Faltava um laudo – contundente, claro, objetivo
e devastador.
Esse foi o laudo apresentado pelo Instituto
Evandro Chagas, centro de pesquisas dos mais respeitados em todo o País,
atestando a contaminação das águas da região de Barcarena pela mineradora
Hydro, que produz alumina.
Até agora, mesmo enfrentando ações judiciais que
questionam a legalidade da concessão de licenças ambientais, para operar numa
área afetada por restrições que a legislação ambiental impõe, a Hydro vinha administrando,
digamos assim, sem maiores turbulências as denúncias feitas por moradores de
comunidades ribeirinhas, quase todas apoiadas pelo advogado socioambiental
Ismael Moraes, presença frequente aqui no Espaço
Aberto e autor de uma das ações na Justiça Federal, em que a mineradora e o
governo do Pará são réus.
Mas eis que choveu. E choveu muito – a cântaros,
como se diz – em Barcarena, no último final de semana. E o aguaceiro apenas
escancarou uma realidade que, se já não queria calar, porque gritada por pobres
ribeirinhos acossados por indícios físicos decorrentes do consumo de água
tóxica, tornou-se visivelmente clamorosa e escandalosa.
O visível era a cor avermelhada das águas, como
revelaram fotografias aéreas (vejam-nas nesta postagem) de vários pontos de
Barcarena, inclusive no entorno da planta industrial da Hydro. As fotos foram
feitas de um helicóptero que conduziu técnicos da Semas, do Ministério Público
e de outros órgãos, num voo sobre a cidade no sábado e domingo da semana
passada.
Foram colhidas amostras e visitados alguns
pontos da área onde se encontram as bacias da Hydro. E revelou-se que as águas
de Barcarena, sobretudo em três comunidades - Bom Futuro, Burajuba e Vila Nova –
transformaram-se numa salada, numa gororoba, numa poção de metais diversos – nitrato, nitrito, cloro, chumbo e
alumínio, só para citar alguns.
No caso do alumínio, segundo detectaram os
técnicos do Instituto Evandro Chagas, constatou-se que sua presença nas águas
em Barcarena chegou a 25 vezes acima do máximo permitido.
"Essa contaminação é nociva às comunidades
que utilizam os igarapés e rios em busca de alimento, com a pesca, e também o
lazer. Além disso, há a contaminação do meio ambiente como os seres vivos e
plantas", alertou o pesquisador Marcelo Lima, que explicou as conclusões
periciais.
E mais: o técnico afirmou que, como não
conseguia solucionar o alagamento nas áreas internas, a Hydro abriu uma
tubulação clandestina, uma espécie de dreno, para escoar os rejeitos das bacias.
A tubulação despejou os rejeitos no meio ambiente.
Cm esses fatos, a Hydro contamina Barcarena e
contamina-se moral e eticamente, fragilizando-se para um embate que, parece, desta
vez tem tudo para testar até onde chegará a teia de interesses da mineradora
norueguesa em continuar faturas somas bilionárias na exploração de riquezas
minerais no Pará.
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