Paulo Lamarão: denúncias contra Jader, que começaram sobre desapropriação no Aurá, depois foram ampliadas e ganharam repercussão nacional (foto extraída do perfil de Vavá Lamarão no Facebook) |
O advogado paraense Paulo Lamarão morreu neste domingo (17), segundo informou, em seu perfil no Facebook, um primo dele, Vavá Lamarão. "Com uma puta tristeza, comunico aos amigos o falecimento, há pouco, do meu primo/irmão Paulo Fernando Neri Lamarão (parceiro de uma vida inteira), ocorrido em Fortaleza", informou Vavá. Até a manhã desta segunda-feira, mais de 350 pessoas haviam feito comentários, todas externando sentimentos de pesar pela morte do advogado.
Especializado em Direito Agrário, Lamarão começou a carreira no escritório de Otávio Mendonça, um dos maiores advogados do Pará, foi professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) e chegou a presidente do Iterpa (Instituto de Terras do Pará).
No início dos ano 80, Lamarão travou um dos mais estrepitosos embates com Jader Barbalho, que então se elegera, em 1982, o primeiro governador do Pará pelo voto direto depois da derrocada da ditadura militar. O confronto entre o advogado e o hoje senador do MDB estendeu-se por mais de duas décadas, rendeu livro, manchetes em jornais, repercussão na Imprensa nacional e respingou em figuras do Judiciário.
No Pará, a maior parte das matérias foi publicada em O LIBERAL, mas também mereceu boa cobertura do segundo maior jornal do estado à época, A Província do Pará, que então integrava o grupo Diários Associados. O Diário do Pará, que estava no início de sua trajetória, já que foi fundado para dar sustentação ao governo Jader, funcionou como o veículo que defendia o governador e contra-atacava Paulo Lamarão.
Escândalo do Aurá - As denúncias feitas pelo advogado tiveram como foco, inicialmente, a desapropriação da chamada Gleba de Conceição do Aurá, na Região Metropolitana de Belém, por 8 bilhões de cruzeiros na época e uma área de 2 mil hectares. O episódio ficou conhecido como o Escândalo do Aurá. Lamarão sustentava que, no curso do processo, apurou-se que as dimensões limitavam-se a apenas 104 hectares.
Autor de 12 ações populares propostas contra o atual senador do MDB, Lamarão mudou-se para Fortaleza em 1989, mas seguiu na cola de Jader e ajudou a abastecer o arsenal de denúncias o senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), cacique baiano do PFL (Partido da Frente Liberal), que deu origem ao DEM. Um dos mais poderosos políticos brasileiros, ACM travou um disputa feroz com Jader Barbalho, forçando-o a renunciar à presidência do Senado, em outubro de 2001, no desfecho de um confronto que incluiu uma das mais violentas (e chulas) contendas verbais já travadas no plenário Senado Federal, envolvendo o presidente da Casa.
Nessa ocasião, as denúncias de Lamarão já haviam ampliado seu alcance. Com base em documentos amealhados nos 20 anos anteriores, o advogado sustentava que Jader teria sido beneficiário de desvios de recursos da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). As novas denúncias também tiveram repercussão nacional, tendo sido veiculadas pelo Estado de S.Paulo e a Rede Globo, entre outros.
Vídeo, cocaína e prisão - Em abril de 2012, viralizou na internet um vídeo postado no YouTube. Durante 1 hora e 18 minutos, Paulo Lamarão conta parte de sua história, reservando cerca de 40 minutos às suas brigas com Jader. O restante inclui imagens do filme Manda Bala (documentário americano dirigido por Jason Kohn, sobre a corrupção e o sequestro no Brasil, premiado no Sundance Film Festival, em 2007.) e outras que remontam inclusive ao lançamento do Plano Collor.
No vídeo, que atualmente não está mais disponível no YouTube, Lamarão contava que perdera tudo. "Só tenho essa casa, onde nós estamos batendo esse papo. O resto eu tive que vender, dada a perseguição. É uma luta [contra a corrupção] meio inglória", dizia Lamarão.
"O Antônio Carlos Magalhães me procurou, mandou emissários aqui e eu dei tudo o que eu tinha contra o Jader. O inimigo do meu inimigo é meu amigo. Naquela época, era preciso derrubar o Jader. Se o Jader não tivesse sido derrubado, quem estaria sentado na cadeia do Michel Temer [então vice-presidente da República], na minha opinião, seria ele, Jader Barbalho. E nós estaríamos correndo um risco muito maior do que agora, com a volta dele ao poder", contava ainda Lamarão.
No vídeo, o advogado se referia à sua prisão, sob a suspeita de envolvimento com tráfico de cocaína. "Eu nunca me envolvi com tráfico de cocaína e nada disso", garantiu o advogado. Ele contou que um amigo seu, de Belém, acusado de traficar cocaína juntamente com uma cabeleireira famosa de Fortaleza, indicou à polícia Paulo Lamarão como pessoa de suas relações, levando a polícia a fazer vinculações entre o advogado e o esquema de tráfico.
Um comentário:
Impressionante ! Já repararam que os maiores desafetos de Jáder Barbalho vão morrendo um após o outro? Salvo engano, não resta mais nenhum. Como diz o caboclo "o homem tem o corpo fechado".... Será ?
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