domingo, 29 de março de 2020

No bairro de Nazaré, um ajuntamento de canalhas desafia o bom senso, as leis e a vida. Porque são canalhas e criminosos.


De cada 100 pessoas que já ouviram falar de Samuel Johnson, 80 não sabem – e provavelmente nem querem saber – quem ele foi.
Mas 90 ou 95 conhecem, seguramente, uma de suas máximas.
Johnson, o poeta, ensaísta e crítico literário inglês que morreu no final do século XVIII, proclamou certa vez a máxima que tem atravessado os tempos – incólume, irretocável e imutável. Porque verdadeira.
“O patriotismo é o último refúgio de um canalha”, disse ele.
Por volta das 10h deste domingo (29), o silêncio aqui no bairro de Nazaré, onde estou confinado com mais duas familiares – uma com 60 anos, como eu, e outra de 33, mas asmática, e portanto também incluída no grupo de risco -, foi quebrado pelos ecos que emanavam de uma carreata promovida por um ajuntamento de canalhas.
Por que canalhas?
Porque atendem a apelos patrióticos de idiotas que manipulam o conceito de patriotismo para atender aos seus piores instintos e intentos.
Porque caem no discurso de que ser patriota é opor-se a comunistas, esquerdistas, petistas, psolistas e outros istas, ou seja, mais de 1,3 bilhão de pessoas que estão confinadas, no Brasil e no mundo inteiro. Ou seja: a pandemia do novo coronavírus Covid-19 teve o condão de descobrir petistas, comunistas e esquerdistas até na Índia, onde (só lá) 1,3 bilhão de pessoas estão confinadas.
São canalhas porque seguem outros canalhas que se arrogam ares de salvadores da Pátria e se dão ao desplante de desafiar, do alto de suas imbecilidades, os mais celebrados cientistas do Brasil e do mundo, que recomendam a todo mundo para ficar em casa, para obedecer ao isolamento social neste momento em que a pandemia grassa.
Os canalhas, esses canalhas a que me refiro, estavam abrigados em seus carros, participando de uma carreata para agradar aos canalhas que os instigam e se escondem, covardemente, no anonimato ou na imunidade das funções parlamentares que exercem.
Os canalhas dessa carreata revelaram a sua indiscutível e refinada canalhice quando pararam seus carros bem em frente ao prédio da TV Liberal, na Avenida Nazaré (percebam o som na filmagem acima, que fiz aqui da janela do meu apartamento). Ficaram ali, parados por uns cinco minutos, acionando com furor suas buzinas. E depois? Foram embora. Simplesmente deixaram de buzinar e foram embora.
Os canalhas - que são canalhas porque, criminosamente, transgridem as determinações para se observar o isolamento social - pararam em frente à TV Liberal, retransmissora da Globo em Belém, porque pretendiam fazer um provocação, demonstrando suas irresignações “contra a Globo”, que eles identificam como a quintessência da oposição ao debochado paranoico que desgoverna este país desde 1º de janeiro de 2010.
São eles, os canalhas, uns idiotas e covardes.
São idiotas porque, ao terem feito o que fizeram, não se opuseram à TV Liberal/Globo. Eles se opuseram ao Brasil, à ciência, aos cientistas, aos profissionais de saúde. Eles se opuseram, enfim, a mais de 1 bilhão de pessoas, em mais de 50 países, que estão confinadas.
São covardes porque, impulsionados pelo espírito de canalhice que os moveu, tentam esconder-se no anonimato para transgredir determinações emanadas dos governos estaduais, inclusive o do Pará, que estão seguindo orientações inclusive do Ministério da Saúde para garantir o isolamento social.
Quantos eram os canalhas que fizeram essa canalhice que acabo de narrar a vocês?
Não tenho ideia.
Daqui da minha janela, não consegui perceber quantos carros – abrigando canalhas – participaram dessa manifestação. De qualquer forma, esses canalhas não merecem nem o apreço, nem o respeito, nem a consideração de ninguém. Porque são uns imbecis.
Eles, os canalhas que participaram dessa manifestação, com a mais absoluta certeza têm contato com idosos com os quais convivem em seu círculo íntimo.
Não entendem que, mesmo se não fizerem parte do grupo de risco, podem, esses canalhas, contrair a doença e transmiti-la aos próprios familiares.
E quando acham que, se morrerem 70 ou são 100 pessoas, isso não será um grande estrago, devem lembrar-se de um fato: uma vida –uma e somente uma – é tão preciosa quanto 50 bilhões de vidas. E deve ser preservada. E deve ser resguardada.
Aos canalhas que participaram dessa manifestação, convido-os a assistir ao vídeo acima. É um vídeo com uma mensagem fortíssima, mas essencial para que percebam o nível a que pode chegar suas canalhices.
Ah, e uma última coisa: a Polícia do Pará deveria identificar esses canalhas, pelas placas de seus carros, instaurar inquéritos, pedir uma ordem de prisão de todos eles e, uma vez – e se – concedida a ordem de prisão, confiná-los todos num mesmo gueto.
O gueto dos canalhas.

Um comentário:

kenneth fleming disse...

E que assinem um termo abrindo mão de serem tratados no SUS ou qualquer outro hospital. Confirma aquele velho ditado : podemos ter dúvidas se o universo é infinito, mas nenhuma sobre a estupidez de algumas pessoas.