A Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa)
confirmou, na tarde desta quarta-feira (18), o primeiro caso de um paciente que
contraiu o coronavírus Covid-19 no estado do Pará – um homem de 37 anos de
idade, atualmente se recuperando em casa.
O que está se seguindo a esse anúncio é
verdadeiramente aterrador, assustador, constrangedor e, por último mas não
menos importante, criminoso.
Em postagens nas redes sociais, divulgam-se
imagens e qualificações do suposto homem que seria o portador da doença. E
muitas das postagens, arrogando-se a natureza de jornalísticas, dão-se ao desplante de defender a correção dessa
postura, alegando que o cidadão não tem direito à privacidade.
Parem com isso!
Esse raciocínio é de uma irracionalidade atroz.
Esteja com caxumba, com coronavírus, com calo
inflamado no dedo mindinho do pé, com gota ou com qualquer doença de natureza
mais grave (contagiosa ou não), todo paciente tem direito, sim, à privacidade.
À mais absoluta privacidade.
É o caso da pessoa que primeiramente contraiu a
Covid-19 no Pará. Ele é um cidadão comum. Não há por que expô-lo à curiosidade
pública, a menos, é claro, que ele queira.
Autores dessas postagens hediondas alegam que
não haveria problema em divulgar a identidade dos portadores de coronavírus
porque autoridades têm seus nomes divulgados à farta – como o do presidente do
Senado, Davi Alcolumbre, e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que, conforme se anunciou hoje, testaram positivo
para a Covid-19.
Essa é uma alegação descabida.
Autoridades públicas são autoridades públicas.
Homens públicos são homens públicos.
A natureza das atividades que desenvolvem não
impede que sejam expostos a situações que, contrariamente, não se toleram em
relação ao cidadão comum.
Não fosse assim, presidentes da República, por
força do cargo que exercem, não se veriam obrigados a informar detalhes de
exames que eventualmente fazem. Assim precisa ser feito em decorrência das
prerrogativas constitucionais e institucionais em que se ancoram as atribuições
de quem exerce a Presidência da República.
Mas é diferente em relação a um cidadão comum,
que precisa ter assegurado o seu direito à privacidade.
Mas
não é isso que acontece, infelizmente, quando muitos acabam confundindo
jornalismo com exibicionismo, jornalismo com irresponsabilidade, jornalismo com
crueldade, jornalismo com desrespeito.
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