terça-feira, 25 de novembro de 2014
Estado de insegurança
É impressionante o número de pessoas que se queixam do mar de insegurança em que estamos vivendo. Não adianta os telejornais informarem abertamente todo tipo de malfeito que vai dilapidando o erário da nação. Depois de uma longa batalha pelas liberdades democráticas, nosso país vive o mais devastador caos de todos os tempos, com fartura de escândalos e a escalada sem controle da violência. Quase a totalidade do tempo de televisão e da mídia impressa é ocupada por essa desenfreada violência e a devastação dos cofres da Viúva. Os discursos da grande maioria dos políticos giram sempre em torno do mesmíssimo, salvo raras exceções. Parece, então, que compreendi e tento entender o eterno transtorno: estamos condenados a nós.
Até as coisas mais comezinhas, como o transtorno de comportamento do juiz João Carlos Correa, que foi parado numa blitz e se valeu do cargo para obter vantagens, deve ser amplamente divulgado. Luciana Tamborini, agente de trânsito, após a 14ª Câmara do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro confirmar a sentença de primeira instância que a condenou a indenizar em R$ 5 mil o juiz João Carlos Corrêa – sem carteira de habilitação, ele foi parado por Luciana numa blitz, disse que era magistrado (a famosa carteirada) e ela lhe respondeu que “juiz não é Deus”. Esse é um retrato do Brasil que não avança, onde os bravateiros possuem privilégios e predomina o discurso do “sabe com quem está falando?”.
Por que a violência aumenta? Estudo aponta número elevado de policiais que matam e morrem no País e serve de alerta para o ciclo de vingança entre bandidos e agentes da lei que só piora a segurança pública. A polícia no Brasil não só está agindo com violência demasiada, como também tem sido uma das vítimas dessa violência, presente em todas as regiões do País. O Brasil tem um enorme desafio pela frente. Em 2013, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, recentemente divulgado, os policiais foram responsáveis por seis mortes por dia. Por outro lado, 490 deles morreram violentamente ano passado. O estudo constata que existe um profundo fosso separando o Brasil das nações desenvolvidas. No Brasil, em cinco anos (2009-2013), 11.197 pessoas foram mortas pela polícia; nos EUA, em 30 anos (1983-2012), 11.090 foram mortas pela polícia; ou seja, a polícia mata muito e morre cada vez mais, segundo a revista IstoÉ, da semana passada.
Na verdade, há a existência em que grupos de policiais, num ciclo de retaliações, criam uma espécie de guerra com organizações criminosas. A gente não só vê algo parecido em São Paulo, como em várias partes do Brasil. Nesses casos, a violência gera um ciclo interminável de crimes. Forma-se uma mentalidade no país de que bandido bom é bandido morto, e essa situação é levada para o interior das milícias. A importância de acordo político reflete-se no ritmo de queda dos indicadores de violência no Estado. Em São Paulo, registrou-se no ano passado a menor taxa de homicídios por sem 100 mil habitantes. Foi um bom resultado diante da alta do indicador em 2012, aumentado pelas disputas e os acertos de contas entre a polícia paulista e o Primeiro Comando da Capital, principal organização criminosa do País.
Outro tipo de violência vem chocando os brasileiros, o mar de lama em que está o Brasil. O governo transformou o País em uma rede de negociatas e falcatruas. A corrupção está desenfreada. Agora, os EUA estão de olho na Petrobras. O Departamento de Justiça americano anunciou que vai investigar a corrupção na estatal brasileira. Entra na história em companhia da SEC, a mais atuante agência reguladora do mercado de capitais americano, que quer descobrir todas as irregularidades. E mais, se a Holanda – a propina que veio da empresa SBM Offshore – fez um acordo com o Ministério público de lá, propondo ressarcir os cofres brasileiros, é porque alguma ilicitude ela cometeu por aqui com o aval da estatal.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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