quarta-feira, 19 de maio de 2021

Contraditório, impreciso e, algumas vezes, mentiroso. Na CPI, Pazuello foi plenamente Pazuello.

Pazuello na CPI: ele pode ter-se saído muito bem nos treinos, mas não no jogo

Treino é treino, jogo é jogo.
Para os boleiros, essa máxima é amplamente conhecida.
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, teve mais de três semanas para treinar o depoimento que prestou hoje e que deverá prosseguir em sessão convocada para amanhã, quinta-feira (20).
E tanto é assim que o jornal O Globo chegou a adiantar, em matéria publicada em abril, que uma força-tarefa foi acionada pelo Planalto para treinar o ex-ministro, preparando-o para o depoimento de hoje.
Eis que Pazuello aparece na CPI da Pandemia. E o que faz?
Confirma a máxima: treino é treino, jogo é jogo.
Nas primeiras duas ou três horas de depoimento, o general até que se saiu bem. Ou saiu-se acima das expectativas, se vocês preferirem outra expressão.
Mas, com o andar do interrogatório, o script que o ex-ministro vinha seguindo conforme seus treinos, começou a colidir com o script do jogo. E aí Pazuello mostrou-se, verdadeiramente, Pazuello.
Incorreu em contradições.
Outras vezes, deu declarações que podem ser classificadas de mentirosas.
Outras mais, incorreu em imprecisões.
Em várias ocasiões, revelou-se dissimulado e escorregadio para livrar a cara do artífice-mor dessa tragédia que assola o País, o cidadão Jair Bolsonaro, dito presidente da República.
Pazuello teve a caradura de dizer que há dois Jair Bolsonaro: um deles é o presidente, o outro é o fanático das redes sociais. E acrescentou uma informação: a de que não extrai ordem do Bolsonaro que milita nas redes.
Isso é ridículo: porque o Bolsonaro das redes é exatamente igual, sem tirar nem pôr, o Bolsonaro que se aboleta no terceiro andar do Palácio do Planalto e de lá imagina estar governando o País.
Como é ridículo e trágico Pazuello tentar demonstrar que ele, pessoalmente, e seu ministério foram presentes e diligentes no caso da crise do oxigênio em Manaus.
A caradura de Pazuello não tremeu nem mesmo quando dois senadores amazonenses, Omar Aziz, presidente da CPI, e Eduardo Braga confrontaram-no com fatos indesmentíveis que confirmaram a negligência do governo federal - como também do governo do Amazonas - na gestão dessa crise.
Até amanhã, quando deverá voltar à CPI para o segundo tempo do depoimento, Pazuello poderá, se quiser, refletir sobre as consequências de não dizer a verdade.
Se o fizer, talvez poderá optar por dizê-la, independentemente de conveniências ou lealdades políticas a que se vê obrigado com bolsonaristas, sobretudo o próprio Bolsonaro.

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