segunda-feira, 29 de outubro de 2012
O povo só quer justiça
“O universo e a esperteza humana não têm limites, do primeiro não tenho dúvidas”. Carlos Ayres Britto, presidente do STF.
É o assunto do momento. Tenho conversado com muitos amigos, muitos deles advogados, sobre o mensalão. E sempre externam suas opiniões muito bem sustentadas e sem nenhuma miopia. A Imprensa brasileira costuma concentrar sua cobertura política nas denúncias e acusações de corrupção. Trata-se, evidentemente, de uma causa nobre. Diante de tantos escândalos e malversações de dinheiro público, é inegável que precisamos exercer nosso papel de fiscalizar os poderosos.
Mas percebe-se que um grupo - provavelmente da situação - acha que está havendo um “massacre”. Não foi agora, não vai ser nunca. Essa corrente acha que é para atingir a força política do ex-presidente Lula, para fragilizá-lo e ter resultados imediatos nas eleições municipais. Eles acreditam que ninguém vai tirar o oxigênio da situação, porque para a oposição pode ficar mais difícil do que se imagina!
Revista de circulação nacional mostrou, recentemente, uma narrativa que o editor José Alberto Bombig e o repórter Vinícius Gorczeski fazem sobre aquilo que eles mesmos batizaram de “República de São Bernardo”. Trata-se, portanto, da teia de amizades e interesses que liga personagens como o ex-presidente Lula, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e o empresário local Laerte Demachi. É em torno desses personagens que se desenrola um cativante enredo de recuos e pressões em torno do processo do mensalão, o maior escândalo do governo Lula, cujo julgamento está em fase final no STF.
A gente até entende esse tipo de preocupação. Essa técnica de violentar o erário não é um privilégio do Brasil. Mas existe uma crueldade extra em nosso país. A política é uma atividade essencialmente humana. E, antes de ser políticos, os políticos são gente. Revelar características de suas personalidades, preferências pessoais e histórias de vida são algo tão interessante - e importante - quanto desnudar escândalos ou roubalheiras.
Data vênia, não consigo perceber que o ministro Ayres Britto, presidente do STF, permita que o ministro Joaquim Barbosa (ministro-relator), ultrapasse os limites da fidalguia, da elegância e tangencie a brutalidade quando interpela quem dele discorda. Muito pelo contrário, Ayres Britto é um homem tranquilo, controlado e muito elegante. Não faz o tipo manipulador e nem se utiliza de nenhuma movimentação exótica.
Na segunda-feira, 22, assisti ao último item da Ação Penal 470, pela TV Justiça. Por 6 a 4, o STF concluiu que, além de José Dirceu, integraram a quadrilha do mensalão o ex-presidente e ex-tesoureiro do PT José Genoíno e Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério e mais seis pessoas. O ministro Celso de Mello, decano do STF, selou, com o voto mais contundente do dia, a condenação da quadrilha que assaltou os cofres da viúva: “Estamos a condenar não atores políticos, mas protagonistas de sórdidas tramas criminosas. Condenam-se aqui e agora não atores ou agentes políticos, mas sim autores de crimes de práticas delituosas”.
A dosimetria para a população brasileira é que o STF faça justiça. O povo só quer justiça. O PT não conseguiu “desmontar a farsa”. O STF cumpriu com sua missão. O ministro Ayres Britto encerrou uma das sessões dizendo uma frase para se meditar: “Esses fatos estão com as vísceras expostas”.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@ gmail.com
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Um comentário:
Duas considerações:
1. Parem com essa bobagem de chamar o ministro Joaquim Barbosa de destemperado. Qualquer homem honesto, digno, revolta-se ao tratar com bandidos. E dentro do supremo há alguns.
2. Quanto à paráfrase de Ayres Brito, eu não tenho dúvidas de nenhum. E, cuidado, que os espertos podem "provar" (sic) que o universo tem limites.
O Informante Invisível
ET: Paulo, exerça a democracia, publique este comentário.
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