quarta-feira, 26 de julho de 2017

"O Fim do Homem Soviético" é um testemunho chocante da história

A história não é bem compreendida apenas quando se ingressa, a fundo, nas motivações, ideologias e em outras condições quaisquer - econômicas, inclusive - que interferem diretamente para mudanças em curso.
A história se faz ainda melhor compreendida quando se conhece um pouco das condições humanas, essencialmente humanas, que levam o cidadão, qualquer um, a mover-se em meio às novas realidades que se estabelecem, inclusive as criadas por eventos revolucionários.
O Fim do Homem Soviético, da escritora Svetlana Aleksiévitch, ganhadora do Nobel de Literatura em 2015, é um desses livros essenciais, absolutamente essenciais para que se possa conhecer a fundo a guinada que ocorreu no início dos anos 1990, portanto, no final do Século XX, quando a Perestroika e as Glasnost começaram a decretar o início do fim do império soviético.
O livro reúne uma sucessão de testemunhos de gente - ou de gentes - que viveram literalmente na pele a selvageria stalinista e ainda tiveram condições de presenciar o que seria a alvorada do capitalismo, por muitos tido como a redenção dos povos soviéticos, então submetidos àquela máxima do a cada um segundo a sua necessidade - a mais estrita necessidade, vale dizer.
Os testemunhos dos personagens selecionados por Svetlana Aleksiévitch são chocantes, pavorosos e elucidativos para que o leitor perceba como uma nova realidade impactou o homem soviético.
Há histórias de todo tipo.
Dos que ainda idolatram o stalinismo até hoje.
Dos que o abjetam.
Dos que sonham com a sua volta.
Dos que jamais se acostumaram a viver numa sociedade movida pelo lucro e pelo dinheiro.
Dos que não acreditam que a democracia e o capitalismo permitam ao ser humano projetar  o melhor de suas potencialidades.
Dos que não veem na liberdade o valor mais relevante num regime democrático.
Dos que acham que o capitalismo, se bem não fez, fez muito menos mal do que o regime socialista.
Dos que, mesmo vivendo sob o terror da repressão imposta por mais de sete décadas pelo regime de Moscou, acham que, sim, o russo só age sob regimes autoritários.
Dos que simplesmente riem, ridicularizam os mais velhos que viveram sob regimes opressores.
Dos que, como é o caso dos mais jovens, não dão a mínima para a história de seus ancestrais que viveram sob os horrores do stalinismo e depois dele.
Há histórias de prisões, de mortes, torturas, de amores, de esperanças e desilusões, de vínculos partidos para sempre, de privações e de tentativas repetidas de alcançar um bem-estar que confira mais dignidade à vida.
Leiam O Fim do Homem Soviético.

Vale muito a pena.

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