segunda-feira, 16 de abril de 2012

Débil Europa


A União Europeia tem travessia difícil. Numa época em que a corrupção e desmandos falam mais alto. Não existe mais o incorruptível político, calvinista nos comportamentos. Nem é preciso passar por Grécia, Portugal ou Espanha: basta acompanhar a campanha eleitoral na França para concluir que a União Europeia vai mal das pernas. Cada um dos dois principais candidatos, o governista e conservador Nicolas Sarkozy e o socialista e atual favorito François Hollande, critica um dos pilares fundamentais da forma atual da organização - respectivamente a circulação de turistas e trabalhadores e a disciplina fiscal.
Na campanha eleitoral, Sarkozy (27% nas intenções de votos para o primeiro turno em 22 de abril e 44% para o segundo em 6 de maio, segundo a pesquisa Harris de 19 de março), embora seja filho de imigrante húngaro, tenta conquistar a extrema direita xenófoba: exige sanções contra os sócios europeus "tolerantes" quanto à entrada de imigrantes e ameaça retirar a França do Acordo de Schengen, que permite o livre trânsito entre a maioria dos integrantes da União.
Hollande (com 28% para o primeiro turno e 56% para o segundo) critica o pacto fiscal recentemente negociado entre a maioria dos países europeus sob a liderança de Angela Merkel e Sarkozy, que proíbe e pune os déficits fiscais, e promete tirar a França desse tratado se não for renegociado. A candidata a seguir, Marine Le pen (16%), da extrema direita, repudia não só Schengen, como o Tratado de Lisboa e toda a filosofia do supranacionalismo europeu. Rejeita a moeda comum e promete recriar o franco. Sua popularidade está em queda, porque Sarkozy tirou-lhe votos ao aderir em parte à xenofobia.
O liberal François Bayrou (12%), único a ousar defender o aprofundamento das instituições europeias. Para o quinto, o marxista Jean- Luc Mélenchon, "a União Europeia não é mais uma solução, mas um problema, porque o liberalismo econômico corrompeu totalmente a instituição e tornou as mudanças democráticas impossíveis...". Pertence ao Partido de Esquerda. Diz-se inspirado pela Revolução Francesa, pela Comuna de Paris e pelos bolivarianos da América Latina, promete uma "revolução cidadã" e exorta os seguidores a "tomar o poder". Com aceitação entre jovens indignados, está com 11% das intenções de voto e levou 120 mil ao comício na Praça da Bastilha, em 18 de março.
A eleição foi atingida pelo imponderável, uma série de atentados na França com forte impacto emocional e midiático. Em 19 de março, um atirador misterioso matou um rabino e professor e seus dois filhos em frente a uma escola judaica de Toulouse, para em seguida matar uma quarta vítima, uma menina. A motoneta Yamaha T e o Colt 45 pareceram os mesmos usados em 11 de março para matar, na mesma cidade, um paraquedista de origem norte-africana e, na vizinha Montauban, contra outros dois paraquedistas muçulmanos de origem magrebina, que morreram e um afro-francês de Guadalupe, em estado grave no hospital. Cruzando informação com o e-mail usado para atrair e matar o primeiro soldado com oferta de venda da motoneta, a polícia localizou Mohamed Merah, que pretendia no dia 19, matar outro militar e resolveu atacar a escola judaica ao não encontrá-lo. Na madrugada de 21 de março, quando supostamente se preparava para atacar de novo seu alvo militar, a polícia tentou prendê-lo e acabou por invadir o refúgio e matá-lo com um tiro na cabeça.
Frágil Europa. Campanha eleitoral e atentados testemunham o mal-estar na civilização europeia.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Melénchon tem 15% dos votos.
É o terceiro.