Por PAULO SILBER, jornalista
Acaba de ser lançada em Belém, sem muito estardalhaço, a semente de uma verdadeira revolução. Não se descobriu a pólvora, nem a roda ou o fogo. Mas deu-se ao fogo, à roda e à pólvora uma conexão inovadora. Trata-se do site iPará, um portal de anúncios classificados que vai muito além da mera publicação on line de propostas de compra e venda.
Antes dos detalhes, três parágrafos de historinha.
O paparicado John Naisbitt, guru de empreendedores, autor da série “Megatrends”, espécie de cartilha para compreender as tendências irreversíveis no mundo dos negócios, relata no livro “O Líder do Futuro” um paradoxo instigante. Ele revela como o magnata Rupert Murdoch foi capaz de defender dois conceitos antagônicos sem perder a razão: simplesmente, porque teve a sensatez de mudar de ideia. O que é mais raro do que parece, especialmente entre líderes.
Primeiramente, Murdoch vislumbrou que os classificados de jornais impressos seriam uma galinha dos ovos de ouro, como de fato se tornaram. Depois, previu a morte da galinha (que eu, enxerido, prefiro chamar de suicídio). ‘’Não conheço ninguém com menos de 30 anos que tenha alguma vez consultado um classificado de jornal’’, disse Murdoch ao reciclar-se, conta Naisbitt.
A opinião de Murdoch, tido e havido como Midas da indústria editorial, que se tornou maior acionista do New York Post, do Sunday Times, controlador da Fox, SKY, DirecTV e My Space, não é digna de desprezo, muito pelo contrário. Até mesmo, como é o caso, quando se contradiz. Na verdade, quando se permite mudar. Minha maior amiga Jandira Santos tem razão: só os loucos não mudam de opinião, acometidos da síndrome da ideia fixa.
O site iPará não é revolucionário apenas por acreditar na sentença de Murdoch, mas por fundamentá-la. Por seus valores, ele é a prova de que os classificados impressos, do modo que existem hoje, estão a caminho da agonia, o que será de forte impacto no mercado dos jornais, que os mantêm como pilar de faturamento. Não foi por falta de aviso nem de remédio. Os modelos tradicionais estão contaminados por doenças crônicas de gestão, e se recusam ao tratamento, porque o medicamento exige severas restrições, como, por exemplo, a redução das margens de lucro.
É mais ou menos como o diabético que não corta o pudim do cardápio e se recusa a comer sem o enxerto da farinha. Ou o hipertenso que bate ponto na churrascaria, exige a picanha com aquela borda de gordura e ainda ralha com o garçom:
- Cadê o sal?!
Por isso, prefiro dizer que os tradicionais classificados, assim como os próprios jornais impressos, têm tendências suicidas e não a sombra da morte súbita ou precoce. Os jornalões namoram com as mídias sociais como plataforma de propagação, não de conteúdo. Ainda não assimilaram o diferencial necessário para conviver com a internet sem competir com ela – e muito menos copiá-la. Recusam-se a reinventar-se. Esmeram-se em fortalecer-se no presente sem fecundar os nutrientes do futuro.
Existem iniciativas importantes e dignas de aplauso no rumo da reinvenção dos jornais impressos, mas são conjunturais, não essenciais. Não creio, porém, que seja fulminante, nem o ocaso nem o renascimento. Desde que as tímidas mudanças coadjuvantes, digamos assim, virem protagonistas.
Já os classificados tradicionais tendem a sentir mais cedo as sequelas do engessamento. Ainda mais agora, que chega ao mercado um produto capaz de cutrucar as feridas: o iPará, que reúne algumas das características essenciais para a prestação de um serviço muito mais eficiente e dinâmico: convergência, conteúdo personalizado, interatividade, navegação segura, busca inteligente, sistema multiplataforma e multimídia. Além de tudo, transforma custo em investimento, de verdade e não como retórica: quem acessa os serviços poderá tornar-se sócio, com rendimento real, desde que queira fazer parte da rede. É estimulante.
Por tudo isso, como eu disse, o mérito do iPará não é conhecer a roda, o fogo e a pólvora. É a iniciativa de dar um novo rumo a esse conhecimento. Isso se chama sabedoria.
3 comentários:
Desde que ele não seja sócio do iPará, o comentário pode ser tido como inteligente e útil.
Anônimo da 09:39, com certeza o Paulo Silber não é sócio do iPará, nem tem nenhuma relação comercial, nem está ganhando nenhum trocado com seu artigo. Este está com tom de desabafo. Mais uma vez o jornalista demonstra porque é tão admirado pelos que tem amor à escrita, pelo menos os paraoaras.
Jorge Silva
Não sou sócio. Aliás, não tenho nenhuma vocação para vendaa. Mas considero de fato, como disse no artigo, que o iPará promove uma revolução nos classificados. Paulo Silber.
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