As negociações, claras, indicam um acordo. Mas, e depois? O acordo, se houve, foi quebrado? |
Se o clima entre policiais penais do Pará e seus familiares já era de medo - diante dos atentados que vêm sendo cometidos contra esses profissionais por supostas ordens do crime organizado -, agora é de pavor. Um pavor crescente e generalizado.
O pavor aumentou exponencialmente depois de reportagem exibida neste domingo (4), pelo Fantástico, detalhando um suposto acordo entre uma facção criminosa e a cúpula da Administração Penitenciária do estado, pelo qual, em troca da concessão de alguns privilégios a presidiários (entre os quais a disponbilização de colchões e a liberação de banho de sol e quatro refeições diárias), o crime organizado, através de seus líderes que estão custodiados ou momentaneamente foragidos, suspenderia a escalada de execuções de agentes prisionais e policiais penais, que começou em setembro do ano passado e ainda continua. Só no mês passado, foram três execuções.
A matéria do Fantástico, sobre se houve ou não um acordo, não é elucidativa. Demonstrou-se claramente que houve negociações. Agora, ficam algumas dúvidas - pequenas, admita-se, mas de qualquer forma dúvidas - sobre se houve realmente um acerto entre facção com sede no Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). O próprio repórter, em dado momento, faz claramente essa pergunta: "Existiu mesmo algum tipo de acordo? Ele teria sido quebrado?"
Negociações - A conversa travada entre o tenente-coronel Vicente Neto, comandante de Operações Penitenciárias, com o líder da facção criminosa que se encontra foragido, indica claramente uma negociação. E mais do que uma negociação, aponta que teria havido, sim, um acordo. "A gente tá providenciando. Que são os colchões e o banho de sol", promete o militar. Em troca, um dos líderes da organização criminosa anuncia que dará um salve, um circular, pra parar o que tavam fazendo (sic).
Pronto. Esses elementos poderiam formar a convicção de que, além das negociações, consumou-se um acordo entre criminosos e a administração penitenciária. Até porque, conforme afirma um policial penal que, obviamente, teve o nome preservado, alguns caminhões lotados de colchões chegaram aos presídios (vejam o momento da revelação na imagem acima).
Mas a reportagem demonstra, por outros lado, quatro fatos que podem indicar não ter ocorrido um acordo ou, se acordo ocorreu, acabou sendo quebrado:
1. A Seap garante que os líderes mencionados na reportagem foram transferidos para presídios federais, medida que, sabe-se, merece repulsa das mais violentas entre os membros de facções. É razoável supor-se que um acordo previsse essa medida?
2. O estado afastou o comandante do COP, tenente-coronel Vicente Neto, além de um diretor e um servidor da Seap. Se tivessem mesmo negociado e acordado com os membros da facção sob a chancela e autorização da Seap, eles seriam mesmo afastados? Ou as demissões foram apenas uma cortina de fumaça para encobrir as credenciais de que realmente dispunham para negociar?
3. A Seap, mesmo depois das revelações de um suposto acordo, divulgou esse alerta que aparece aí ao lado. Mas as negociações não tinham como objetivo, principalmente, frear as execuções de policiais penais e estabelecer uma espécie de trégua entre o crime organizado e a Administração Penitenciária? Se esse era o objetivo, por que, então, os riscos de execução continuam? O acordo foi quebrado?
4. Considera-se que são privilégios um preso dormir num colchão, comer quatro vezes por dia e pegar banho de sol. São privilégios ou são direitos preconizados na Lei de Execuções Penais? Negá-los a custodiados é, isso sim, uma violação legal inominável. Como, então, considerar uma concessão do estado respeitar a lei?
As suspeitas que permeiam esse caso são, de qualquer forma, graves, para não dizer gravíssimas. Espera-se que as investigações em curso as elucidem, para tranquilidade e segurança da sociedade e, principalmente, dos policiais penais e de seus familiares, sufocados pelo pavor decorrente das execuções que vêm se registrando desde meados do ano passado.
Um comentário:
Acho que foi nessa gestão atual que aconteceu a maior carnificina em presídios brasileiros, depois do Carandiru aqui em Sampa, que terminou pouco tempo depois fazendo surgir um grupo perigoso que hoje atua até fora do Brasil. Pobre de nós brasileiros que lutamos honestamente para sobrevivermos e pagar nossos impostos.
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