ISMAEL MORAES - advogado
Até esta quarta-feira, o juiz federal Sérgio Moro e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, eram, cada qual a seus discretos modos, os protagonistas responsáveis por movimentar as engrenagens de cujas prensas pingavam os últimos e míseros vestígios de um arremedo de república a que ficou reduzido o Estado brasileiro.
Sobre o que Moro tem feito e o que passou a significar para nossa combalida dignidade como cidadãos, quase todos sabemos, apesar de que os efeitos catárticos das prisões perdem-se no dia a dia de toda sorte de violências, abusos e opressões que nos causam desde a baixa criminalidade, o trânsito, a opressão do Poder Público com impostos, péssimos serviços, enfim.
Mas poucos perceberam a maestria com que Janot moveu as peças no jogo de xadrez em que se transformaram as relações de poder em Brasília: saber o momento exato de usar informações, tanto por ser o momento certo de entregá-las à pessoa certa na imprensa e, através dela e sem divulgação, fazê-las chegar aos ministros do STF, quanto por dominar, como se diz hoje, o time em que o pedido de prisão do senador Delcídio (que é um parônimo, mas quase se tornou homônimo de deicídio, uma vez que seus diálogos esvisceraram relações que jogaram os deuses do STF não ao chão, mas ao subterrâneo...) deveria ser feito.
Após dar como exemplo o que fizeram com Collor, nos costados de quem aplicou seguidas ações penais, não teriam sido manobras da longa manus de Janot a decisão de Renan Calheiros pela votação aberta e a submissão de colocar em votação imediata a manutenção ou não da prisão? Todos os senadores estavam sob a caneta de Janot, que usou o seu poder de denunciar ou não aqueles contra os quais possuía elementos para formalizar acusação até o último minuto, vindo a fazê-lo após, e somente após, conseguir o grande troféu que foi encarcerar o simbólico senador líder do governo.
Também por manobra de Janot, o PMDB está com um dos seus capos (não é possível usar termos como próceres) sangrando há mais de mês. Agora também foram abatidos outros potentados da sigla (Renan, Jader et caterva) denunciados por Janot, após este encurralar num golpe de mestre todo o STF.
Mas agora, quando parecia que não havia mais por onde chutar o cachorro morto em que se transformou o PT, eis que Eduardo Cunha, para tentar ter alguma sobrevida e quem sabe voltar a sentir o gosto daqueles meses de continuado protagonismo mantidos com factóides irresponsáveis, aceita dar seguimento a pedido de impeachment.
Já sabemos quem são os bandidos, mas continuaremos a assistir a luta para ser protagonista ou coadjuvante.
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