Da leitora Adelina Braglia, sobre a postagem Números, trapaças, aborto e vida:
Há uma imensa diferença entre aceitar que a sociedade brasileira coonesta um crime silencioso - a morte de mulheres por abortos de risco - e a precisão numérica dos 200 mil, dos 139.500 ou da negação de que essas mortes ocorram, seja em que proporção for. Obviamente, como isso atinge a parcela socialmente negada e, quase invisível - as mulheres pobres, pardas e pretas, porque as não tão pobres, nem pretas, nem pardas acabam procurando assistência mais adequada do que a da aborteira de ponta de rua os a dos “açougues” vez por outra fechados pela polícia - resgata-se a bandeira da defesa da vida.
Grave é se esconder sob ela uma realidade que é de saúde pública e não de convicção moral ou religiosa. Essas convicções continuarão a ser respeitadas, quando o sistema público abrir suas portas para a realidade: a legalização do aborto jamais imporá que as mulheres que assim o quiserem mantenham suas convicções em qualquer circunstância.
Estudo, do Ipas/Brasil, apoiado pelo Ministério da Saúde, indica que as maiores vítimas do aborto inseguro são as mulheres jovens da faixa de 15 a 29 anos e que as sequelas decorrentes de abortos são a terceira causa da mortalidade materna no país. Dados do Datasus mostram que os abortamentos incompletos levam a 230 mil internações por ano no Brasil somente na rede pública de saúde. Portanto, os argumentos esdrúxulos da esquerda, “assassina de criancinhas” - eita velho chavão... - e da “luta” dos conservadores pela vida não cabem aqui.
Pesquisa executada pelo Ibope, a pedido da organização não governamental Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) , que teve como objetivo investigar junto à população brasileira sua posição em relação ao aborto, em 2010, tem resultados interessantes: a maioria dos entrevistados acredita que nenhuma mulher pode ser obrigada a ser mãe, que 70% concordam que uma mulher possa interromper uma gravidez quando está em risco sua ou quando o feto não tem nenhuma chance de sobreviver após o nascimento e que para 96% da população não é papel do governo prender as mulheres que realizam um aborto nessas condições, mas sim o de oferecer atendimento nos hospitais públicos.
Informa a organização que “apenas 5% da população pesquisada, em média, entende que instituições sociais como: Igreja, o Congresso Nacional, o Poder judiciário e o/a Presidente da República têm direito a decidir sobre o direito de a mulher interromper uma gravidez”. Ou seja, a sociedade evoluiu e a lei está medievalmente cristalizada.
Assim o debate é o aborto legal e assistido como direito inerente à política de saúde pública é o eixo correto. Se é assim que o leitor quer continuar a conversa, estamos aí.
8 comentários:
Eu quero o link pra esses números.
Essa argumentação não tem credibilidade, simplesmente porque não impugnou a argumentação baseada no Censo 2010, que é mais preciso do que qualquer outra pesquisa, já que abrange 100% da população. A história de 200 mil abortos é mentira, criada para tornar o aborto mais aceitável.
Acredito que o número de abortos é o que menos deve interessar neste debate, pois reflete uma visão pragmática e utilitarista que na verdade esconde uma opção ideológica. Explico: como a pessoa não tem coragem (ou até tem, mas sabe que este argumento é rejeitado pela maioria da população) de defender o aborto com base num argumento de princípio (direito da mulher, p. ex.), pois este argumento é bastante rejeitado, apela para um contexto de "crise", como se caso não houvesse a "crise" a pessoa fosse contra o aborto...
Mesmo que fossem verdadeiros esses números, a questão de fundo permaneceria intacta: se a vida inicia com a concepção (Art. 4º do Pacto de San José) e todas as vidas possuem igual valor e dignidade, merecendo respeito e consideração, independente de qualquer fator (estágio de desenvolvimento, viabilidade, idade, cor, sexo, se saudável ou não etc.), torna-se absolutamente inaceitável que se condicione o pleno desenvolvimento de uma vida humana (embrião, feto etc.) à vontade de outra (mãe, pai, família...). Ora, se todas as vidas são iguais, logo uma não pode nunca ter o poder de decidir sobre a outra. E isso é uma questão que não se altera, independente do número de abortos, se mil ou 1 milhão. Ou ainda: a moralidade de um ato não se mede pela sua repetição.
Eu aposto como todos os autores dos comentários acima são homens...
Boa noite, caro Paulo:
atendendo o anônimo das 9:20 e quem mais se interessa pelo tema, sem pré-conceitos:
http://www.cfemea.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3579&catid=219&Itemid=154
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/aborto_e_saude_publica_vs_preliminar.pdf
http://www.social.org.br/DH_2011_ALTA.pdf
Abração, Paulo.
" Magnitude
Um estudo recente sobre a magnitude do aborto no Brasil estimou
que 1.054.242 abortos foram induzidos em 2005. A fonte de dados
para o cálculo da estimativa foram as internações por abortamento
registradas no Serviço de Informações Hospitalares do Sistema
Único de Saúde. Ao número total de internações foi aplicado um
multiplicador baseado na hipótese de que 20% das mulheres que
induzem aborto foram hospitalizadas".
Ou seja, CHUTE!
Bom dia, caro Paulo:
curioso neste debate é a exposição do preconceito!
Quando se faz estimativas de PIB, estimativas de taxas de pobreza ou de corrupção, estimativa do deficit habitacional ou da proporção de veículos que entram no tráfego diariamente, não há questionamento sobre "chutes"!
Quando se trata da saúde da mulher, do respeito ao seu direito de escolha, além de negar-lhe estas possibilidades, exige-se a precisão estatística!
Salve a democracia brasileira e sua hipocrisia explícita.
Abração, camarada.
QUANDO VAMOS APRENDER A RESPEITAR A VIDA?
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