A casa abandonada, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, e os curisosos à espera de verem a criminosa: convém não banalizamos os crimes, sobretudo os monstruosos. (As fotos são do Espaço Aberto) |
Quem já não se extasiou lendo A Sangue Frio?
Ou A Fogueira das Vaidades?
Ou Fama e Anonimato?
Ou O Voyeuer?
Ou Frank Sinatra está Resfriado?
Ou Hiroshima?
Ou A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista?
Truman Capote, Tom Wolfe, Gay Talese, John Hersey e Joel Silveira, dentre tantos outros, legaram-nos obras-primas do New Jornalism, aquele estilo de jornalismo literário em que o jornalista, mais do que um simples contador da história, impessoal e imparcial, acaba sendo um dos protagonistas dela.
Eu tenho essas obras aqui na minha pequena biblioteca, juntamente com várias outras do gênero, todas lidas e algumas delas, relidas.
Pois é new jornalism na veia, transposto para o formato narrativo verbal, que o repórter - excelente - Chico Felitti está fazendo em A Casa Abandonada, o podcast da Folha que já é um dos mais ouvidos, senão o mais ouvido, em todo o País.
O trabalho de Felitti é jornalismo puro, que conta a história impressionante de Margarida Bonetti, a brasileira que, juntamente com o marido, escravizou de maneira inacreditavelmente cruel uma empregada doméstica negra, que o casal levou para os Estados Unidos no anos 1980.
Essa história, em si, não é nenhuma novidade.
A novidade é Felitti ter descoberto que Margarida Bonetti é a moradora misteriosa - ou era, porque no momento já saiu de lá - misteriosa de uma casa abandonada que fica em Higienópolis, um dos bairros mais aristocráticos onde se abriga a zelite paulistana.
O repórter descobriu que a mulher fugiu dos EUA para o Brasil depois que começou a ser processada por lá, juntamente com o então marido, e foi se abrigar na casa onde morou com os pais - fincada num terreno imenso, o único em Higienópolis que ainda tem quintal, cheio de abacateiros.
Atração turística - A residência, fincada na Rua Piauí, bem perto da pracinha Vilaboim, virou atração turística.
Depois que o podcast passou a bombar, todo dia, o dia todo, dezenas de pessoas se concentram do outro lado da rua, à espera de verem a moradora misteriosa.
Como estou aqui em São Paulo, para aproveitar a Bienal do Livro, também fui lá para ver a casa e fazer as fotos que estão acima.
Mas não fiquei à espera de ver a criminosa, que chegou algumas vezes a aparecer na janela com a cara emplastrada de um creme branco e até acenava para quem estava em frente à casa.
Não esperei para ver essa mulher porque acho que, quando começamos a tratar criminosos como celebridades, a tendência é de que banalizemos os crimes que cometeram.
E o crime dessa mulher e do ex-marido é monstruoso.
Para saberem os detalhes, ouçam o podcast, que já está no quinto episódio e ainda terá mais dois, conforme o próprio Felitti já adiantou.
Já ouvi todos os episódios até agora.
A história é chocante, mas eletrizante, e merece ser ouvida sobretudo por jornalistas.
Corram pra ouvir.
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