A história se faz ainda melhor compreendida
quando se conhece um pouco das condições humanas, essencialmente humanas, que
levam o cidadão, qualquer um, a mover-se em meio às novas realidades que se
estabelecem, inclusive as criadas por eventos revolucionários.
O Fim do Homem Soviético,
da escritora Svetlana Aleksiévitch, ganhadora do Nobel de Literatura em 2015, é
um desses livros essenciais, absolutamente essenciais para que se possa
conhecer a fundo a guinada que ocorreu no início dos anos 1990, portanto, no
final do Século XX, quando a Perestroika e as Glasnost começaram a decretar o
início do fim do império soviético.
O livro reúne uma sucessão de testemunhos de
gente - ou de gentes - que viveram
literalmente na pele a selvageria stalinista e ainda tiveram condições de
presenciar o que seria a alvorada do capitalismo, por muitos tido como a
redenção dos povos soviéticos, então submetidos àquela máxima do a cada um segundo a sua necessidade - a
mais estrita necessidade, vale dizer.
Os testemunhos dos personagens selecionados por Svetlana
Aleksiévitch são chocantes, pavorosos e elucidativos para que o leitor perceba
como uma nova realidade impactou o homem soviético.
Há histórias de todo tipo.
Dos que ainda idolatram o stalinismo até hoje.
Dos que o abjetam.
Dos que sonham com a sua volta.
Dos que jamais se acostumaram a viver numa
sociedade movida pelo lucro e pelo dinheiro.
Dos que não acreditam que a democracia e o
capitalismo permitam ao ser humano projetar
o melhor de suas potencialidades.
Dos que não veem na liberdade o valor mais
relevante num regime democrático.
Dos que acham que o capitalismo, se bem não fez,
fez muito menos mal do que o regime socialista.
Dos que, mesmo vivendo sob o terror da repressão
imposta por mais de sete décadas pelo regime de Moscou, acham que, sim, o russo
só age sob regimes autoritários.
Dos que simplesmente riem, ridicularizam os mais
velhos que viveram sob regimes opressores.
Dos que, como é o caso dos mais jovens, não dão
a mínima para a história de seus ancestrais que viveram sob os horrores do
stalinismo e depois dele.
Há histórias de prisões, de mortes, torturas, de
amores, de esperanças e desilusões, de vínculos partidos para sempre, de
privações e de tentativas repetidas de alcançar um bem-estar que confira mais
dignidade à vida.
Leiam O
Fim do Homem Soviético.
Vale muito a pena.
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