemanha, por exemplo? Aliás, convém lembrar que a governadora é sua "companheira" de partido e uma ardorosa admiradora de Salinas.
Por que não inverter o pólo dessa política e investir mais nas potencialidades de Salinas, a maior vitrine do turismo no Pará?
A falta de dinheiro quase sempre estimula a criatividade.
Por que não buscar , senhor prefeito, o patrocínio de grandes empresas, como a Vale, o Banco do Brasil, o Banco da Amazônia, o Grupo Yamada, o grupo Visão, entre outros, para bancarem um projeto de "revitalização" da praia do Atalaia? Barracas padronizadas, com lixeiras decentes para o lixo da degustação diária poderiam ostentar cartazes publicitários dessas empresas, assegurando-lhes grande retorno do investimento feito, pois não?
De quebra, a prefeitura voltaria a assumir o controle e o ordenamento da praia, hoje privatizada pelos barraqueiros. Todos sairiam ganhando, inclusive os próprios barraqueiros.
Mãos à obra de reconstrução de Salinas, dr. Wagner. O senhor ainda tem crédito de confiança para gastar. Mas lembre-se "que o tempo urge e a necessidade preme". (in Data Venia, livro do autor).
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br
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