Por ANA DINIZ, jornalista, em seu blog Na rede:
Como muita gente interessada, venho acompanhando de perto o desenvolvimento do zap, e, a partir dele, das chamadas redes sociais, geralmente saudadas como um grande instrumento renovador da comunicação. Para mim, no entanto, é só um novo tipo de comunicação, com suas vantagens e desvantagens. Está criando uma nova linguagem, quase criptográfica, em que os símbolos e abreviaturas substituem boa parte das palavras. Não conseguiu ainda vencer a divergência dos alfabetos, mas está caminhando para isso. É muito rápida, mas...
... as pessoas em breve descobrirão o que todo profissional de letras sabe: quem escreve como fala está sujeito a um bom número de incompreensões. Isto porque a palavra oral é acompanhada de vários outros sinais corporais que reforçam e explicam os conteúdos. Uma sobrancelha levantada que acompanhe uma frase dá o tom da ironia, da mesma forma que um sorriso abranda um dito mordaz. No visor eletrônico a intenção se perde: então é preciso mais cuidado com o que se escreve do que com o que se diz.
... não há diálogo entre mensagens. Cada uma é unilateral: você diz o que quer e lê se quiser. Ou interpreta como quiser o que recebe: toda leitura é assim. Uma boa intenção mal redigida ou inoportuna pode ser tomada como um insulto grave. E o insulto escrito sempre fica. É diferente da oralidade, em que a pessoa pode se explicar ao perceber a reação do outro: na mensagem, o outro está distante demais para explicações.
... o poder gerado pela velocidade e aglutinação das conexões é ilusório: parece grande, mas é pequeno. Dizer, mandar mensagens, é fácil: difícil é convencer. O convencimento só ocorre pelo diálogo, impossível no zap. Ao reunir pessoas na rua para uma manifestação, a pessoa que organizou vai descobrir que elas vão lá por motivos próprios, muitas vezes bem diferentes na ideia original, apenas para, digamos assim, aproveitar a oportunidade da multidão. Isto porque o zap é apenas uma conexão rápida de indivíduos, não é um partido nem um movimento político.
... a informação é sempre superficial, limitada pelo próprio meio usado. A mensagem só permite poucas palavras: então nada complexo pode ser tratado nela. Não há discurso, há frases curtas, exclamações e só.
... o zap nas redes sociais funciona em ondas ou em marés: uma informação circula em alta velocidade e se quebra na praia. O efeito desta onda é passageiro e, ao terminar, deixa uma impressão – não uma mudança. Marés sucessivas podem alterar alguma coisa no litoral depois de algum tempo. Mas não mudam o litoral todo, senão depois de séculos agindo da mesma maneira.
... o zap se presta maravilhosamente para a intriga e para o boato. Intriga e boato têm uma característica: são mais fáceis de fazer do que de desfazer. No zap isto é mais difícil porque a impressão deixada pela onda não é fácil de ser identificada.
... a intimidade na rede é falsa e, consequentemente, a possível confiança entre integrantes também é. Isto porque a intimidade pressupõe troca de contatos sensoriais: visão, audição, cheiro e, às vezes, tato e gosto. Sem isso não se conhece de fato uma pessoa: pode-se conhecer apenas o que ela diz. Muita gente está descobrindo isto da pior forma.
... a comunicação é fragmentada, porque o meio usado também é. Assim, a rede é ótima para fixar posições, dar rápidas informações ou respostas. É péssima para explicar essas mesmas posições. Em última análise, a rede é limitada ao sim/não. O que é apenas o primeiro estágio da comunicação, porque não há discurso nem raciocínio cabíveis nela. Quem ousar fazer isso estará perdendo tempo e ganhando fama de chato.
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