ISMAEL
MORAES – advogado socioambiental
As mitologias narram tragédias com heróis. Nossa
dura realidade narra apenas tragédias.
A Hydra de Lerna,
na mitologia
grega, era um monstro que tinha corpo de dragão e
várias cabeças de serpente.
Segundo a lenda, as cabeças da Hydra podiam se regenerar; algumas versões dizem
que, quando se cortava uma cabeça, cresciam duas em seu lugar, mas as primeiras
versões da lenda não incluíam essa característica. Havia uma cabeça, mais
forte, venenosa e mais difícil de ser morta.
A Hydra era tão
venenosa que matava os homens apenas de cheirar o seu hálito ou o seu rastro,
em terrível tormento. A Hydra foi derrotada por Hércules,
em seu segundo trabalho.
No Pará, a entidade
Hydro, com poder monstruoso, igualmente possui diversas cabeças políticas de
muitas serpentes, e uma cabeça mais difícil de ser morta – Jatene e seu grupo
no poder, com ramificações na Procuradoria Geral do Estado, na Segurança
Pública, nos órgãos ambientais, no Ministério Público. Ele e Luiz Fernandes
estão entre as serpentes que fazem parte do conjunto de cabeças de serpente
centrais da Hydro. Todos com um veneno e uma perversidade próprios funcionando
para manter a Hydro viva e não se importando com quem vai morrer para isso.
Há uma semana todos
veem o que ocorre na Semas, órgão máximo de proteção ao meio ambiente até então
controlado com imenso poder pela cabeça de serpente Luiz Fernandes:
estruturação criminosa de fraudes, falsidades ideológicas, simulações de
fiscalizações, alteração do sistema de controle por satélite, licenças
forjadas, acobertamento de dreno clandestino, enfim, um conjunto de maldades
planejadas com frieza contra as comunidades envenenadas só imaginável ter
existido no regime nazista.
Em dezembro, a cabeça
de serpente jurídica instalada na Procuradoria Geral do Estado (órgão onde é
difícil encontrar procuradores quem não sejam ou não são advogados particulares
dessa multinacional) defendeu a Hydro perante a 9ª Vara Federal justificando a
construção de bacia de rejeitos químicos sobre a Reserva Ecológica com mais
afinco que os advogados particulares do escritório Silveira e Athias. O titular
da PGE, Ophir Cavalcanti Jr., faz de conta que nada sabe.
Outras cabeças de
serpente agem nos bastidores, mas talvez seja o caso de citá-las em outros
artigos no momento em que destilarem veneno.
O governo Jatene
ultrapassou há muito tempo o limite da indecência. Agora está ultrapassando o
limite da delinquência.
A principal cabeça da
Hydro, o governador Simão Jatene, perdeu de tal maneira a vergonha na cara que,
mesmo com o flagrante do dreno clandestino, do flagrante da “vistoria” da Semas
que concluiu inexistir irregularidades, do flagrante feito por promotores de
Justiça de fraudes nas licenças, ainda teve a desfaçatez réptil em aparecer na
TV defendendo a sua matriz monstruosa e culpar as chuvas pela poluição
mortífera. Tão grande é a sua sofreguidão em amealhar milhões através dos
movimentos sub-reptícios do seu filho Beto Jatene, conhecido operador oficial
do pai nos bastidores das negociatas com o Poder Público no Pará.
Nesta história da
realidade paraense não existe um herói. Se todos os paraenses não se reunirem e
se fizerem heróis de si próprios, a Hydro que nos envenena e nos suga os
recursos, nos levará à morte pela miséria e a violência.
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