Esgotos a céu aberto, obras inacabadas, palafitas, lixo e entulhos nas ruas e canais, água não tratada na maioria das casas da periferia, trânsito caótico e neurótico - são algumas das mazelas sociais e contrastes de uma cidade que prioriza o crescimento vertical, com prédios de até 40 andares, destruindo as áreas verdes e as pontes com a natureza e a qualidade de vida.
Em alguns locais, onde o lixo invade a rua, não dá nem mesmo para distinguir onde começa a pista e onde termina a calçada. . Em outros a pavimentação não chegou e a iluminação pública é tão incipiente que as ruas permanecem escuras. Essa realidade é comum nas periferias da Região Metropolitana de Belém. Não por acaso, a RMB é a pior colocada entre as 15 regiões metropolitanas brasileiras no Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU), de acordo com o Observatório das Metrópoles do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT). As análises foram feitas com base nos dados do último Censo do IBGE.
Esse índice mede a qualidade de vida da população baseado em características especificas da estrutura da cidade, como mobilidade urbana, condições ambientais, infraestrutura, serviços e condições de habitação. Belém ficou avaliada em 0,251, em uma escala de zero a um, classificada como “muito ruim”. Mas para chegar a essa nota, a cidade foi a pior em quatro dos cinco aspectos analisados pelo IBEU. E Marituba foi apontada como a pior cidade nesses quesitos, entre os 289 municípios brasileiros pesquisados.
Os principais problemas indicados pelo índice no município são a falta de infraestrutura e saneamento , esgotos a céu aberto e a falta de espaços para o convívio público.
Esgoto a céu aberto, lixo e falta de arborização
O pior aspecto do bem-estar na Região Metropolitana de Belém ficou para as condições ambientais urbanas, que se refere à arborização, esgoto a céu aberto e lixo acumulado. A pontuação foi de 0,034, índice tão baixo que a pior colocada depois dela, Manaus, foi avaliada com 0,366, quase 11 vezes melhor e, ainda assim, também classificado como “muito ruim”.
Depois da RMB, as regiões com piores colocações no ranking do IBEU são as regiões metropolitanas de Manaus (0,395) e Recife (0,443). Já, no topo da lista, o melhor índice é da Região Metropolitana de Campinas (SP), com IBEU igual a 0,873.
As cidades das periferias das regiões metropolitanas do Brasil são as mais pobres e que enfrentam as maiores dificuldades em áreas como transporte urbano, saneamento básico e saúde pública. Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea) mostrou que os municípios periféricos – no caso do Pará, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Santa Izabel - têm, proporcionalmente, menos recursos financeiros para enfrentar enormes desafios.
O estudo mostra também que há enormes desigualdades entre as regiões metropolitanas. Pode tanto ter alta cobertura de abastecimento de água, chegando a 99,5% dos domicílios em Belo Horizonte, por exemplo, como baixa, no município de Belém, com apenas 75,4% dos domicílios atendidos.
No caso de Belém, os moradores da periferia convivem ainda com a desesperança em soluções efetivas de saneamento diante das obras inacabadas da Bacia da Estrada Nova e do Canal do Tucunduba, com monumentais atrasos e agora também falta de recursos para sua conclusão.
Isso sem falar no atraso das obras do BRT, com mais de 10 anos de execução, com apenas um terço da obra concluída e mais de R$-300 milhões "consumidos". É uma obra mal planejada, pior executada e que tem provocado um alto custo social diante dos atropelos que tem causado, sem resolver os graves problemas de mobilidade urbana de Belém.
Com a prisão do ex-prefeito Duciomar Costa ficou escancarada a principal razão de tantas obras inacabadas e enormes carências em saúde pública: o assalto aos cofres municipais promovido por um gestor ladravaz (eleito e reeleito pelo povo) e sua equipe de assessores rapaces. Mas o que mais espanto causou aos cidadãos/eleitores/contribuintes lesados foi não só a desfaçatez , mas também a facilidade com que se rouba na gestão pública mais de R$-400 milhões sem que nenhum dos muitos órgãos de Fiscalização e Controle visse nada. Para que serve, afinal, o Tribunal de Contas dos Municípios, com tantos cargos e mordomias ? Quantos novos leitos em hospitais públicos poderiam ser criados com essa dinheirama surrupiada ? Quantas escolas municipais poderiam ser reformadas ou ampliadas ? Quantas obras viárias, entre viadutos e anéis viários poderiam ser construídos para desafogar o já travado trânsito de Belém ? E ninguém viu nada ? O atual prefeito, ao assumir, também não mandou fazer sequer uma auditoria de posição para saber o tamanho da responsabilidade e do "rombo" que estava assumindo ? Perguntar não ofende, senhores!
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
Um comentário:
Parece que ele só pediu auditoria no brt, salvo engano.
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